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Setor elétrico é opção de refúgio contra oscilações da Bolsa de Valores

Empresas como CPFL, Equatorial, Eneva e Neoenergia podem suavizar oscilações do portfólio de ações na Bolsa de Valores

Energia investimentos

As ações das empresas do setor são consideradas um refúgio por apresentar histórico com menores oscilações | Foto: Getty Images

O mercado de ações ganhou milhares de novos investidores no Brasil nos últimos anos. A B3, a Bolsa brasileira, já contabiliza quatro milhões de contas de pessoas físicas em renda variável.

Parte desse contingente viveu o seu primeiro ‘frio na barriga’ em março do ano passado, o pior momento da crise da covid sobre o mercado financeiro. O amargor das perdas, porém, foi encurtado graças à rápida recuperação vista nos meses seguintes.

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Hoje, por outro lado, o mercado brasileiro vive um momento mais prolongado de cautela. O Ibovespa tem sofrido durante este segundo semestre, operando hoje 20% abaixo do seu recorde histórico, alcançado no mês de junho.

A volatilidade faz parte do mundo da renda variável, ainda mais com a proximidade de um ano eleitoral. Mas é importante lembrar que o Ibovespa nada mais é do que uma cesta composta pelas principais empresas listadas no Brasil, e que é possível buscar caminhos mais suaves para uma carteira de ações.

Um dos principais é a seleção de papéis que fazem parte do setor elétrico, considerado um refúgio por apresentar histórico com menores oscilações.

As últimas movimentações da carteira recomendada do Banco Safra – a Safra Top 10 Ações – ilustram essa estratégia. A carteira recomendada passou a incluir a CPFL Energia (CPFL3) em novembro, em virtude da estabilidade do fluxo de caixa da empresa, uma boa opção para atravessar a volatilidade mais elevada do mercado.

Para entender como se dá a operação das companhias de energia elétrica e quais são os nomes preferidos pelo time de análise do Safra no setor, confira a seguir as explicações de Daniel Travitzky, analista da Safra Corretora.

Por que o setor elétrico é defensivo?

As cinco características que fazem do setor elétrico um investimento intrinsecamente defensivo, na visão de Travitzky, são:

  • Produto: O produto das empresas do setor é a energia elétrica, que tem uma elasticidade baixa com relação a preço. Ou seja, não importa tanto se fica mais caro ou barato, o consumo de energia elétrica tende a se manter estável. Principalmente para consumidores de baixa tensão, que são residenciais e comerciais, atendidos pelas distribuidoras. Isso porque as pessoas não deixam de acender a luz, tomar banho etc.

  • Monopólio: O setor é mais eficiente quando poucas empresas operam uma grande área de clientes. Por isso é um monopólio natural e que é regulado pelo governo, que coloca um teto no lucro, mas também oferece garantias para o empreendedor operar o sistema de forma confortável. Desse modo, as empresas têm uma rentabilidade mínima garantida em contratos de longo prazo, geralmente de 30 anos. Além disso, há cláusulas para que as receitas sejam corrigidas pela inflação. Ou seja, o setor conta com receitas garantidas e reajustadas pelo IPCA ou, em alguns casos, IGP-M.

  • Margem: As empresas do setor precisam fazer investimentos de grande porte, como construir uma usina de geração ou uma linha de transmissão. No entanto, a posterior manutenção dos ativos é relativamente simples, de modo que as companhias conseguem auferir margens bastante atrativas. O segmento de transmissão está entre os mais rentáveis, no qual a margem Ebitda pode chegar a 90%.

  • Regulação: A energia elétrica é um produto de primeira necessidade. A falta de luz causa problemas maiores do que a escassez de outros produtos, o que gera uma sensibilidade política grande. A regulação no Brasil é realizada em âmbito federal, o que traz um processo mais bem estruturado do que em setores com interferências regionais, como o saneamento básico. Isso é crucial para garantir segurança para as empresas realizarem investimentos pesados no início do negócio. É um setor que precisa ser estável.

  • Dividendos: As companhias do setor elétrico são conhecidas por pagar frequentemente dividendos altos a seus acionistas. Esses rendimentos são atualizados pela inflação, o que confere às ações características similares a títulos públicos.

Características trazem menor variação em relação ao Ibovespa

Tais traços se traduzem em um histórico de menor variação nos preços das ações do setor, se comparados ao Ibovespa. No jargão do mercado, isso significa um ‘beta’ menor do que 1: quando o índice sobe, os papéis do setor elétrico sobem menos; quando o índice recua, eles recuam menos.

Em um momento de volatilidade e inflação alta como o atual, as elétricas se destacam como uma opção conservadora dentro da Bolsa, diz Travitzky, que também enxerga vantagem sobre outros setores com maior dificuldade de repassar a inflação por conta da competição.

O analista pondera, entretanto, que a abertura das curvas de juros nos últimos meses pressiona o custo financeiro do setor elétrico, naturalmente mais alavancado por ser intensivo em capital. Ainda assim, entende que há oportunidades interessantes de entrada em alguns nomes.

Segmento de transmissão é porto seguro

As empresas que fazem parte do setor elétrico contam com aspectos gerais semelhantes, mas há peculiaridades para cada um dos principais segmentos, assinaladas por Travitzky:

  • Geração: As maiores geradoras do país são hidrelétricas e termelétricas, responsáveis por efetivamente produzir a energia. Como mais de 60% da geração é hídrica, o segmento tem sido afetado pela falta de chuvas em 2021. Entretanto, após as crises de 2001 e 2014, as geradoras aprenderam a lidar melhor com os riscos hídricos. Hoje, contam com planejamento que inclui uma gestão ativa dos contratos de energia, protegendo melhor os resultados das variações climáticas.

  • Transmissão: É o braço logístico do setor elétrico, que capta o produto das geradoras e leva para os mercados locais por meio de torres e fios.

  • Distribuição: São as estações que captam em grande quantidade de energia e distribuem nas cidades. É uma operação que traz um pouco mais de risco. Cada localidade traz um perfil de consumo próprio, com variações de inadimplência, de instalação de medidores e de manutenção. O risco mais alto em geral é compensado por uma rentabilidade regulatória mais alta. Outro ponto importante é que o aumento do preço da energia não deveria afetar as empresas do segmento, uma vez que há os reajustes anuais e os adicionais temporários conhecidos como bandeira tarifária.

Com isso, em ordem de risco, Travitzky aponta que o segmento de transmissão é o mais seguro, seguido da geração, que traz um risco hídrico, e depois da distribuição.

Ações favoritas no setor elétrico

Entre as companhias preferidas pelo analista no setor elétrico atualmente está a já mencionada CPFL Energia (CPFL3), a segunda maior distribuidora em volume de energia vendida no Brasil, atendendo mais de 10 milhões de clientes.

Além de investimentos no segmento de transmissão, a empresa é a terceira maior geradora privada do país, entre os líderes em geração renovável, com atuação em fontes hidrelétrica, solar, eólica e biomassa. É controlada pela chinesa State Grid, maior empresa de energia elétrica do mundo.

Travitzky destaca que o negócio de distribuição da CPFL está concentrado no Sudeste, em regiões consolidadas que não devem sofrer com as revisões tarifárias e que exigem um nível mais baixo de investimentos na expansão da rede. A companhia ainda exibe um forte histórico de distribuição de dividendos.

Outra favorita é a Neoenergia (NEOE3), controlada pelo grupo espanhol Iberdrola. As distribuidoras contam com 15,7 milhões de consumidores ativos, e a empresa possui sete ativos de transmissão em operação.

Na área de renováveis, em operação, são 21 parques eólicos, um parque solar e participações em sete usinas hidrelétricas. Além disso, controla a Termope, termelétrica movida a gás natural com contrato de fornecimento para redes em Pernambuco e na Bahia.

Para Travitzky, a Neoenergia tem um potencial de crescimento grande, e suas ações têm sido negociadas a preços baixos, em níveis próximos do IPO. O analista espera que a empresa apresente uma redução no endividamento no ano que vem, o que deve trazer um bom pagamento de dividendos em 2023.

Outra incluída na seleção é a Equatorial (EQTL3), que atua na distribuição no Nordeste. No segmento de transmissão, possui oito projetos de linhas e subestações já concluídos. No segmento de geração, tem participação na Geramar, que opera termelétricas a óleo no Maranhão.

Um dos pontos positivos, cita Travitzky, é a entrada da empresa no setor de saneamento básico, que pode ser uma via de crescimento, em razão do novo marco legal aprovado no ano passado, que abriu espaço para investimentos do setor privado.

Outro movimento importante foi a aquisição da Enova, importante nome da geração solar no país, que ajuda a diversificar os negócios da Equatorial.

Por fim, a Eneva (ENEV3) também é apontada entre as preferidas no setor elétrico. Trata-se da maior operadora privada de gás natural do Brasil, operando 11 campos nas bacias do Parnaíba e Amazonas.

A empresa chama o seu modelo de negócios de R2W (Reservoir-to-Wire), integrando a exploração de gás natural até a comercialização da energia gerada.

Travitzky avalia que a empresa é uma proteção interessante contra a crise hídrica, que elevou os despachos de termelétricas. Além disso, o analista vê possíveis benefícios para a empresa com as modernizações estabelecidas pela lei de privatização da Eletrobras.

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