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Ilton Caldeira

Saúde, mercado de trabalho e a economia

O cenário atual nos Estados Unidos e no Brasil mostra que será preciso um novo rearranjo social e do mercado de trabalho

trabalho e saúde

A estrategia de business agility é um fator fundamental no sucesso dos negócios | Foto: Getty Images

Em 2021, a chamada Grande Renúncia (Great Resignation, pelo termo em Inglês) foi um dos principais fenômenos a afetar o mercado de trabalho e provocou um desarranjo como há muito não se via no sistema de contratação de mão-de-obra nos Estados Unidos.

Muito se falou sobre os estímulos financeiros governamentais às famílias como sendo, talvez, um dos motivos por trás dos pedidos de demissão em massa verificados no país. Essa seria uma maneira fácil e simplista de expor ou justificar a raíz do problema.

Um raio-X sobre as transformações recentes e aceleradas, verificadas esse ano na economia do trabalho, nos apresentam outros motivadores. Descasamento entre a evolução dos ganhos de produtividade e a remuneração por hora trabalhada nas últimas quatro décadas certamente estão entre eles.

Mas conforme revelou o American Opportunity Survey, pesquisa realizada pela consultoria McKinsey, as questões de saúde têm afetado de forma profunda as relações no mercado de trabalho. Foram ouvidos cerca de cinco mil americanos no outono (primavera no Hemisfério Sul) de 2021.

De acordo com o relatório, quando questionados sobre os motivos para estarem fora do mercado de trabalho, cerca de 30% dos entrevistados mencionaram a saúde física como a principal causa e outros 15% citaram a saúde mental. Ou seja, quase metade dos americanos apontaram que os problemas de saúde figuram entre os principais motivos por estarem sem emprego.

A pandemia abalou as emoções de inúmeras maneiras, afetando o senso de propósito, as conexões sociais e a segurança financeira, entre outros. Desistir do mercado de trabalho, mesmo que temporariamente, pode não ser a melhor decisão. Mas tem sido a forma encontrada por muitos americanos na busca para resgatar algum poder sobre a vida e reequilibrar o bem-estar.

Dados do U.S. Bureau of Labor Statistics, órgão federal americano ligado ao Departamento de Trabalho americano, mostram que entre agosto e outubro deste ano, 12,9 milhões de pessoas, equivalente a mais de 8% da força de trabalho, pediram demissão.

As mulheres, sobrecarregadas ainda mais na pandemia nos cuidados com os filhos, e em empregos de baixa remuneração, estão enfrentando maior esgotamento, com reflexos em taxas de demissões mais altas.

Tanto nos Estados Unidos, como no Brasil, ou em outros lugares do mundo, a realidade é que muitas pessoas não podem se dar ao luxo de pedir demissão e sair em busca de um reequilíbrio e do resgate da dignidade.

O cenário atual mostra que será preciso um novo rearranjo social e do mercado de trabalho e que, talvez a falta de crescimento econômico ou a inflação descontrolada não sejam, sozinhos, os principais motivadores da escassez de mão-de-obra capaz de ocupar as vagas em aberto.

Reequilibrar a saúde física e mental da força de trabalho, abalada pela pandemia, não é algo que se possa conseguir do dia para noite e nem com novas medidas de política econômica. Que os ventos de 2022 nos tragam boas novas, arejando tanto lá quanto cá.


Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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