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Silvia Scalzo

Panorama da indústria da construção em aço

Apesar da inflação mais alta e do desafio de maior estabilidade política, o setor de estruturas em aço espera crescimento sustentado nos próximos anos

Construção em aço

O setor de estruturas em aço atingiu produção superior a 1 milhão de toneladas, voltando a patamares atingidos em 2012 | Foto: Getty Images

O PIB da construção cresceu em quase 5% em 2021 e recuperou o nível pré-pandemia, mas precisa continuar crescendo para atender a demanda das famílias por habitação e às necessidades de reposição e de expansão da infraestrutura. Para isso, a construção civil precisa mais do que nunca de soluções industrializadas que aumentem a produtividade do setor.

Aliados à racionalização e à mecanização, o uso de componentes industrializados é essencial para colaborar na melhoria dessa produtividade.  Em função disso, é muito bem-vinda a atualização de informações de mercado de setores como o da construção em aço, cujas entidades de fomento como o Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA) e a Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM) apresentam, com regularidade, panorama dos seus subsetores e da sua evolução, ainda mais ao se considerar a carência de dados e de pesquisas de mercado na construção civil.

Mesmo se levando em conta que as pesquisas dessas entidades tragam dados de 2020, contudo, elas mostram um retrato do setor e as suas tendências. Em relação à produção, o setor dos fabricantes de estruturas metálicas apresentou um crescimento de quase 25% da produção em relação à 2019; desempenho similar alcançou o setor de fabricantes de perfis leves galvanizados (perfis de drywall e de steel framing) com crescimento de mais de 26% em relação ao ano anterior. Já o setor de telhas de aço e painéis para coberturas e fachadas apresentou menor alta entre os subsetores, com crescimento de 4,6% na produção em relação ao ano anterior.

Cabe destacar que o setor de estruturas em aço atingiu produção superior a 1 milhão de toneladas, voltando a patamares atingidos em 2012, ainda assim, aquém da produção de 1,395 milhões de toneladas realizada em 2014, quando, a partir de então, a produção caiu sucessivamente até 2018. Ocorre, portanto, uma recuperação acelerada, que se aproxima dos 25% nos últimos dois anos.

A produção de telhas de aço no período foi de 441 mil toneladas e o setor de perfis leves atingiu produção de 79 mil toneladas, sendo 56 mil toneladas de perfis para drywall, representando aumento de 17,2% em relação ao ano anterior.

Para sustentar essa alta de produção, houve crescimento na capacidade instalada e na contratação de colaboradores em 7,3% no subsetor de estruturas em aço, maior alta dos últimos 5 anos, com 50% dos fabricantes de estruturas aumentando seus quadros. Já no setor de fabricantes de perfis galvanizados, ocorreu aumento de 3,6% no quadro de colaboradores, enquanto no setor de telhas houve queda de 1,7%.

É preciso destacar que o setor de energia absorveu parte significativa da produção dos fabricantes de estruturas. A destinação das estruturas em aço para torres de distribuição, energia eólica e de solar atingiu 50% desse total. Percentual de 9% é dedicado à infraestrutura, pontes, viadutos e passarelas, portos e aeroportos, etc.  

Retirando os segmentos de energia e de defensas metálicas do total da produção, pode-se dizer, a grosso modo, que o restante é empregado em estruturas de edificações que apresentou significativos crescimentos nos últimos dois anos, atingindo 487,4 mil toneladas, sendo 17,5% de crescimento em 2020 e 12% em 2019.

Dados de faturamento bruto mostram que o estimado para os fabricantes de estruturas de aço cresceu quase 50% em relação a 2019, somando R$ 10,56 bilhões sendo que desse montante R$ 3,85 bilhões representam o setor Energia.

Capacitação é chave para o desenvolvimento da construção em aço

Os fabricantes de todos os subsetores relatam suas dificuldades para crescimento que passam entre outros itens, pela melhoria de capacitação de suas equipes. A essa questão, vêm se adicionar aos dados de recente pesquisa da CBIC que mostram que 77% das empresas construtoras apresentam problemas na hora de contratar, uma vez que a mão de obra qualificada é cada vez mais escassa: 65% das empresas têm dificuldade na contratação de mestre de obras e 55% na contratação de carpinteiro.

Essa questão traz uma reflexão em relação à contribuição do setor de estruturas metálicas e componentes em aço poderia dar para tornar os canteiros de obras mais afeitos a operações de montagem de elementos e componentes do que operações de moldagem que exigem maior quantidade de mão de obra. Nesse sentido, atividades e operações de canteiro de obra seriam atribuições da indústria que por sua vez aumentaria a produtividade nos canteiros gerando um círculo virtuoso. Trabalho em fábrica traz mais segurança ao trabalhador e menor risco. Ações setoriais para a melhor capacitação de mão de obra contribuirão para garantir melhorias em sistemas de industrialização de ciclo aberto.

Entre as principais dificuldades externas que afetam o crescimento das empresas, os fabricantes de estruturas citaram na pesquisa o custo da matéria-prima, a alta tributação e a crise financeira. Por sua vez, os fabricantes de perfis leves e os de telhas em aço citaram além do apontado, a concorrência com o material não conforme e a baixa cultura de uso dos seus sistemas.

Algumas das dificuldades expostas são as mesmas dificuldades que as construtoras apontam, como a alta tributação que tira a competitividade da industrialização ao adicionar maior taxação, como o ICMS, em relação a atividades de moldagem em canteiro de obras que tem menor incidência de impostos.

Fazendo um paralelo com estudo de mercado do setor de máquinas e equipamentos – segmento linha amarela – este segmento espera por crescimento de 12% para 2022 em relação a 2021.

O setor de estruturas e componentes em aço para construção tem grande potencial de crescimento considerando as necessidades do País e das famílias. Apesar dos desafios colocados para 2022 com uma inflação mais alta e instabilidade política, espera-se que o setor de estruturas em aço, sustentado por sua maior capacidade produtiva e pela capacidade de fornecimento da indústria siderúrgica tenha finalmente um crescimento sustentado nos próximos anos.


Arquiteta e Mestre pelo Programa ConstruInova (Poli-USP). Atuou por mais de 15 anos no desenvolvimento de mercado da construção, marketing e vendas na indústria siderúrgica. É colaboradora do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA) e da Aliança da Construção Modular.

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