O episódio recente envolvendo a suspensão do patrocínio ao Minas Tênis Clube, pela Gerdau e Fiat, traz uma grande lição para as empresas brasileiras, em geral, que merece reflexão. Ou seja: a pluralidade de gênero representa um caminho sem volta para a construção de uma sociedade menos desigual e que crie um ambiente de negócios mais humano.
Contudo, essas duas bandeiras dependem de mãos firmes e determinadas de outros atores sociais, inclusive do mundo empresarial. Mas, atualmente, a responsabilidade social corporativa, indutora qualificada desse processo de mudança, parece estar a meio pau, na fachada simbólica de muitas organizações – tema central deste artigo.
A meu ver, o aprendizado acima referido sinaliza a necessidade urgente de sacudir a poeira e transformá-la em uma bandeira de inovação capaz de promover iniciativas efetivas contra quaisquer tipos de discriminação, com foco na cooperação e solidariedade. Com isso, alinha-se o marketing institucional ao desafio de remover pedras do caminho da diversidade, facilitando o acesso de empresas inclusivas ao novo mapa dos negócios globais, no cenário pós-Covid-19.
Hoje, é fato consumado que a cultura importa e que as empresas operam em um contexto que extrapolo o horizonte econômico. Na prática, significa que produzir riquezas tornou-se bem mais complexo, pois com o primado da globalização, o conhecimento e o relacionamento desbancaram de vez a fórmula mágica do Fordismo nessa equação.
Dito de outra forma, gerar valor continua sendo o locus da economia de mercado e das próprias empresas, mas agora a massa do bolo demanda ingredientes no mínimo mais picantes, sob a perspectiva sociocultural e econômica. A receita inclui percepção, paixão, inteligência e habilidades, além de uma boa dose de ousadia, para a alavancagem do empreendedorismo. Tais competências são essenciais para desenvolver e gerir organizações sintonizadas com o século XXI, mais orgânicas e flexíveis, a fim de se adaptarem a mudanças e estarem sempre prontas para aprender a apreender.
Não existe regras preestabelecidas para atingir esse imaginário organizacional, mas, com certeza, um dos primeiros passos é sair da inércia, promovendo um salto qualitativo nas práticas relacionais. Afinal, a responsabilidade social corporativa ainda pode fornecer pistas importantes para as organizações visionárias, que se dispuserem a quebrar paradigmas e empunhar bandeiras sociais mais ousadas do que as que foram protagonizadas via empresa-cidadã, slogan que serviu de mote para muitas companhias se reinventarem, na virada do século.
Para contribuir com o enfrentamento desse desafio institucional, aqui vai uma dica resultante da minha reflexão sobre algumas questões cruciais da agenda socioeconômica global, que impactam diretamente as empresas. Estamos na iminência de ter que conviver, de alguma forma, com a falta de insumos e matérias-primas para suprir as cadeias produtivas, haja vista que o consumo atual de recursos, no mundo, já demanda um montante equivalente a um planeta e meio, sem falar em outros percalços decorrentes do aquecimento global.
Pode-se contra-argumentar que as ações socioambientais de algumas empresas, inspiradas na ESG, darão conta do combate de parte dos efeitos mais graves do desequilíbrio da biodiversidade, o que é uma hipótese provável. Vale ponderar também que o avanço da biotecnologia, em parceria com a indústria em nível global, já está viabilizando a transformação de micro-organismos em insumos e produtos acabados, inclusive mais sustentáveis, principalmente em países do Primeiro Mundo.
Porém, a disputa por espaço no planeta também clama por responsabilidade social na busca da inserção dos excluídos desse processo de evolução. Trata-se de 80 milhões de refugiados, cuja realocação e pertencimento desafiam a criatividade de governantes e organizações em geral.
Sabe-se que algumas empresas brasileiras são signatárias de acordos humanitários, no âmbito da ONU, instituindo, internamente, processos de governança que contribuem para distensionar as relações internacionais, protagonizando ações em defesa dos direitos humanos. Contudo, a perenidade e eficácia dessa e de outras estratégias visando o bem-estar coletivo não podem ficar à mercê de iniciativas isoladas de alguns expoentes do mundo corporativo.
Nesse caso, talvez seja útil engrossar o caldo da cultura organizacional, ressaltando ainda mais o pioneirismo em prol da diversidade, manifesto através da atitude das empresas citadas anteriormente. Busca-se desta forma, enfatizar seu recado, inclusive ao traduzi-lo por meio da seguinte narrativa: “quem estiver comprometido com os propósitos aqui elencados, siga em frente”.