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Ilton Caldeira

Vacinação contra Covid-19: uma experiência americana

Os dados mostram que as vacinas são eficazes e com a estratégia correta é possível vencer esse mal que afeta a todos

A gestão Biden está completando dois meses à frente da administração dos Estados Unidos. Entre as principais alterações já sentidas está o avanço na imunização em massa adotada em todos os Estados americanos. E com a ampla vacinação, uma mudança clara nos rumos da pandemia que deixou, desde o início, um gosto amargo na alma de todos. Como afinal a maior potência do mundo chegou ao topo de casos e mortes em nível mundial?

Após uma sucessão de erros, como minimizar o potencial do vírus e evitar recomendação do uso de máscaras e distanciamento social, a chegada das primeiras doses de vacinas, ainda no fim de 2020, representou uma pequena esperança.

Mas ainda faltava um plano mais ambicioso. Isso só foi possível recentemente. Mas em tão curto espaço de tempo os resultados mudaram a percepção do cidadão americano. Em uma nação que adora dados e planejamento antecipado, agora já é possível refazer os projetos e preparar a volta a uma vida com certa normalidade.

Sim, as filas estão imensas chegando a até dez horas em muitos lugares para conseguir passar pela triagem e vacinação propriamente dita. Mas todos entendem que essa espera é por um objetivo maior. E para quem aguardou um ano, a espera na fila de vacinação é encarada como uma marcha para a vitória, onde, após a completa imunização, vislumbramos não mais nos privar do abraço, símbolo maior de afeto, mas que tristemente ganhou conotações de arma de destruição em massa.

Aqui, assim como em vários outros lugares do mundo, também ocorrem as brigas políticas. Existem os sites de vacinação montados pelo Governo Federal, com o suporte da FEMA, a agência federal de gestão de emergências, juntamente com as forças armadas e a Guarda Nacional. Nesses locais o objetivo é vacinar o maior número de pessoas maiores de 18 anos e imunizar a população em massa.

Mas em Estados onde os governadores fazem oposição ao Governo Federal, em muitos casos, medidas administrativas locais são implantadas para reivindicar a gestão desses espaços e vacinar de forma um pouco mais morosa a população. Mas nem isso tem afetado a procura por vacinas e a resiliência das pessoas nas filas em busca de imunizantes.

Nos Estados Unidos a vacinação da quase totalidade da população é agora uma questão de tempo. Pelas estimativas mais otimistas até o fim de maio, mais de 90% de um país continental com cerca de 330 milhões de habitantes deverão ter sido vacinados.

Para esse cenário ser factível, até mesmo as rivais Johnson e Merck firmaram um acordo, costurado pela Casa Branca, para garantir doses suficientes de vacinas para todos os adultos até o fim de maio, antecipando a meta inicial em dois meses.

Os dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão federal responsável pela gestão da estratégia de combate à pandemia, mostram que até 15 de março foram distribuídas em todo o país 142,9 milhões de doses de vacinas, sendo 110,7 milhões já administradas. Os números oficiais apontam que 21,7% da população já recebeu ao menos uma dose e 11,8% está totalmente imunizada.

O pico de contaminações registradas em apenas um único dia foi em 8 de janeiro, quando 314,180 novos casos de Covid foram diagnosticados. Após o início da vacinação de forma maciça, os casos confirmados foram caindo até registrarem em 15 de março 49,867. Um nível ainda alto e preocupante, mas um achatamento significativo na curva de contaminações.

Menos doentes, menos possibilidade de contaminação em maior escala, menos internações e casos fatais em queda. Os Estados Unidos ostentam números vergonhosos de mortes: 533.057 vidas foram perdidas. Nos momentos mais agudos, como em 15 de abril de 2020, 6.485 mortes por Covid-19 haviam sido registradas em um só dia. Em 15 de fevereiro de 2021, o segundo dia com mais mortes registradas, 5.501 pessoas nos deixaram por conta do vírus. Mas desde então os números caem rapidamente. Em 15 de março 702 pessoas perderam suas vidas por conta do Covid-19.

É importante destacar que cada uma das vidas perdidas importa e muito. Tentar relativizar ou abrandar a perda irreparável de cada partida com a frieza dos números e das estatísticas não é, e nem deve ser, nunca o foco. Mas os dados oferecem uma boa amostragem de que as vacinas são eficazes e com a estratégia correta é possível vencer esse mal que nos afeta e ainda deixará muitas sequelas em todos nós.


Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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