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Eduardo Yuki

Por um fio?

Uma discussão do cenário hidrológico e seu potencial impacto na economia

Reservatório de Furnas

Cenário indica necessidade de medidas preventivas de racionalização do consumo de energia para minimizar o risco de insuficiência no suprimento nos horários de pico | Foto: Getty Images

O baixo volume de chuvas nesse ano e o aumento do consumo de energia elétrica representam um risco para o suprimento de eletricidade nos próximos meses. Qual o risco para a economia? 

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A média dos reservatórios do Sudeste e Centro Oeste passou de 36% em meados de abril para apenas 26% nessa semana, patamar historicamente baixo. Esse baixo volume armazenado de energia é consequência de alguns fatores, como:

  1. Baixo volume de chuvas prejudicou o ingresso de água nos reservatórios. Isso pode ser observado pela ENA (Energia Natural Afluente) abaixo da média histórica desde abril, como mostra a Figura 1.
  2. Aumento do consumo de energia elétrica com a recuperação da atividade econômica. A carga de energia está 10,5% acima do mesmo período do ano passado e 4,9% acima do mesmo período de 2019. 

Para diminuir a necessidade de uso dos reservatórios do SE/CO, algumas medidas de aumento de oferta de energia vêm sendo adotadas pelo governo. A implicação mais evidente até agora foi o acionamento de usinas térmicas, inclusive aquelas com elevado custo de produção. 

As hipóteses usadas para a construção de cenários prospectivos incluem, em primeiro lugar, a geração de 20 GW médios das usinas térmicas de forma ininterrupta até o final do ano, o dobro dos 10 GW médios dos últimos dois anos. 

Além disso, consideramos aumento do uso de outras fontes de energia no segundo semestre, como eólicas (+29% em relação ao segundo semestre de 2019) e solar (+39% em relação ao segundo semestre de 2019). 

Outra hipótese adotada foi o uso intensivo das hidrelétricas das demais regiões do País até que seus reservatórios aproximem de 15%. Também usamos importação de energia da Argentina e Uruguai.

Por fim, adotamos dois regimes de chuvas diferentes. No primeiro caso, utilizamos que a ENA dos próximos meses ficará igual a média histórica, o que chamamos de “clima normal”. Atualmente, a ENA está em torno de 80% da média e extrapolamos essa relação para frente, chamando de “cenário alternativo”. 

Em todos os casos não consideramos a queda de potência que ocorre quando os reservatórios baixam, até porque boa parte das usinas são de fio d’água.

Figura 1.

Fonte: ONS e Safra.

No cenário base, com regime de chuvas dentro da normalidade histórica, estimamos que os reservatórios do SE/CO atingirão 15% em novembro. Isso significa que conseguiremos passar sem restrição de oferta nesse ano, mas precisaremos contar com chuvas consideráveis em todas as regiões do País para garantir o abastecimento em 2022.

No cenário alternativo, em que mantemos o atual padrão de chuvas abaixo da média histórica, a média dos reservatórios do SE/CO poderá atingir 11%, nível crítico. Importante destacar que isso representa o nível médio da região, o que significa que alguns reservatórios poderão estar em patamar inoperante. 

Figura 2. 

Fonte: ONS e Safra.

Portanto, sob as hipóteses descritas, o nível médio dos reservatórios do SE/CO deverá ficar entre 11% e 15% em novembro desse ano. Esses números indicam a conveniência de medidas preventivas de racionalização do consumo de energia para minimizar o risco de insuficiência no suprimento, especialmente nos horários de pico. Além disso, o sistema estará sob stress no final do ano, o que exigirá um bom regime de chuvas para evitarmos um apagão no próximo ano. Enfim, a incerteza energética representa algum risco para a atividade econômica nos próximos meses.  


Eduardo Yuki é Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra. Atua há mais de vinte anos no mercado financeiro. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP.

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