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Retomada da economia deve prosseguir em 2021

A equipe de macroeconomia do Safra vê o país em ritmo similar ao do fim do ano passado, com indústria acelerada

Construção

Construção civil está entre os setores que devem carregar o crescimento para o ano que se inicia, segundo os economistas / Foto: Getty Images

A julgar pelos dados econômicos mais recentes, a atividade brasileira segue em trajetória de recuperação, sem mostrar sinais de reversão, apesar do recrudescimento da pandemia nas últimas semanas.

Nesse contexto, a equipe de macroeconomia do Safra destaca que a economia caminha para terminar 2020 em ritmo próximo ao verificado no último trimestre de 2019, ainda que com diferenças fortes entre os setores – a indústria segue acelerada, enquanto os serviços se mostram mais atrasados.

Mais um dado positivo a considerar no quadro macroeconômico é o fato de que a dívida pública, ainda que elevada, está fechando 2020 em um nível abaixo do que vinha sendo projetado por muitos economistas. A mais recente projeção da equipe do Safra para o endividamento público é de que ficará em 90% do PIB, quando há pouco tempo havia prognósticos de uma relação acima de 100% entre dívida e PIB.

De acordo com o IBC-Br, índice do Banco Central considerado uma aproximação do produto interno bruto em base mensal, a economia brasileira cresceu 0,86% na margem em outubro, ficando apenas 2,61% abaixo do nível observado um ano antes.

Além disso, os dados diários de consumo de energia elétrica do Operador Nacional do Sistema, a prévia da sondagem da confiança da indústria, e os números do índice SafraPay para o varejo e os serviços sugerem novo avanço.

Os especialistas do Safra projetam um crescimento do IBC-Br de 0,4% em novembro, e de 0,3% em dezembro, sem depender da reposição de dias de trabalho por adiantamentos de férias.

Desse modo, a variação do PIB calculada pelo IBGE deve ficar negativa em 1,2% no quarto trimestre do ano, na comparação com o mesmo período de 2019. Nesse caso, a contração da economia no ano deve ser de 4,1%. Será um resultado, embora bem negativo, muito melhor que as previsões catastróficas que chegaram a ser feitas, de encolhimento de até 9% no ano.

Em um cenário mais conservador, sem crescimento adicional da atividade nos dois últimos meses de 2020, o tombo do PIB no ano seria de 4,2%.

Com isso, a projeção de queda de 4,4% do PIB em 2020 feita pelo Banco Central parece contemplar uma contração do índice de atividade nos próximos dois meses, possivelmente em consequência do recrudescimento da pandemia.

Ainda que o movimento observado recentemente em alguns países europeus sugiram uma contração da atividade menor do que em março, os analistas do Safra avaliam que novas restrições podem tirar entre 0,1 e 0,2 ponto porcentual do PIB em 2020.

Carregamento estatístico

O carregamento (carry-over, a variação do PIB interanual, caso se considere que não haja variação marginal) ao longo de 2021 deve ser de 3,6%, conforme o cenário-base do Safra – isto é, a economia entrará no ano com essa tração produzida no segundo semestre de 2020.

Já sem crescimento adicional nos meses de novembro e dezembro em 2020, esse carregamento seria de 3,3%.

Ou seja, a expectativa de crescimento anual do PIB de 4,4% em 2021 se explica na sua maior parte pela recuperação já ocorrida na segunda metade de 2020, o que indica um crescimento modesto ao longo do ano que vem, com uma demanda interna menos aquecida.

A estimativa da equipe do Safra prevê contração do consumo no primeiro semestre e uma suave retomada a seguir.

Com o fim do auxílio emergencial, a renda disponível das famílias deve diminuir significativamente num primeiro momento. Contudo, esse efeito será compensado em parte pela recuperação do emprego e pela “despoupança” das famílias que guardaram dinheiro nos meses seguintes.

O dado significativo da economia na segunda metade de 2020, de vários pontos percentuais do PIB, não deve se dissipar completamente nos próximos meses.

Nos cenários keynesianos, por exemplo, o gasto fiscal tende a ajudar a economia com capacidade ociosa a engrenar e manter-se a seguir em movimento, a não ser que ela tenha um problema estrutural ou um excesso de dívidas que continue a constranger o consumo das famílias e o investimento em geral.

No Brasil, fora a gravidade da pandemia e riscos fiscais, dizem os analistas, não deveria haver nenhuma força fundamental freando de maneira significativa o crescimento do país.

Apesar de restrições pontuais na oferta, na esteira do aumento rápido da demanda nos meses recentes, o setor externo continua se beneficiando de um ambiente favorável, o serviço da dívida externa não é oneroso e o Banco Central deverá ser cuidadoso no ajuste dos juros e especialmente no estímulo ao crédito.

Esse cuidado deve se estender ao tratamento dos depósitos compulsórios dos bancos e requerimentos prudenciais que foram relaxados em 2020, em vista da capitalização saudável do setor bancário e da necessidade de apoiar a economia.

Embora tenha aumentado, o crédito para as famílias – consignado, pessoal ou imobiliário – não está em nível que limite a expansão econômica nos próximos meses, já que seu serviço tem sido suavizado pela queda das taxas de juros.

Estas deverão se manter ainda baixas, considerando as previsões feitas pela equipe macroeconômica do Safra para a evolução da inflação em 2021.

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