Existem eventos capitais que causam transformações profundas na humanidade. O atentado de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas foi um deles. A crise de Wall Street em 2008 também. Mais recentemente, temos a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia – ambos eventos que produzirão repercussões duradouras.
A pandemia já trouxe mudanças relevantes de comportamento. Criou-se o hábito de usar álcool gel nas mãos. Pessoas estão trabalhando mais tempo em casa. Há menos pessoas andando pelas ruas, a ponto de afetar a economia informal. A covid-19, mesmo que se vá, continuará causando preocupação por um tempo.
No campo econômico, a pandemia trouxe inflação e aumentou a quantidade de dinheiro que circula pelo mundo. A retomada das atividades foi desigual, por isso setores importantes ainda sofrem e levarão um tempo para se adaptar.
A invasão da Ucrânia é também um evento de impacto mundial. A Rússia de Putin rasgou a cartilha da diplomacia e trocou a guerra psicológica pela guerra de território. Ao fazer isso, Putin foi para um campo perigoso e provocou uma reação inédita na história da humanidade: o mundo privado se uniu para sancionar o país independentemente das ações de governo e de organismos multilaterais.
Tanto a pandemia quanto a invasão já estão entrando para a história, mas as suas consequências não. Assim, o Brasil terá uma imensa oportunidade de se aproveitar dessa crise para alavancar o seu desenvolvimento econômico e social.
O caminho não é fácil. Contudo, se tivermos um pouco de visão estratégica, o que, algumas vezes já esteve presente na história do Brasil – por exemplo quando se criaram a Petrobras, a Embraer, a Embrapa e o nosso sistema financeiro –, poderemos aproveitar.
Rússia e Ucrânia têm quadros tecnológicos relevantes que podem ser importados para cá. A China também vive problemas de confiança com o mundo ocidental. O Brasil deve ser agressivo ao buscar lá fora investimentos que possam gerar renda, emprego e divisas.
Historicamente, as crises mundiais têm promovido deslocamento de mão de obra qualificada. Os Estados Unidos se beneficiaram disso antes mesmo da Segunda Guerra. A União Soviética só fez a bomba atômica a partir de estudos alemães.
As crises, no final das contas, são oportunidades. Temos de contradizer a célebre frase de Roberto Campos: “O Brasil não perde a oportunidade de perder uma boa oportunidade.”