Com dimensões continentais, grandes desigualdades socioeconômicas, imensas disparidades das estruturas e recursos de saúde e orçamento limitadíssimo para cobrir o atendimento aos 80% da população que depende do SUS, o princípio constitucional do Brasil de acesso universal à saúde ainda é apenas uma miragem. Se pensarmos em equidade – o que significa não apenas acesso, mas também assegurar a todos os mesmos padrões de cuidado –, é miragem em dose dupla. No entanto, nos nossos diferentes Brasis, também vemos florescer soluções inovadoras baseadas em tecnologia que têm eliminado gaps e construído pontes para a equidade em saúde. Existe luz no fim do túnel. Luz que pode iluminar caminhos não apenas aqui, mas em muitos lugares do mundo – de países pobres da África, onde falta tudo, a grandes potências, onde limitação de acesso e desigualdade no atendimento também povoam seus contextos de saúde.
Por meio de parcerias com o setor público, o Einstein tem levado os ventos transformadores da tecnologia em saúde a diferentes cenários de carências de Norte a Sul do nosso país. Tem criado novas realidades e injetado equanimidade nos cuidados de saúde de populações com necessidades tão diversas quanto aquelas que vivem em áreas remotas da Amazônia ou as que moram em uma comunidade densamente povoada de uma grande metrópole, como é o caso de Paraisópolis, em São Paulo.
Algumas faces dessa experiência do Einstein ganharam um palco importante em uma arena global de compartilhamento de tendências emergentes e tecnologias com impacto social: o SXSW, maior festival de inovação do mundo, com centenas de sessões distribuídas em 26 trilhas temáticas, saúde entre elas.
Selecionamos para levar ao evento iniciativas do Einstein bem diversas umas das outras, reunidas na apresentação “5 maneiras pelas quais a tecnologia pode promover equidade em saúde”. A seguir, trago um resumo sobre elas.
Desenvolvido no âmbito do PROADI-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), o TeleAMES é um projeto que mostra como podemos levar atendimento médico especializado a regiões com vazios de especialistas. Por meio de telemedicina, médicos do Einstein de sete especialidades (cardiologia, endocrinologia, pneumologia, reumatologia, neurologia adulto, neurologia pediátrica e psiquiatria) prestam atendimento remoto a pacientes de municípios da região Amazônica onde são raros os especialistas médicos. Até então, esse tipo de atendimento tinha de ser buscado em cidades maiores, a centenas de quilômetros de distância ou horas de viagem de barco. O TeleAMES já está presente em 200 municípios. Desde novembro de 2021, quando o projeto teve início, já foram realizadas mais de 75 mil teleinterconsultas, com um índice de resolutividade de 99%. Mais recentemente, o projeto foi estendido a municípios do Centro-Oeste.
Outra iniciativa na Amazônia está em fase de implantação. É a criação de um Centro de Inovação e Biotecnologia em Manaus, um novo hub de inovação em saúde a exemplo do que o Einstein já tem em São Paulo. A Zona Franca tem muitas empresas de tecnologia, mas a região carece de centros de ciência e tecnologia com expertise para desenvolver projetos, em especial na área da saúde. A ideia é desenvolver iniciativas de inovação e concretizá-los em parceria com a indústria para criar soluções desenhadas para as necessidades específicas daquela região. Algumas já foram identificadas, como implantação de prontuários eletrônicos padronizados e interconectados; suporte de telemedicina e aplicativos para identificação de casos de gravidez de alto risco visando reduzir a mortalidade materna; e soluções de Inteligência Artificial para auxiliar no diagnóstico de doenças tropicais que precisam de atenção especial como leishmaniose e hanseníase.
Outros dois projetos apresentados no SXSW estão relacionados à UTI. Um deles, o Telescope, também associado ao PROADI-SUS, estuda o impacto do atendimento virtual de médicos intensivistas para UTIs de hospitais públicos que não contam com profissionais especializados no cuidado de pacientes críticos. Além desse, o Einstein está envolvido em vários projetos nessa área. Só no Tele-UTI Brasil atende mais de 150 leitos de hospitais públicos com visitas virtuais diárias de seus especialistas no acompanhamento de pacientes e compartilhamento de protocolos e boas práticas. O estudo Telescope quer levantar dados objetivos sobre os reflexos desse suporte especializado em termos de desfechos, redução de complicações e tempo de permanência (com consequente redução de custos para o sistema de saúde, além dos evidentes benefícios para o paciente).
O segundo projeto relacionado à UTI, este conduzido pelo Einstein e outros cinco hospitais vinculados ao PROADI-SUS, foca os microrganismos resistentes, as chamadas superbactérias. A primeira etapa do projeto foi criar uma plataforma colaborativa e abastecê-la com dados das ocorrências de infecções por superbactérias em UTIs de 50 hospitais selecionados (70% leitos públicos e 30% privados). Com aplicação de técnicas de Big Data e Analytics, é possível usar esses dados para avaliar aspectos relacionados ao desenvolvimento dessas infeções e estudar intervenções, como formas diferentes e mais eficazes de higienização dos ambientes de UTI ou alternativas para reduzir com segurança o uso de antibióticos. Estudos clínicos estão sendo desenvolvidos na segunda etapa do projeto, iniciada em 2021.
Completando o leque de iniciativas que levamos ao SXSW está um projeto de mapeamento da saúde mental da comunidade de Paraisópolis. O objetivo é traçar um raio-X da saúde mental de uma amostra representativa dessa comunidade – cerca de mil pessoas entrevistadas, com aplicação de um questionário cientificamente validado para avaliar presença e gravidade de sintomas, como depressão, ansiedade e estresse e medir bem-estar, qualidade do sono e atividade física. Entre agosto de 2022 até agora, já foram coletados dados de 400 moradores. Os pesquisadores também coletam a geolocalização dos participantes e dados sociodemográficos. Com isso, será possível desenvolver modelos de Inteligência Artificial para desenhar um mapa da saúde mental em Paraisópolis.
Outro estudo em paralelo, este com 100 moradores da comunidade, envolve intervenções de atividade física e aprendizagem socioemocional por meio de técnicas de meditação e relaxamento. Na primeira etapa, realizada no ano passado, metade do grupo passou pelas intervenções ao longo de três meses e a outra metade não. Ao final desse período, ambos os grupos foram reavaliados para analisar se a intervenção influenciou. Em janeiro, a segunda metade iniciou o processo de intervenção e a outra retomou sua rotina normal. Ao final, ambos serão reavaliados, inclusive para saber se, mesmo sem intervenção presencial, o primeiro grupo manteve em casa as atividades físicas e de meditação. A expectativa é de impactos positivos nos dois grupos. Se confirmados esses resultados, a ideia é criar um programa de promoção da saúde que possa ser aplicado tanto dentro como fora de Paraisópolis.
Essas são apenas cinco iniciativas dentre mais de uma centena que mostram como o Einstein persegue seu Propósito de entregar vidas mais saudáveis para um número cada vez maior de seres humanos. São apenas cinco das muitas iniciativas que mostram o poder da tecnologia para alavancar transformações na saúde pública. Levar esses poucos mas significativos exemplos a uma arena global como o SXSW é chamar a atenção para soluções que podem não produzir organizações de saúde milionárias, mas podem produzir milhões de pessoas com mais saúde e milhões de indivíduos com menos doenças. E os desafios que temos aqui se aproximam de desafios de outros países. Na China, por exemplo, há um número alto de mortes por apendicite. Portanto, são aprendizados que podem ser compartilhados em escala mundial. É essa a riqueza da tecnologia usada para promover a equidade em saúde.