Nesse espaço, em geral falamos do mercado e suas tendências. Examinamos a economia e o comportamento das variáveis macroeconômicas. Tratamos também dos condicionantes no âmbito microeconômico e seus reflexos sobre segmentos específicos. Entretanto, desta feita, para variar um pouco, vamos propor uma reflexão um pouco mais abrangente: sugerimos uma reflexão sobre nós como pessoas no presente momento, ou seja, como atores desempenhando seus respectivos papéis no palco adornado pela cenografia que define nossos dias.
Quem já não ouviu? “É, no meu tempo não era assim. Tudo era melhor!”. Se não ouviu, bem provável já tenha sido autor dessa expressão saudosista. Esquecemos do que era ruim e acessamos nossa memória afetiva recordando o que era bom. Nesse paralelo do real com o imaginário, o que passou, passou, mas o que é, é. Ou seja, o que vivemos no presente é de modo inteiro, com o que é de bom e o que não pode ser assim considerado.
São percepções genéricas. Algo muito subjetivo. Sabemos que não se podem comparar bananas com laranjas. Porém, pressionados pelo que é real, lembramos das bananas quando o gosto amargo da laranja nos vem à boca, em razão das escolhas que fazemos ou das amargas frutas que somos obrigados a engolir.
Deixemos essas sensações pouco objetivas de lado. Em 1960, as taxas de mortalidade e natalidade no Brasil eram de 13,35% e 42,28% respectivamente. Em 2020, a taxa de natalidade passou a ser de 6,61%, e a de natalidade, apenas 13,46%. Com isso a expectativa de vida do brasileiro, que era em 1960 de 54,14 anos ao nascer, subiu mais de 40%, passando para 76,08 anos em 2020. Muitas outras medidas poderiam aqui ser colocadas mostrando que de fato evoluímos. Quanto a isso não há dúvida. Mas, uma questão bem mais complicada é como vivemos o nosso tempo, evidentemente ampliado pelo progresso econômico e, em especial, aquele proporcionado pela medicina.
A pandemia nos revelou de forma contundente que os tempos estão encurtados. Não é uma novidade, porém as restrições criadas e as alternativas que emergiram de tais impedimentos aumentaram a velocidade das transformações. Em termos físicos, a pandemia ampliou a aceleração das mudanças.
Diversas coisas acontecem ao mesmo tempo. Por exemplo, o celular toca insistentemente nos avisando que alguém precisa falar. No mesmo momento, o aparelho multifuncional sinaliza que diversas mensagens estão chegando, muitas delas solicitando resposta imediata. Coisa difícil de atender, pois os olhos e os ouvidos estão atentos ao que acontece na tela do computador, acompanhando uma reunião interminável, que já começa a se superpor a outra já iniciada, requerendo de nós o dom da ubiquidade.
Tudo isso parecem ser aspectos inexoráveis de um mundo em alta velocidade. Um mundo competitivo. Mas, é mais do que isso. Em 1985, o piloto Keke Rosberg entrou para a história da Fórmula 1 ao atingir a impressionante velocidade média de 259,005 km/h. Em 2020, Lewis Hamilton bate o recorde conduzindo seu carro a uma velocidade média de 264,363 km/h. Mas, na F1, assim como em todos os esportes oficialmente reconhecidos, as disputas ocorrem respeitando determinadas regras.
Mudamos a potência dos motores, o câmbio se tornou muitíssimo mais flexível. Com essas máquinas atualizadas, trafegamos nas pistas tortuosas sem nenhum regramento. Essa é uma reflexão que precisamos fazer, tanto do ponto de vista pessoal, como também organizacional.