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Claudio L. Lottenberg

Telemedicina atrai cada vez mais adeptos

Com tecnologia associada aos serviços médicos, a Telemedicina promove empregos e contribui para melhorar o acesso à saúde

Casal com filho em consulta médica online

Entre 2020 e 2021, 52 mil médicos fizeram 7,5 milhões de atendimentos remotos | Foto: Getty Images

A telemedicina no Brasil ainda tem um caminho a percorrer até que se estabeleça sua regulamentação definitiva. Mas no dia a dia dos brasileiros, ela já está bem consolidada. Isso é o que mostram os números: segundo levantamento recente da associação Saúde Digital Brasil, que representa os principais operadores de telemedicina do país, os atendimentos virtuais chegam a cerca de 7,5 milhões, entre 2020 e 2021. Esse contingente de pessoas foi atendido por mais de 52 mil médicos.

Outra pesquisa recente, da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), mostra que em abril deste ano foram registradas 2,8 milhões de teleconsultas, número 14,4% maior que o de março. A associação, no entanto, reúne operadoras de planos de saúde que contam com cerca de 9 milhões de beneficiários, enquanto o número de pessoas com planos de saúde fica perto dos 47 milhões, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Isso mostra que o uso da telemedicina por parte dos brasileiros pode ser maior.

O setor público também trabalha recursos da telemedicina. Para citar um exemplo, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo oferece o aplicativo e-saúdeSP, ferramenta que teve papel relevante para agilizar atendimento e diagnóstico de pacientes com suspeita de Covid-19. A necessidade de manter o distanciamento social foi outro fator que contou favoravelmente na decisão de optar pela telemedicina.

No caso dos jovens, uma pesquisa da Harmony Healthcare IT mostrou que 69% dos entrevistados afirmaram ter buscado atendimento online. Facilidade e comodidade foram os aspectos destacados por quem optou pela teleconsulta. O levantamento também mostrou que 79% dos entrevistados apontam ter contato com profissional da atenção primária à saúde, mas 41% ressaltaram preferir a telemedicina. A pesquisa foi feita em fevereiro deste ano e ouviu 2.040 pessoas entre 23 e 39 anos. Os dados têm semelhança com os de pesquisa feita pela Harmony Healthcare IT em 2019.

A chegada da conexão 5G ao Brasil deve melhorar a qualidade de transmissão e tornar mais rápidos os envios de dados – tornando consultas com médicos por videoconferência ainda melhores. Além disso, o atendimento remoto já conta também com estruturas e serviços de apoio que tornam a telemedicina ainda mais integrada – por exemplo, assinatura digital eletrônica certificada, plataformas de prontuários eletrônicos ágeis, confiáveis e seguras (gratuitas ou de baixo custo). Há um ecossistema em formação, que fará da teleconsulta um procedimento cada vez mais atrativo.

Ferramentas como algoritmos e inteligência artificial; conceitos como machine learning, data-driven, big data e cloud computing já estão incorporados a esse ecossistema, em patamares diferentes de avanço, e as transformações não param por aí. Quando tudo isso passar a fazer parte intrínseca do atendimento médico, teremos diagnósticos ainda mais precisos, procedimentos mais ágeis, melhorias e reduções de custos em processos administrativos. A lista de vantagens vai longe.

O suporte regulatório da telemedicina no país ainda tem caráter provisório. A Lei 13.989, que autoriza seu uso durante a pandemia, é alvo de questionamentos – por exemplo, se a primeira consulta da pessoa deve ser presencial ou se pode ser remota; outros dizem respeito à área de atuação do médico – este pode ter seu registro profissional em qualquer estado do país? Ou o registro tem de ser do mesmo estado em que o paciente se encontra? Não serão questões fáceis, que admitam respostas simplistas. Mas a experiência diária mostra que, apesar do caráter provisório das atuais regras, a confiança de pacientes e médicos na ferramenta se estabeleceu.

Mas o amálgama de tecnologia da informação e saúde já atingiu o ponto de não retorno. No atual estado em que o uso da telemedicina se encontra, com as melhorias previstas para chegar ao país com a conexão 5G, a otimização de cada vez mais processos e consequente redução de custos, mais e mais pessoas devem recorrer a consultas remotas. A geração de empregos que isso vai promover (abertura de vagas para engenheiros de computação, cientistas de dados, desenvolvedores e tantos outros) com desdobramentos positivos para a economia do país, também é um produto bem-vindo da integração da tecnologia à saúde. Consultar presencialmente um médico sempre será necessário. O que a tecnologia vai fazer é tornar esse contato cada vez mais produtivo e resolutivo.


Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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