Pandemia criou um novo bilionário a cada 26 horas
Somente no Brasil, surgiram dez novos bilionários desde março de 2020. Por outro lado, renda de 99% da humanidade caiu no período
17/01/2022Enquanto a pandemia de covid-19 colocou na pobreza mais de 160 milhões de pessoas, um novo bilionário surgiu a cada 26 horas desde o início da crise humanitária.
Além disso, os dez homens mais ricos do mundo mais que dobraram suas fortunas, passando de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão – a uma taxa de US$ 15 mil por segundo ou US$ 1,3 bilhão por dia – durante os dois primeiros anos da pandemia.
Por outro lado, a renda de 99% da humanidade caiu e mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza.
As informações foram divulgadas pela Oxfam Brasil, entidade que trabalha na busca de soluções para o problema da pobreza, desigualdade e injustiça.
A diretora executiva da Oxfam, Katia Maia, afirmou que, se os dez homens mais ricos do mundo perdessem 99,99% de sua riqueza, eles continuariam mais ricos do que 99% de todas as pessoas do planeta. “Eles têm hoje seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres do mundo”, completou.
Fortuna do bilionário brasileiro
Segundo a entidade, no Brasil, há 55 bilionários com riqueza total de US$ 176 bilhões. Desde março de 2020, quando a pandemia foi declarada, o País ganhou dez novos integrantes desse clube – quase um bilionário por mês.
O aumento da riqueza entre eles durante a pandemia foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve uma redução de renda de 0,2% entre 2019 e 2021.
Os 20 maiores bilionários do País têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).
Para Kátia, é inadmissível que alguns poucos brasileiros tenham lucrado tanto durante a pandemia, quando a esmagadora maioria da população ficou mais pobre.
“Milhões de brasileiros sofreram com a perda de emprego e renda, enfrentando uma grave crise sanitária e econômica”.
Desigualdade Mata
A publicação Desigualdade Mata, lançada pela Oxfam no último domingo, 16, revela ainda que as desigualdades estão contribuindo para a morte de pelo menos 21 mil pessoas por dia ou uma pessoa a cada quatro segundos.
Esta é uma conta conservadora, segundo a entidade, baseada nas mortes globais provocadas pela falta de acesso à saúde pública, violência de gênero, fome e crise climática.
Por outro lado, a riqueza dos bilionários aumentou ainda mais em meio à pandemia do que nos últimos 14 anos. Os US$ 5 trilhões são o maior acúmulo na riqueza de cada bilionário desde que os dados começaram a ser monitorados.
Na visão da Oxfam, um imposto único de 99% sobre os ganhos obtidos pelos dez maiores bilionários do mundo durante a pandemia seria suficiente para pagar, por exemplo:
- Por vacinas suficientes para toda a população do mundo;
- Para providenciar saúde pública universal e proteção social;
- Para financiar ações de adaptação climática;
- Para reduzir a violência de gênero em mais de 80 países.
Para a diretora executiva da Oxfam, a proposta de um imposto único extraordinário de 99% sobre os ganhos extras dos dez bilionários mais ricos do mundo durante a pandemia mostra que é possível encontrar recursos para enfrentar os desafios que estão afetando milhões de pessoas no mundo.
“Seria importante ter esse debate aqui no Brasil. Infelizmente, o que vemos no país é a atuação de setores privilegiados que impedem até mesmo a básica tributação sobre lucros e dividendos a acionista. É hora de parar de normalizar esses privilégios e ter uma tributação justa no nosso país”, destaca Kátia:
“Ainda que os governos tenham injetado US$ 16 trilhões do nosso dinheiro nas economias dos países para salvar vidas e empregos, boa parte desses recursos acabaram nos bolsos dos bilionários, devido às grandes altas no mercado de ações. As vacinas deveriam acabar com a pandemia, mas a desigualdade na sua distribuição, concentrando doses nos países mais ricos, está deixando milhões sem acesso. O resultado é que diferentes tipos de desigualdades devem aumentar no mundo. Estamos perdendo nossa humanidade de forma acelerada ao normalizar desigualdades extremas”, completa. (Agência Brasil)