close

Liderança e inovação são chaves da transformação em sustentabilidade

Para sócia-líder da KPMG, o entendimento de como criar valor a partir do ESG deve ser transversal e não setorizado em empresas

Transformação ESG nas empresas

“Todas as rotas podem ser corrigidas, mas o ideal seria evitar caminhos que atrasem o entendimento dos temas críticos ESG”, diz consultora

Sócia-líder de ESG Advisory da KPMG no Brasil, Nelmara Arbex é especialista na área, com mais de 20 anos de experiência nacional e internacional.

Com passagens pela McKinsey, Instituto Ethos, Natura e Global Reporting Initiative, a também professora Boston College Center for Corporate Citizenship acompanha hoje de ciclos cada vez mais velozes de transformação do desempenho das empresas brasileiras dentro dos critérios atuais do ESG, sigla de “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português).

O desafio da agenda planetária nos negócios se tornou urgente e com datas curtíssimas para a entrega das metas. Com a consultoria, ela atua de perto na reestruturação de modelos sólidos para se adequarem ao ESG. Ensina que o diagnóstico é apenas o primeiro passo e deve ser usado com clareza e entendimento pleno das lideranças para a adequação das companhias – o que muitas vezes pode significar mudança radical de atuação.

A seguir, entrevista com a consultora que também é PhD em Física pela University of Marburg (Alemanha) e pós-graduada em Business and Sustainability pela University of Cambridge (Reino Unido).

Leia também


O Especialista – O que era uma opção se tornou premissa básica para a condução dos negócios e as empresas estão se se mexendo para incorporar os critérios do ESG em suas operações. Nessa corrida pelo ESG, quais as estratégias das que saem na frente com projetos bem-sucedidos e com possibilidade real de avanço?

Nelmara Arbex – O primeiro passo de uma estratégia ESG bem-sucedida é sempre um bom diagnóstico a ser entregue para a liderança do negócio. Um diagnóstico da estratégia e práticas em relação aos aspectos sociais, ambientais e de governança ajuda a liderança a entender pontos fortes e fracos, o que outras empresas estão fazendo, quais os temas que são críticos para a empresa se posicionar e atuar, e assim saber onde focar. Depois disso, o planejamento e acompanhamento passa a ser crítico.

É possível listar erros estratégicos a serem evitados nesse processo que quase sempre implica em transformações de caráter definitivo? 

Todas as rotas podem ser corrigidas, mas o ideal seria evitar caminhos que atrasem o entendimento dos temas críticos ESG, que possam adiar a implementação de ações específicas e o posicionamento da empresa. Um erro comum é achar que temas ESG são temas que podem ser “resolvidos” por uma área que fica responsável por essa agenda. Isso é uma forma ultrapassada de pensar, pois a temática ESG permeia todo o contexto em que os negócios acontecem e afeta todas as áreas da empresa. Outro erro comum é achar que a escolha de temas para atuar e se comprometer publicamente, com destaque, dispensa a empresa de cuidar de gestão ESG nas operações cotidianas. Isso não é um bom entendimento do que significa uma empresa com estratégia e gestão em ESG.

Como empresas que têm sua entrega distante do ESG (como as de combustível fóssil, indústrias de materiais poluentes ou de exploração de recursos naturais em escala) podem incorporar os princípios ambiental, social e de governança do ESG?

A liderança de qualquer empresa, em qualquer setor, tem que entender a conexão de temas sociais, ambientais e de governança em seus negócios. Tem que perceber quais os temas vêm de fora e impactam os negócios, como mudanças climáticas, campanhas contra o racismo e os impactos provocados pelas suas atividades cotidianas. Depois desse entendimento, a empresa tem que definir como ela vai gerar valor considerando todos esses aspectos. Várias empresas de combustível fóssil têm movido capital de suas operações tradicionais para outras formas de produção de energia ou feito compromissos públicos de não serem mais empresas emissoras de gases do efeito estufa em 2030. Essas decisões são fruto desse entendimento.

Empresas que têm como resultado inevitável de suas operações a destruição de ecossistemas – direta ou indiretamente – precisam entender como isso acontece e redesenhar o negócio. Tudo isso sempre começa com um claro entendimento dos impactos causados e das soluções que já foram criadas ou precisam ser criadas.

Qual o papel da tecnologia e da inovação nesse desafio global?

O redesenho dos negócios e a busca de soluções dependem muitas vezes da implementação de inovações. A inovação tecnológica tem um papel importante nesse desafio, mas as inovações são criadas dependendo das nossas intenções como sociedade. Veja quantos recursos foram ativados para encontrarmos a vacina contra a covid-19 ou quando queríamos enviar humanos à lua ou enviar sondas à Marte. A intenção que temos na busca de soluções tecnológicas define as soluções que vamos criar, investir e disseminar.

Abra sua conta

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra