Reservas internacionais em ouro do Brasil quase dobram em 3 meses
Compras do Banco Central no período somaram 62,3 toneladas. Metal representa 2,1% do total de reservas do País em dólares
14/08/2021Em movimento iniciado em maio, o Banco Central, comandado por Roberto Campos Neto, voltou a comprar ouro para estocar nas reservas internacionais do Brasil.
Em julho, o BC adquiriu no mercado o equivalente a 8,5 toneladas do metal. Em três meses, as compras já somaram 62,3 toneladas e fizeram as reservas em ouro quase dobrar.
Os dados sobre as reservas mostram que o BC adquiriu 11,9 toneladas do metal em maio – ou 384 mil onças troy, considerando a medida utilizada internacionalmente.
Em junho, foram mais 41,8 toneladas (1,344 milhão de onças troy), um recorde para um único mês considerando a série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2000.
Em julho, 8,5 toneladas (274 mil onças troy). Em comparação, as 62,3 toneladas compradas nos três meses pesam o mesmo que 16 elefantes asiáticos.
Com as operações, o BC elevou em 92,4% o volume de ouro nas reservas, para 129,7 toneladas.
Em dólares, a quantidade de metal subiu 98,5%, para US$ 7,596 bilhões, já considerando a valorização do ativo nos últimos meses.
O movimento chama a atenção porque, de novembro de 2012 a abril deste ano, o BC pouco havia alterado o montante das reservas aplicado em ouro.
Nesse período, comandaram a autarquia os economistas Alexandre Tombini, Ilan Goldfajn e o próprio Campos Neto, a partir de 2019.
Ouro eleva reservas, que são um ‘seguro’
As reservas internacionais, que no fim de julho somavam US$ 355,7 bilhões, funcionam como uma espécie de seguro contra crises cambiais.
Os recursos são suficientes para cobrir os atuais compromissos do Brasil em dólar e, por isso, o País se coloca hoje como um credor em moeda estrangeira – e não como um devedor.
A maior parte das reservas é formada por títulos conversíveis em dólares e por dólares depositados em bancos centrais de outros países, no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco de Compensações Internacionais (BIS).
No fim de 2020, essa parcela chegava a US$ 332 bilhões, ou 93,4% das reservas.
Em comparação, o montante de ouro no fim do ano passado era de US$ 4,101 bilhões, ou 1,2% do total.
Ao comprar 62,3 toneladas do metal nos últimos três meses, o BC elevou para US$ 7,596 bilhões a parcela de ouro nas reservas. O ativo corresponde agora a 2,1% do total.
Diferença entre gestões
O percentual ainda não representa uma grande mudança no perfil de alocação dos recursos, mas marca uma diferença de postura do BC de Campos Neto em relação a seus antecessores.
Com a chegada de Campos Neto ao BC, em 2019, surgiram sinais de que a gestão das reservas internacionais poderia mudar, mesmo que pontualmente.
Em maio daquele ano, Campos Neto confirmou a jornalistas que havia uma discussão dentro da autarquia sobre a gestão dos ativos.
Na ocasião, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, disse que um dos objetivos era rever a eficiência dos instrumentos de reserva, e não discutir os níveis do seguro.
Ouro e a pandemia
No caso específico do ouro, a pandemia afetou de forma substancial as cotações.
Em meio à crise, bancos centrais e empresas de todo o mundo foram em busca do metal como ativo de reserva.
Esse aumento de demanda fez a cotação à vista da onça troy na OTC Metals, nos Estados Unidos, subir de US$ 1.515,12 no fim de 2019 para US$ 1.896,49 no encerramento de 2020. O avanço foi de 25,2%. (AE)