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Priscila Deliberalli

Priscila Deliberalli

Vacinação, o evento do ano

O cenário base para a economia é um crescimento de 4,4% com inflação baixa. Os dois fatores de influência serão a vacinação e o quadro fiscal

O ano de 2021 terá como grande evento o início da vacinação contra o Coronavírus aqui no Brasil.

Por termos iniciado o ano ainda sem a vacinação, com contágio elevado, o setor de serviços segue rodando bem aquém do nível pré-pandemia, por envolver com frequência o contato entre as pessoas. Ao mesmo tempo, a indústria e o comércio conseguiram se recuperar, embora de maneira heterogênea entre os setores.

O que observamos em 2020 foi o consumidor privilegiando bens em detrimento dos serviços. E o pagamento do Auxílio Emergencial (AE) também contribuiu para o crescimento do consumo de bens básicos como alimentação e relacionados à moradia. O que esperar então do consumo em 2021?

O fim do AE deve levar à queda da massa de rendimentos na economia no início do ano, pois a recomposição do emprego perdido ainda não foi suficiente para compensar o fim do benefício, que chegou a injetar mais de R$ 50 bilhões por mês. A redução do valor pago nos últimos três meses de 2020 já permitiu alguma transição, mas, dado o agravamento da pandemia, ainda teremos um buraco que deve levar a uma pequena queda no consumo no primeiro semestre de 2021.

Alguns pontos merecem destaque e devem compensar em parte a queda da massa, impedindo uma contração maior do consumo.

Em primeiro lugar, houve um forte acúmulo de poupança em 2020, seja por questões precaucionais seja pela impossibilidade de sair de casa para consumir. Em 2021, uma parte desse recurso deve ser despoupado, minimizando parcialmente o impacto do fim do AE. Em segundo lugar, a política monetária continuará bastante afrouxada, beneficiando tanto consumo como investimentos.

Mas a descrição desse cenário deixa claro que ele será fortemente influenciado por dois fatores relevantes: (1) inicio da vacinação e (2) cenário fiscal. Esses fatores de alguma forma se relacionam, pois quanto maior a demora para o país poder oferecer vacinação em massa, mais lenta será a recuperação do emprego e maior será a pressão para seguir
gastando além da possibilidade permitida pelo teto de gastos.

Apenas após o início da vacinação deveremos observar a total recuperação de parte do segmento de serviços. Apenas após o controle da pandemia poderemos observar a despoupança da parcela precaucional de recursos acumulada. Por fim, somente com o controle das contas públicas a política monetária poderá continuar afrouxada, mesmo que observemos
pequena elevação da taxa Selic no segundo semestre para que o Banco Central possa entregar a inflação na meta em 2022.

Nosso cenário base espera crescimento de 4,4% em 2021, pois apenas o crescimento de 2020 deixará um “carregamento estatístico” de 3,6 pontos percentuais para 2021. Assim, a velocidade de cruzeiro média no ano deve ser um crescimento de 0,4 pp por trimestre. A taxa de desemprego deve encerrar 2021 acima de 12%. Apesar da recuperação da economia, esperamos que a inflação desacelere em relação a 2020, com o IPCA variando 3,2% em 2021. Esse cenário contempla a redução da pressão advinda da alimentação no domicílio, que deve apresentar inflação abaixo de 4%, depois de variar quase 18% em 2020. Contempla também uma desaceleração da inflação de industriais, após o choque de câmbio de 2020, e uma recomposição de preços de serviços, com a reabertura da economia.

Por fim, nosso cenário base espera que a política monetária comece a ser normalizada no segundo semestre de 2021, pois naquele momento o Banco Central já estará mirando a inflação de 2022 e, para alcançar a meta de 3,5%, acreditamos que a Selic será elevada para 3,0% ao final do ano.

O risco ao cenário acima, como mencionado, está no comportamento da pandemia e no atraso da vacinação. Contudo, nesse caso, cresce a possibilidade de o governo elevar novamente o montante de transferências públicas, impactando negativamente o fiscal, mas impedindo uma desaceleração mais acentuada do PIB. A inflação poderia ficar um
pouco mais pressionada, pois a piora da percepção de riscos deve levar a uma taxa de câmbio mais depreciada, além do impacto na demanda do estímulo fiscal.


Doutora em economia pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Priscila Deliberalli graduou-se e fez mestrado na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo. Desde 2014, é economista do Banco Safra.

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