A União Europeia (UE) reafirmou recentemente que não comprará petróleo russo a partir de 5 de dezembro de 2022, exceção feita àquele entregue por dutos a alguns países centrais. Ela também deixará de comprar derivados de petróleo russo a partir de fevereiro. Assim, a UE logo terá que achar 1,5 milhão de barris diários de petróleo de outras origens. Isso pode levar a uma subida de preços no mercado de óleo na virada do ano, apesar do menor crescimento do PIB chinês estar esfriando esse mercado.
Para evitar uma possível disparada de preços quando a Europa parar de comprar petróleo da Rússia e passar a competir por outras fontes, o Tesouro americano propôs que se estabelecesse um teto de preço para o petróleo russo vendido fora da Europa. A secretária do Tesouro sugeriu que um teto de US$ 60 por barril poderia preservar as exportações russas, sem proporcionar lucros extraordinários ao país ou travar a economia mundial.
O mecanismo para implementar o teto seria proibir as seguradoras do G-7 de cobrirem navios levando óleo russo vendido acima dele. O navio que quebrasse as regras nunca mais poderia ser segurado, reduzindo sua capacidade de transportar cargas no futuro. A ideia baseia-se na observação de que as exportações para fora da Europa teriam que se dar pelo mar e 90% do transporte marítimo de petróleo é hoje segurado por grupos (P&I clubs) ancorados no Reino Unido ou outras jurisdições do G-7.
Há quem receie que o esquema não funcione como idealizado porque China e Índia teriam alternativas de transporte que escapariam à restrição do G-7. A sanção também poderia levar a Rússia a cortar a produção. Apesar do teto ter sido calibrado para oferecer uma pequena margem de lucro à Rússia, e cortar a produção poder comprometer os poços de petróleo russos, o país já disse que não venderá a quem se submeter ao esquema do teto.
Apesar dos riscos envolvidos, os EUA avaliam que o esquema vale a pena, mesmo que ele seja implantado informalmente, resultando em vendas de óleo russo com desconto, mas sem adesão formal aos limites do G-7. Índia, China e mesmo Turquia já estariam fazendo isso em alguma escala, e países em desenvolvimento poderiam economizar US$ 100 bilhões anuais se comprassem óleo a US$ 60 por barril, o que também os ajudaria a enfrentar o dólar alto. Esses arranjos podem ser viáveis porque a falta de documentos de preço não deve excluir armadores do sistema financeiro americano, e parece haver bastante navios chineses ou ocidentais mais antigos, para os quais um seguro dado pela Rússia agora e o risco de não ter seguro no futuro seriam aceitáveis.
Independente dessas tecnicalidades, talvez o mais notável da inciativa seja o G-7 propor um cartel de compradores. Parece uma indicação eloquente de os países desenvolvidos estarem comprando a agenda de descarbonização. Aos tempos em que combustíveis fósseis eram tidos como indispensáveis no curto e longo prazo, a prioridade desses países era assegurar a sua oferta, e as economias avançadas, de uma maneira ou outra, se alinhavam aos produtores. Em tempos recentes, porém, as companhias ocidentais têm diversificado suas atividades, investindo em energias renováveis, etc. O que vai deixando a produção de petróleo mais para companhias estatais e muda os incentivos dos governos do G-7. Essa dissociação não deve trazer conforto à Opep, especialmente se for prenúncio de outros acertos entre países compradores.