Aperto de juros afeta PIB dos Estados Unidos
Safra Weekly avalia os efeitos da alta dos juros nos Estados Unidos e o risco de piora da situação fiscal no Brasil
28/03/2023O Federal Reserve aumentou a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual na semana passada, e com isso os juros nos Estados Unidos subiram para o intervalo entre 4,75% e 5,00% ao ano.
Essa elevação já era esperada pelo Banco Safra e pelo consenso dos economistas. A mediana das projeções indica probabilidade de uma última alta dos juros este ano, para 5% a 5,25% ao ano, mas atualmente essa decisão é incerta.
O comunicado sobre a decisão do Fed divulgado após a reunião afirma que o sistema bancário norte-americano é seguro e resiliente. Mas a recente quebra do Silicon Valley Bank e a situação de outros bancos devem levar a um aperto nas condições de crédito, o que prejudica a atividade econômica e o emprego nos Estados Unidos. Diante da inflação ainda desconfortável, e da elevada incerteza sobre a economia, o comitê do Fed avisou que alguma alta de juros adicional pode ser apropriada.
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O presidente do Fed, Jerome Powell, alertou que o efeito no crédito pode ser modesto, mas há riscos de aperto mais significativo. Ou seja, o Fed ainda está tentando entender as consequências sobre a economia. Esses fatores dão um viés de baixa ao cenário base traçado pelos especialistas do Banco Safra. A projeção atual é de uma pequena retração da atividade ao longo desse ano, com queda de 0,5% do nível do PIB real do quarto trimestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado.
Este cenário está baseado no impacto tradicional do ciclo de aperto monetário sobre a demanda doméstica nos Estados Unidos, com a subida da taxa de desemprego para próximo de 5%, acima do atual patamar de 3,6%. Isso pode mudar se a confiança na saúde do setor bancário piorar.
Os acontecimentos recentes colocam um risco de baixa nas projeções do Banco Safra para a economia dos Estados Unidos. Uma eventual deterioração mais pronunciada do mercado de trabalho anteciparia a redução da inflação. Assim, o Safra atribui maior probabilidade para o Federal Reserve manter a taxa de juros no atual patamar na sua próxima reunião, no início de maio.
Risco fiscal pressiona juros no Brasil
No Brasil, a grande expectativa é sobre o novo arcabouço fiscal que deve ser apresentado pelo Ministério da Fazenda nos próximos dias.
Na semana passada o Ministério apresentou as linhas gerais do relatório de avaliação de receitas e despesas referente ao 1º bimestre. Este é um documento periódico previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal para monitoramento da meta de resultado primário. Ele serve também para acompanhamento do cumprimento do limite de gastos.
No relatório, o governo melhorou consideravelmente sua previsão de resultado primário, principalmente pelo aumento da expectativa de receitas. A melhora reflete as medidas de curto prazo anunciadas pela Fazenda em janeiro. O resultado primário melhorou em R$ 120,6 bilhões, partindo de estimativa de déficit primário de R$ 228,1 bilhões.
A receita primária líquida aumentou em R$ 110 bilhões, complementada por pequena redução nas despesas primárias de R$ 10,6 bilhões. Parte do aumento da receita vem da reoneração dos combustíveis e mudanças no ICMS.
Os grandes números fiscais apontados pelo governo neste primeiro relatório bimestral são próximos dos números estimados pelo Banco Safra. Mas há divergências em algumas linhas importantes de receitas e despesas.
O Safra está mais otimista com PIS/COFINS e Receitas Não Administradas. Mas está mais pessimista em relação ao Imposto de Renda.
No caso das despesas, o Safra inclui os efeitos de medidas líquidas e certas que o governo ainda não incorporou neste momento, como o reajuste adicional do salário mínimo a partir de maio. Isso representa entre 4,5 a 8 bilhões de reais.
A compensação aos estados representa mais 4 bilhões de reais. E a compensação da União ao piso nacional do salário da enfermagem, 16 bilhões de reais. A soma representa gasto de 24,5 bilhões de reais.
Também chama atenção a previsão bem mais otimista do governo em relação aos gastos previdenciários, principal linha de despesa. Não só o governo revisou para baixo a sua própria estimativa de gastos previdenciários, como ela é inferior à projeção do Safra em 14,7 bilhões de reais.
A tendência, portanto, é de que essa despesa seja revisada para cima nas próximas divulgações. O governo já mencionou que o déficit poderia ser inferior a R$ 100 bilhões. Trata-se de um cenário possível, mas pouco provável, por duas razões: A primeira está relacionada aos gastos, que tendem a ser maiores. A segunda é que as receitas tendem a ser menores.
Seja como for, ainda é cedo para dizer como efetivamente a arrecadação desempenhará nos próximos meses. Mas, resumindo, a melhora das projeções fiscais apresentadas no relatório bimestral veio, em linhas gerais, dentro do esperado, com grandes números próximos às nossas projeções.
Algumas medidas que devem aumentar as despesas e a perspectiva de um crescimento mais fraco do que o projetado pelo governo, sugerem o viés de baixa para as receitas e piora do resultado fiscal. Portanto, o Safra vê como pouco provável que o resultado primário seja melhor que o déficit de R$ 107,5 bilhões. Na verdade, a tendência é de que possa ser ligeiramente pior que isso.
Confira a íntegra do relatório semanal de macroeconomia do Safra AQUI.