O IBEVAR e a FIA publicam mensalmente as projeções de vendas do varejo, tomando como base os segmentos do varejo acompanhados pela Pesquisa Mensal do Comércio: Combustíveis e lubrificantes; Supermercados, hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo; Vestuário, calçados e tecidos; Móveis e eletrodomésticos; Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria e cosméticos; Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação; Livros, jornais, revistas e papelaria; Outros artigos de uso pessoal e doméstico.
Esses segmentos se agrupam em duas outras classificações: varejo restrito e varejo ampliado. Então, antes de se falar das projeções, o que se pode dizer do comportamento dessas duas séries, o Varejo Restrito e o Ampliado? A simples inspeção dos gráficos revela que as vendas nos dois conceitos se encontram praticamente estagnadas desde agosto de 2020. Quais as perspectivas para o futuro próximo?
O futuro próximo definido na pesquisa IBEVAR – FIA é do período de março a maio do corrente ano. O varejo na versão restrito deve encolher 1% e o ampliado, 3,6%. Esta queda acentuada do Varejo Ampliado está associada à redução projetada das vendas nos segmentos Material de construção, Livros, jornais e revistas, Tecidos, vestuário e calçados, Artigos de uso pessoal e doméstico e Móveis e eletrodomésticos. O segmento Automóveis, motos, partes e peças apresenta estabilidade para o período examinado.
O que explica esse resultado pouco alvissareiro? A inflação em 2021, medida pelo IPCA, foi de 10,06%.Em 2022, ficou em 5,78% e, em 2023, os primeiros dados mensais mostram um aumento em relação aos mesmos meses de 2022.
Não há nada pior para obstar o crescimento do consumo do que a inflação. A inflação é como se fosse um tributo, ou seja, diminui a renda real das famílias. Mas, além de retirar o poder de compra, a inflação caracteriza-se por ser um imposto altamente regressivo. Ou seja, onera mais quem ganha menos. Essas pessoas não conseguem se proteger eficazmente contra os efeitos deletérios da inflação.
Para mitigar as pressões inflacionárias o Banco Central majora a taxa de juros básica, como vem fazendo. O aumento da taxa referencial tem impacto na taxa de juros na ponta. De fato, em janeiro de 2021 os juros ao comércio situavam-se no patamar de 72,73% ao ano. Em dezembro de 2022 essa mesma taxa era de 89,26%, isto é, um aumento de mais de dezesseis pontos percentuais em um ano.
O aumento dos juros desestimula a demanda e, ao mesmo tempo, alavanca a inadimplência. A inadimplência aumentada, por sua vez, força um pouco mais a taxa de juros para cima, em razão do maior risco de crédito (a inadimplência Pessoa Física cresceu de 3,23% para 5,33% – valores em atraso entre 15 e 90 dias em relação a renda corrente).
Com a inflação corroendo o poder aquisitivo das famílias, os juros subindo ou estáveis em patamar elevado e inadimplência crescendo, o consumo enfrenta hoje a tempestade perfeita.
Esses movimentos podem ser percebidos analisando o comprometimento da renda das famílias com dívidas. Esses dados são publicados pelo Banco Central. Em janeiro de 2021 o volume de renda comprometido com o pagamento de dívidas era de 41,95%. Esse percentual subiu para 49,52% em novembro de 2022, último dado disponível. Portanto, um aumento do comprometimento com o pagamento de dívidas de quase 8%.
Sendo assim, não é nenhuma surpresa que as vendas estejam fracas. Em que pese a justificável discussão sobre o tamanho da taxa básica, o importante é segurar a escalada dos preços. O nível da referida taxa depende não apenas da situação do mercado interno, mas também das condições macroeconômicas vigentes nos países com os quais o Brasil se relaciona.