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Produção de veículos cai 13,4% em junho por falta de peças

Balanço da associação das montadoras de veículos mostra o impacto da pandemia e a desestruturação do setor produtivo

Pátio de veículos visto de cima

Com falta de peças e componentes eletrônicos, a produção de junho foi a menor em 12 meses | Foto: Getty Images

Com 166,9 mil unidades fabricadas, a produção de veículos registrou queda de 13,4% na passagem de maio para junho, conforme balanço divulgado nesta quarta-feira, 7, pela Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no País.

Em meio à falta de peças, agravada pela indisponibilidade de componentes eletrônicos, a produção de junho foi a menor em 12 meses.

Frente a junho do ano passado, quando a indústria ainda sentia o choque dos primeiros meses de pandemia no Brasil, a produção subiu 69,6%. Os números englobam carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.

Produção de veículos cresce 57% no semestre

As montadoras fecharam o primeiro semestre com 1,15 milhão de veículos montados, uma alta de 57,5% na comparação com os seis primeiros meses de 2020.

Em razão da escassez global de semicondutores, que compromete o fornecimento de módulos eletrônicos, metade das fábricas de automóveis parou parte ou toda a produção em junho por períodos que vão de dias ao mês completo.

Com alguns modelos em falta nas concessionárias, as vendas de veículos caíram 3,3% em junho, se comparadas a maio. Frente a junho do ano passado, um dos piores momentos nos últimos anos da indústria automotiva, as vendas tiveram alta de 37,4%, o que levou para 32,8% o crescimento no primeiro semestre, quando as revendas entregaram um total de 1,07 milhão de unidades.

Exportações caem 9,4% em maio

O balanço da Anfavea mostra ainda que as exportações, um total de 33,5 mil veículos, caíram 9,4% frente a maio, porém subiram 72,6% comparativamente a junho de 2020. Nos seis primeiros meses do ano, 200,1 mil veículos, uma alta de 67,5%, foram embarcados ao exterior, tendo a Argentina como principal destino.

Em junho, as montadoras fecharam 1,35 mil vagas de trabalho, encerrando o mês com 102,7 mil pessoas ocupadas.

A exemplo do que acontece desde o balanço relativo a janeiro, a Anfavea segue sem divulgar os números dos fabricantes de tratores e máquinas de construção, também sócios da entidade, em virtude da atualização estatística que vem sendo feita desde o desligamento da John Deere da associação.

Revisão da meta para 2021

A Anfavea revisou para baixo as previsões ao desempenho da indústria automotiva em 2021, diante dos problemas de falta de componentes. A expectativa de crescimento da produção de veículos no ano caiu de 25% para 22%. Com isso, as montadoras devem terminar o ano com 2,46 milhões de veículos produzidos, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.

A revisão foi puxada pela piora na perspectiva da produção de veículos leves, onde a previsão de crescimento da produção caiu de 25% para 21%, na contramão dos veículos pesados (caminhões e ônibus), cuja previsão de aumento da montagem subiu de 23% para 42%.

“Fizemos a revisão com o time técnico da Anfavea olhando para a demanda, aspectos da economia e também para as restrições que estamos enfrentando, principalmente em semicondutores”, disse nesta quarta-feira, 7, o presidente da associação das montadoras, Luiz Carlos Moraes, durante a apresentação dos números.

Em relação às vendas de veículos no ano, a previsão de crescimento caiu de 15% para 13%, sendo que no segmento de carros de passeio, mais afetado pela escassez de módulos eletrônicos, a projeção de crescimento foi cortada pela metade: dos 14%, previstos em janeiro, para 7%.

A Anfavea também mudou, mas para cima, a previsão sobre as exportações de veículos. O crescimento previsto para os embarques, que têm a Argentina como principal destino, passou de 9% para 20%.

Estoque de veículos

O total de veículos no estoque de concessionárias e montadoras fechou o mês passado com volume suficiente a 15 dias de venda, nível parecido ao de maio (16 dias), conforme balanço da Anfavea.

O setor fechou junho com 93 mil veículos nos pátios de revendas e fábricas, 3,5 mil a menos do que no mês anterior. Na apresentação do balanço, Luiz Carlos Moraes chamou a atenção, como destaque negativo, à queda da produção para abaixo do volume superior a 190 mil veículos que vinha sendo mensalmente mantido pelas montadoras.

A Anfavea estimou entre 100 mil e 120 mil unidades a quantidade de veículos que deixaram de ser produzidos no Brasil em função da falta de componentes eletrônicos. Durante a apresentação do balanço, Luiz Carlos Moraes chegou a citar perda de até 140 mil veículos no período, mas preferiu manter uma estimativa mais conservadora sobre o impacto da escassez global de chips na indústria automotiva brasileira.

“É uma estimativa. Por isso estou colocando um range faixa entre 100 mil e 120 mil como referência do que foi o impacto de semicondutores na produção no Brasil”, afirmou Moraes.

A estimativa da Anfavea tem como base um estudo feito pela consultoria Boston Consulting Group (BCG) que indica que 162 mil veículos deixaram de ser produzidos pelas montadoras na América do Sul – de um total de 3,6 milhões de unidades no mundo inteiro – durante os seis primeiros meses de 2021. Partindo da premissa de que o Brasil representa entre 80% e 85% da produção no continente, e fazendo um ajuste conservador, a Anfavea chegou à estimativa.

O mesmo estudo da BGC, apresentado durante entrevista coletiva virtual da Anfavea, prevê entre 5 milhões e 7 milhões de unidades a perda de produção da indústria global de veículos durante todo o ano por conta da falta de componentes eletrônicos nas linhas de montagem.

A previsão é de que a normalização do fornecimento de chips – essenciais na produção de veículos, dado o avanço da eletrônica nos automóveis – só aconteça no segundo semestre do ano que vem. “A foto indica que até o primeiro semestre de 2022 teremos dificuldade de abastecimento de semicondutores”, comentou Moraes. (AE)

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