close

‘Revanche’ depois da covid deve inflar serviços

Após um ano de restrições, vacinas devem estimular busca por viagens, restaurantes e outros prazeres vetados na pandemia

Viagens pós-covid. mulher com bois de flamingo na praia

Quando a crise se acalmar, procura por viagens e outros serviços pode ser bem maior do que muitos esperam, diz o Whashington Post | Foto: Getty Images

Com a recuperação da economia esperada para após a vacinação em massa no mundo inteiro, a retomada da procura por serviços de viagens, restaurantes e espetáculos de entretenimento pode ser muito maior do que o normal, pela vontade da maioria das pessoas de recuperar o tempo “perdido” durante o isolamento social.

A tendência é de uma espécie de “era da revanche” contra o vírus, o que pode ter como efeito o aumento do tempo de espera nas reservas antecipadas para viajar, comer fora, hospedar-se ou se divertir onde quer que seja possível .

Segundo uma reportagem do Whashington Post, a queda causada pela covid-19 abalou profundamente os gastos com serviços, que geralmente se sustentam bem durante as recessões. Quando a crise se acalmar, com o avanço da vacinação, a procura por serviços que estiveram vetados durante o isolamento pode ser bem maior do que muitos esperam, diz o jornal.

O desejo das pessoas de compensar todas as coisas deixaram de fazer durante a pandemia — e as economias acumuladas por quem não tinha onde gastar — sugere um período de grande expansão da procura por serviços nos setores de turismo, lazer e entretenimento, diz a reportagem.

Seja qual for a dimensão dessa tendência, ela definirá o curso da economia.

Os gastos com serviços equivalem a cerca de metade do produto interno bruto dos EUA, enquanto mais de quatro em cada cinco empregos nos EUA estão no setor de serviços. No Brasil, os serviços representavam cerca de 70% do PIB antes da pandemia.

Setor enfrenta dificuldades no Brasil

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, no relatório do PIB do terceiro trimestre de 2020, apesar da recuperação disseminada entre as atividades econômicas, “nota-se que o setor de serviços ainda apresenta grande resistência à recuperação com grande influência das atividades de administração pública e de outros serviços”.

O relatório destaca que mesmo com a flexibilização das medidas de isolamento e pequena melhora marginal dos setores de alojamento, alimentação, serviços prestados às famílias, educação e saúde, o crescimento observado ainda é muito pouco em comparação a deterioração causada pela pandemia.

“A elevada incerteza quanto ao futuro da pandemia tem inibido a recuperação mais robusta do setor de serviços, que é a atividade mais relevante da economia brasileira”, afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.

Uma crise anormal

Geralmente, as recessões são impulsionadas pela fraqueza nos gastos com bens duráveis, que vão desde um par de meias até um automóvel estilo SUV. Isso porque, embora os americanos gastem muito mais em serviços do que em bens, itens de grande porte, em particular, são mais fáceis de abrir mão quando a economia fica difícil, segundo o Whashington Post.

Essa crise tem sido diferente não apenas porque os gastos com serviços caíram, mas porque, tirando um breve período de queda, as pessoas voltaram a gastar com bens duráveis mesmo em isolamento.

No quarto trimestre, os números do Departamento de Comércio dos Estados Unidos mostram que os gastos com bens corrigidos pela inflação aumentaram 7,2% em relação ao ano anterior, enquanto os gastos com serviços caíram 6,8% no mesmo período.

Os estágios iniciais das recuperações econômicas são geralmente impulsionados pelos gastos com bens. Isso porque muita demanda reprimida que se acumula durante a recessão é liberada quando as pessoas finalmente voltam a gastar.

Crise tem características diferenciadas

Os gastos com serviços não aumentaram muito após as recessões passadas, em parte porque nem chegaram a cair significativamente. Também não há a mesma dinâmica de demanda reprimida que para mercadorias.

As famílias podem voltar a frequentar restaurantes, por exemplo, mas eles não vão ir outra vez na mesma semana ou pedir dois pratos ao invés de um para compensar o período de isolamento.

Mas depois de uma pandemia que obrigou as pessoas a ficarem isoladas por quase um ano, as coisas podem ser muito diferentes. É provável que as pessoas passem a ser mais assíduas nos restaurantes e bares, viagem mais e passem a sentir prazer maior em ir a cinemas, shows e jogos esportivos.

Planos para viagens dos sonhos

Viajar mais nas férias, por mais tempo e em lugares mais distantes para recuperar o tempo perdido parece ser uma tendência, segundo o jornal.

Graças à combinação de redução de gastos durante a crise e rendimentos que nos Estados Unidos, muitas pessoas terão mais dinheiro disponível para gastar. Os números do Federal Reserve mostram que, até o final do terceiro trimestre, as famílias tinham US$ 2,2 trilhões a mais em dinheiro do que no final de 2019. Com a taxa de poupança elevada e outro pacote de alívio agora avançando no Congresso, esse número deve crescer.

Grande parte está do dinheiro extra está nas mãos de pessoas que tiveram mais facilidade para manter seus empregos durante a pandemia. Essas também são as pessoas que mais gastam em serviços não essenciais.

Isso pode ser uma boa notícia para alguns dos muitos trabalhadores do setor de serviços que permanecem desempregados. Mas especialistas acham que pode haver dificuldade de oferta para o previsível aumento da demanda. Isso poderia inflacionar os preços.

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra