Debaixo de uma lona repleta de remendos, mal costurados, uma multidão se acomoda em tablados de madeira com pouca sustentação assistindo um show de mágica. É um circo. Ali no centro do picadeiro o artista, usando um fraque e uma gravata comprada pela esposa em uma loja Emernegildo Zegna, se esforça para manter a atenção do público sequioso por ver algo acontecer.
O mágico mostra uma cartola. Faz alguns movimentos rápidos com as mãos para valorizar a encenação. Aí, de dentro da cartola, retira alguma coisa e mostra para o público dizendo: “Um coelho”. Continua repetindo “Um coelho”, enquanto circula o picadeiro com ar de ter concluído a façanha. Mas, embora o mágico repita incessantemente “um coelho”, o que a maioria dos presentes vê é um sapo. A maioria vê um sapo, e não todos, porque mesmo diante da realidade, muitos acreditam no que o mágico diz e não nos seus próprios olhos: “Nossos sentidos nos enganam de todas as maneiras possíveis” (Júlio Verne). Isso é tão mais verdadeiro quanto mais as pessoas se dispõem, em princípio, a acreditar.
Essas crenças são construídas graças à ligação de dois mundos: o das experiências diretas e o dos símbolos. Os símbolos são usados para traduzir a experiência direta. São as linguagens. Elas conectam os indivíduos. Nem sempre, obviamente, isso ocorre de forma a traduzir a realidade. Ou seja, embora saia da cartola um sapo, alguns ou muitos veem um coelho.
Porém, como ensina a Teoria das Expectativas Racionais, os agentes erram, mas, aprendem com seus erros. Pode demorar algum tempo, mas um sapo é um sapo e um coelho é um coelho. A narrativa, como hoje se costuma dizer, não suporta a evidência repetidamente revelada: “A razão é a luz divina da inteligência humana. É ela que nos guia através dos labirintos da vida, e nos leva ao conhecimento da verdade.” (René Descartes).
A credibilidade se estabelece a partir das atitudes e dos símbolos: “…é um hábito, não uma habilidade. Ela é construída com o tempo, através de ações consistentes e honestidade inabalável.” ( Winston Churchill).
Infelizmente não é isso que se vê. Um sofá de R$ 65 mil e uma cama de R$ 42 mil tem um significado que transcende em muito a simples exorbitante despesa. É um símbolo que revela de forma clara a falta de conexão entre os fatos e as narrativas: “Não basta falar sobre as virtudes, é preciso agir de acordo com elas” (Seneca).