A atividade econômica e a inflação estão desacelerando ao redor do mundo e os principais bancos centrais devem reduzir as suas taxas básicas de juros neste semestre, o que favorece os países emergentes. Nos EUA, a renda pessoal disponível cresceu apenas 1,1% em julho deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado, a preços constantes, levando a uma moderação no consumo das famílias e nas encomendas das empresas.
A combinação de estabilização da demanda por trabalhadores e o aumento da oferta de mão de obra tem ajustado o mercado de trabalho, possibilitando o aumento da taxa de desemprego para 4,3% no mês passado, ante 3,5% há um ano. Assim, a contenção dos custos trabalhistas ajuda a reduzir a inflação ao consumidor, o que viabiliza o início do ciclo de redução da taxa de juros em setembro.
Na zona do Euro, o modesto desempenho da atividade propiciou uma redução de juros pelo BCE em junho. A persistente retração das encomendas para a indústria alemã continua prejudicando a confiança do empresário local e, consequentemente, levando a aumento do desemprego.
Diante dos desafios para a economia da região, a autoridade monetária europeia deverá reduzir a taxa de juros gradualmente nos próximos trimestres. Na China, a persistente retração do mercado imobiliário mantém a confiança do consumidor em patamar historicamente baixo e prejudica as vendas no varejo, o que tem contribuído para a ausência de pressão inflacionária.
Esse desaquecimento da atividade nas principais economias arrefeceu os preços de commodities e colabora para o processo desinflacionário mundial.
No Brasil, a atividade econômica continuou em expansão no segundo trimestre. Os gastos do governo aumentaram na primeira metade do ano, especialmente quando deslocamos o pagamento de precatórios atrasados realizados no final do ano passado para o início desse ano, o que gerou um importante impulso para a demanda doméstica.
Além desse acerto de contas pontual, houve antecipação de alguns benefícios, como o décimo terceiro salário de aposentados e pensionistas. Mas, ao não se repetirem no segundo semestre e deverem ser acompanhadas de certas restrições no gasto discricionário e arrefecimento no gasto obrigatório, a política fiscal contribuirá para o esfriamento da demanda interna nos próximos meses.
A interrupção do ciclo de queda da taxa Selic e o aumento da taxa de juros no mercado futuro nos últimos meses têm apertado as condições financeiras e a concessão de crédito para pessoa física já estabilizou nos últimos quatro meses.
Esse movimento também colaborará para o desaquecimento gradual do consumo das famílias nos próximos trimestres, incluído na nossa projeção de crescimento do PIB real em 2,5% nesse ano.
As contas externas permanecem saudáveis. O saldo comercial continua robusto e acumulou superávit de US$ 96 bilhões nos doze meses encerrados em julho, com destaque ao aumento do volume exportado de commodities. A conta corrente apresentou déficit de apenas 1,6% do PIB no período, patamar historicamente confortável.
Apesar disso, incertezas sobre o ambiente internacional e local pressionaram a taxa de câmbio neste ano.
A inflação reacelerou recentemente, em parte pelos efeitos adversos da desvalorização da taxa de câmbio. O IPCA acumulado em doze meses ficou em 4,5% em julho deste ano, apesar dos índices de difusão permanecerem em patamar confortável. A expectativa de desaquecimento do consumo ajudará a reduzir a inflação para 4,3% ao final deste ano e para 3,5% no próximo.
No âmbito fiscal, o resultado primário do setor público consolidado acumulado em doze meses apresentou déficit de 2,3% do PIB em junho, incluindo o elevado pagamento de precatórios atrasados e compensações a Estados e municípios em dezembro do ano passado. Excluindo esses dois efeitos pontuais, o déficit fiscal ficou em torno de 1,4% do PIB no período. A contenção de despesas e o efeito de medidas de receitas na segunda parte do ano devem levar o resultado primário para -0,65% do PIB até o final do ano, próxima da meta ajustada à ajuda ao Rio Grande do Sul, de -0,5% do PIB.
O aumento da expectativa de inflação capturado pelo Relatório Focus ao longo dos últimos meses e o pequeno desvio da projeção de inflação do modelo do BCB devem levar o Copom a aumentar a Selic em 0,50 p.p. neste ano, levando-a para 11,00% a.a. até dezembro. A redução das pressões inflacionárias permitirá a retomada do ciclo de redução da taxa Selic em 2025.