O PIB brasileiro, após ter crescido acima de 1,0% em cada um dos dois primeiros trimestres do ano, cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024. Este resultado implica um carrego estatístico de 3,0% para o PIB de 2024, ou seja, se a atividade não crescer no último trimestre, ainda assim, o PIB desse ano será 3,0% maior do que o de 2023.

Pela ótica da oferta, só o setor agropecuário não cresceu (-0,9% t|t), em virtude dos problemas climáticos enfrentados ao longo do ano, em especial a seca. Segundo as estimativas da LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola- IBGE) divulgadas em novembro, as contribuições mais negativas ficaram por conta das safras de milho, cana de açúcar e laranja, que caíram 11,9%, 1,2% e 14,9%, respectivamente
em relação a 2023. Por outro lado, o algodão, o trigo, a pecuária e a produção florestal tiveram desempenho positivo.

Na indústria, observamos mais um trimestre de desempenho favorável da indústria da transformação (1,3% t|t). Essa expansão é importante para atender o crescimento da demanda doméstica. Apesar da queda na margem, a construção civil apresentou um bom crescimento interanual (5,7% a|a), refletindo a resiliência do setor imobiliário frente ao cenário desafiador da taxa de juros, e a recuperação dos investimentos em infraestrutura.

O setor de serviços, que representa quase 60% do PIB, teve bom desempenho (0,9% t|t), na esteira da dinâmica positiva do mercado de trabalho.

Chama a atenção o segmento de serviços da informação e comunicação, que desde a pandemia expandiu-se em mais de 30%. O IBGE destacou que o principal motor desse expressivo crescimento tem sido a atividade relacionada à internet e ao desenvolvimento de sistemas, além de uma contribuição relevante de telecomunicações no terceiro trimestre.

O avanço dessas atividades indica um esforço de digitalização e modernização da economia brasileira. O item “Outros serviços”, que inclui uma miscelânia de segmentos, entre eles, serviços profissionais, serviços de alimentação, educação e saúde mercantil, cresceu pelo sexto trimestre seguido, apresentando a segunda maior contribuição na margem para o crescimento do setor serviços.

Pela ótica da demanda, a retomada do crescimento da formação bruta de capital fixo, iniciada em 2023, mostrou força no terceiro trimestre de 2024, crescendo 2,1% na margem e mais de 10% na comparação com o mesmo período do ano passado. A recuperação do investimento é fundamental para a expansão da capacidade de produção da economia brasileira e recomposição da razão capital trabalho, que caiu no país
nos últimos anos.

A renda disponível das famílias calculada pelo BCB contraiu no terceiro trimestre, mas o consumo das famílias apresentou, novamente, crescimento significativo (1,5% t|t). Tal combinação implicou em redução da poupança das famílias, que vinha subindo no período recente em decorrência de um crescimento robusto da renda do trabalho e do certo impulso fiscal, em especial pelo pagamento de precatórios.

Nos próximos trimestres, com a despoupança diminuindo, juros altos e ausência de novo impulso fiscal expansionista, o consumo das famílias irá desacelerar.

No balanço, a demanda doméstica expandiu 1,4% t|t, parcialmente atendida pela elevação das importações, que cresceram 1,0% na margem e 17,7% ao ano. Vale destacar que parte relevante deste aumentou refletiu a recuperação dos investimentos. Segundo os dados da FUNCEX, as importações de bens de capital cresceram 36% em 3T24 na comparação com o mesmo período do ano passado.

Para o restante do ano, o fim do impulso fiscal expansionista do primeiro semestre e a taxa de juros em patamar ainda mais contracionista devem resultar em uma desaceleração, ainda que gradual, do ritmo de crescimento da atividade. Mesmo com essa redução prevista, o crescimento já acumulado (carrego estatístico) até o terceiro trimestre aponta para um crescimento do PIB confortavelmente acima de 3,0% em 2024.