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Preço dos carros usados supera o dos novos

Aumento da procura, facilidade da pronta entrega e falta de semicondutores na indústria impulsionam mercado de seminovos

Frota de carros usados

Nos últimos quatro anos, muitas startups se instalaram no Brasil para atuar exclusivamente no mercado de carros usados | Foto: Getty Images

Vender um carro com um ano de uso com preço mais alto do que o pago na compra é algo inédito no mercado fora dos tempos de hiperinflação.

Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, modelos de grande procura, como Volkswagen T-Cross e Gol, tiveram em um ano valorização de 27% e 24%, respectivamente, conforme dados da KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos.

Ana Renata Navas, diretora-geral da Cox Automotive do Brasil, dona da KBB, disse ao jornal que a alta procura por carros usados – e a consequente valorização dos preços – se deve, em parte, à pronta entrega que o segmento oferece ao consumidor. Muitos modelos novos têm filas de espera de quatro a seis meses.

Segundo ela, a falta de carros novos reduz também a oferta de usados, pois normalmente eles compõem o pagamento do zero. “Com menos veículos seminovos e usados disponíveis nos estoques das lojas, há mais pressão sobre os preços”, explica.

Crise de semicondutores pode pressionar ainda mais os preços

A diretora acredita que se a crise de semicondutores perdurar para além do primeiro semestre de 2022, ou se agrave no curto e médio prazos, os fatores citados “podem pressionar ainda mais os preços, a ponto de arrefecer a demanda por usados”.

Na opinião de Eduardo Jurcevic, presidente da Webmotors, a elasticidade de preços vai até um certo ponto. “Acho que está muito próximo de chegar em um patamar em que o consumidor vai decidir esperar mais um pouco porque os preços estão muito altos”, diz. Como no geral modelos novos e usados ficaram mais caros, o consumidor terá de avaliar se compensa trocar o carro valorizado por outro que também valorizou.

Jurcevic afirma que este já é o melhor momento da história de 25 anos da Webmotors no Brasil. O resultado financeiro da empresa cresceu mais de 30% até agosto ante igual período de 2020 e ele acredita que esse resultado será mantido até dezembro. O número de usuários únicos, de 12 milhões ao mês, também será superado.

Só não será melhor, ressalta o executivo, porque o número de veículos anunciados diminuiu. “Antes da pandemia chegamos a ter 410 mil carros anunciados, e hoje temos 330 mil.”

A Kavak, startup mexicana que atua na compra e venda online de carros com até 10 anos de uso, iniciou operações no Brasil em julho com 2,5 mil unidades em estoque. Hoje tem 3,5 mil. O investimento inicial de R$ 2,5 bilhões na operação brasileira deve ser ampliado no próximo ano com a expansão das operações.

Startups de carros usados se multiplicaram

Nos últimos quatro anos, várias startups se instalaram no País para atuar no mercado de carros de segunda mão. Além da Kavak chegaram a Creditas, que comprou a Volanty, a InstaCarro, a Carupi e a argentina Karvi.

A previsão de entidades de classe do setor automotivo e economistas é de que o mercado de carros usados cresça em ritmo mais moderado em 2022, enquanto o de novos tende a melhorar seu desempenho. A expectativa é de que no segundo semestre a falta de semicondutores estará controlada.

A previsão do Bradesco é de alta de 2,5% na venda de usados, para 12 milhões de unidades, e de 7,5% para os novos, somando 2,2 milhões de unidades.

Eduardo Jurcevic, da Webmotors, está mais otimista. Pesquisa feita pela empresa em julho com 4,2 mil consumidores indica que 75% deles têm intenção de adquirir carro novo ou usado ainda este ano, 7% desistiram da compra e 18% vão comprar em 2022. “O carro está mais caro, mas ainda tem crédito no mercado”, diz.

Feirões voltam devagar

O AutoShow, tradicional feirão de carros usados que há um ano foi transferido do Anhembi para o Expo Center Norte, na capital paulista, retomou neste ano a venda presencial nas manhãs de domingo, depois de passar praticamente todo o ano passado sem realizar o evento.

Leandro Ferrari, diretor comercial do AutoShow, afirma que o número de carros à venda diminuiu, assim como o público, em razão da pandemia. Ressalta, contudo, que em 2018 e em 2019 foram vendidos 30% dos 15 mil e dos 18 mil carros ofertados no feirão. Neste ano, até agosto, 52% dos 3,3 mil modelos expostos foram vendidos.

Mesmo com o aumento de plataformas de vendas on-line, ele diz que o feirão continua atraindo muito público comprador, visitas que devem aumentar quando a situação da pandemia estiver mais controlada.

“O local é seguro, há muitas opções de carros, a negociação é feita na hora, sem intermediários e temos todos os serviços para dar suporte à compra, como vistoria cautelar, parceiros da área de financiamento e despachante”, diz Ferrari.

Ferrari cita o Fiat Argo modelo 2019 como exemplo da supervalorização dos preços, em especial dos seminovos. O modelo era oferecido por R$ 40,8 mil em setembro do ano passado e hoje custa R$ 52,4 mil. “Começa a ocorrer uma desaceleração da velocidade de vendas porque hoje o valor foge do bolso da maioria dos consumidores.”

Cresce busca por financiamento de carros usados

Dados da B3, a bolsa de valores brasileira, mostram que os financiamentos de veículos usados registraram aumento de 9,7% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado. Sendo assim, as vendas chegaram a 376 mil unidades.

Por outro lado, os parcelamentos envolvendo veículos novos tiveram queda de 6,4%, alcançando 150 mil unidades, quando analisado o mesmo período.

A B3 opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), base privada que reúne os cadastros das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito no Brasil.

De acordo com a companhia, o fraco desempenho na venda dos novos é reflexo da da escassez mundial de semicondutores.

Outras entidades do setor, como a Anfavea e a Fenabrave, reforçam o impacto negativo que a falta de componentes traz para a indústria dos novos.

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