Jerome Powell indica corte de juro nos EUA em setembro

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, adotou um tom mais “dovish” (suave, inclinado ao corte de juros) no discurso desta sexta-feira durante o Simpósio de Jackson Hole. Powell disse que a inflação está caminhando de forma sustentável para a meta de 2% e que chegou o momento do Fed ajustar a política monetária, praticamente confirmando que um corte de juros ocorrerá em setembro.

Apesar de o tom dovish de Powell ter impactado os mercados financeiros, as expectativas de cortes de juros não sofreram muita alteração. Segundo o CME Group, as apostas majoritárias, com 65,5%, ainda são de um corte de 0,25 ponto percentual em setembro.

Para o economista do banco ING, James Knightley, Powell fez alguns comentários fortes em seu discurso em Jackson Hole.

“Além dos habituais trechos sobre a inflação parecer melhor e o foco agora estar muito mais nos empregos, Powell foi categórico com a declaração que ‘Chegou a hora de a política se ajustar. A direção da viagem é clara’”, avalia Knightley.

O poder da frase aumenta quando vem depois da ata da reunião do Fomc de julho, divulgada na quarta-feira, que disse que “a grande maioria [dos membros do Fomc] observou que, se os dados continuassem a chegar conforme o esperado, provavelmente seria apropriado flexibilizar a política na próxima reunião”.

O economista também observou a alusão feita por Powell de que o Fed poderá cortar muito mais caso as condições justificassem o corte.

Discurso de Jerome Powell indica início do ciclo de corte de juros em setembro

Stephen Brown, economista da Capital Economics, também avalia que o tom mais dovish de Powell abriu caminho para cortes de 0,50 ponto percentual caso o payroll de agosto venha mais fraco que o esperado.

Já os economistas Aditya Bhave e Michael Gapen, do Bank of America, avaliam que, embora Powell tenha sido inegavelmente dovish hoje, o cenário não é de corte de 0,50 ponto.

“Powell não abriu mais a porta do que ela estava aberta. Em vez disso, ele implicitamente endossou cortes graduais. Cortes de 0,50 ponto ocorrerão apenas se os riscos de recessão aumentarem significativamente ainda mais. Um relatório de empregos muito fraco pode nos levar até lá, mas o declínio nos pedidos de auxílio-desemprego sugere que esse não deve ser o cenário-base”, escreveram, em nota a clientes.

Os economistas do BofA mantêm a previsão de que o Fed cortará 0,25 ponto por trimestre, começando em setembro. “No entanto, os comentários de Powell e as grandes revisões para baixo no crescimento do emprego divulgadas no início da semana aumentam o risco de cortes de 0,25 ponto em todas as reuniões. Um abrandamento adicional no mercado de trabalho e nos dados de inflação pode nos levar até lá”, disseram. (Valor Econômico)