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A recuperação econômica e as projeções para a China

Analistas do Safra destrincham dados sobre a retomada da economia chinesa e colocam pontos de atenção para o futuro

Paisagem da cidade de Xangai, na China

Resiliente, economia chinesa está na transição da indústria para os serviços. Em destaque, a metrópole Xangai | Foto: Getty Images

Nos últimos dias, a China revelou uma série de dados que mostram a robustez de sua recuperação econômica.

Em meio a essa bateria de informações, a retomada do PIB ganhou destaque, revelando crescimento de mais de 2% em 2020 e alta de 6,5% no quarto trimestre, na comparação anual.

Com tantos dados positivos sobre a recuperação econômica da China, o Banco Safra resolveu destrinchar as informações para projetar as tendências para os próximos anos.

De acordo com analistas do Safra, a contenção rápida da covid-19 e as medidas de estímulo de crédito foram cruciais para a recuperação econômica do maior parceiro comercial do Brasil.

No gráfico abaixo divulgado pelo Safra, é possível observar a força da retomada chinesa, após a contração anual de 6,8% no primeiro trimestre de 2020.

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Indústria impulsiona retomada

Os indicadores de confiança empresarial do setor industrial e de serviços da China voltaram ao patamar acima de 50 pontos. O patamar é o limite entre expansão e contração.

No entanto, os analistas do Safra afirmam que a recuperação econômica da China foi impulsionada mais pelo setor industrial do que pelo consumo doméstico.

Na comparação anual, a produção industrial, que caiu 1,1% em março de 2020, voltou a crescer rapidamente e fechou o ano com expansão de 7,3%.

A produção de aço cresceu 9,2% em novembro em relação ao ano anterior. Já a produção de energia subiu 23% em dezembro, enquanto o volume de carga nas ferrovias registrou alta de 2,4%.

Os dados citados formam o indicador industrial criado pelo atual primeiro-ministro e chefe de governo Li Keqiang, que registrou alta de 9,2% em dezembro, ante uma média de 7,5% nos últimos três anos.

A retomada das vendas no varejo foi mais lenta e incompleta, só voltando ao patamar positivo no mês de agosto e registrando expansão de 4,6% em dezembro, ante um ritmo médio acima de 7% no pré-pandemia.

Porém, há sinais de que houve uma perda de dinamismo no varejo chinês no final do ano.

Além disso, os indicadores de mercado de trabalho, ainda que de qualidade duvidosa, segundo o Safra, também mostram recuperação incompleta.

Estímulos à recuperação econômica

Essa retomada incompleta deve levar a uma cautela na retirada dos estímulos injetados em 2020, explicam os analistas do Banco Safra.

Os estímulos em 2020 foram muito menores do que na crise de 2008 e concentrados no período de suspensão das atividades econômicas, sem movimentos adicionais no segundo semestre.

De acordo com os analistas, ao contrário do período da crise financeira de 2008, o foco do ano passado não foi em grandes projetos de infraestrutura, mas na ampliação do crédito, com estímulo a novas concessões e rolagem das dívidas de curto prazo.

A alavancagem dos bancos e empresas públicas tem sido uma preocupação das autoridades monetárias chinesas.

Assim, o Safra avalia que tanto o aumento do endividamento dessas instituições quanto a retirada mais abrupta do apoio ao crédito em 2021 poderiam suscitar algum fator de risco para a economia.

A aparente tendência de declínio da produtividade pode criar novos desafios para a economia chinesa.

O crescimento de longo prazo das economias depende de um equilíbrio entre sua capacidade de produção e a demanda interna — especialmente no caso de grandes economias que não podem depender majoritariamente dos mercados externos.

A capacidade de produção depende da disponibilidade de capital e mão de obra, e da produtividade desses fatores, decorrentes, por exemplo, da eficiência na alocação do capital e da qualificação da mão de obra.

O Banco Safra projeta que a disponibilidade de mão de obra da China deve cair bruscamente em alguns anos, como reflexo da política de um filho por casal vigente até recentemente.

Somado a isso, o estoque de capital na China já é bastante alto, reflexo do alto nível de investimento das últimas décadas, muito acima da média das economias de outros países.

Em alguns setores como transportes, esse estoque de capital já é possivelmente mais alto do que em várias economias desenvolvidas, e, portanto, crescentemente sujeito a retornos decrescentes.

Assim, cada vez mais o crescimento chinês dependerá dos seus fatores de produção e de uma demanda interna forte.

China em transição econômica

Segundo estudo de 2019 do FMI, a China vem passando por uma transição econômica, de uma economia industrial para uma economia de serviços.

A experiência nas economias avançadas mostra que a produtividade no setor de serviços é tipicamente mais baixa do que na indústria, o que também é verificado na China.

Esse efeito de composição do PIB poderia, portanto, desacelerar o crescimento chinês, risco que não escapou às autoridades do país.

Segundo os especialistas do Safra, a China tem posto grande ênfase no desenvolvimento de nova geração de serviços, apoiados em tecnologias de ponta, tais como as derivadas da inteligência artificial.

A maior participação do setor de serviços, independente da sua produtividade, tende a diminuir a demanda relativa por matérias-primas.

Em contraste com os serviços tradicionais, presenciais e de baixa produtividade, importantes segmentos desse setor têm sofrido transformações radicais na China, com impacto positivo na sua produtividade.

O crescimento das plataformas de comércio digital significou um grande aumento da produtividade do segmento de comércio em geral, além de novas oportunidades para toda a economia.

A transformação do setor financeiro pela sua integração com o comércio e os meios de pagamento digitais, permitindo que algoritmos analisem o risco de crédito de forma inédita e quase instantânea, já tem trazido novo impulso à concessão de empréstimos.

Os analistas do Banco Safra argumentam que o fortalecimento dos serviços digitais e que geram maior retorna dependerá da qualidade da alocação do capital.

Além disso, a instituição aponta que instrumentos fiscais serão essenciais para evitar o prolongamento de atividades industriais gravosas e criar novas formas de renda para a população chinesa.

Os analistas do Banco Safra avaliam que a demanda por algumas matérias-primas por parte da China deve cair.

A queda será motivada pelos grande estoque de infraestrutura de anos recentes e a futura expansão do setor de serviços, que requer menos capital físico.

A tendência para a economia da China torna menos provável um boom como o observado no período de 2004 a 2010, no campo da alimentação.

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