Startup cria impressão 3D para transplante de órgãos

Uma startup criada por dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) busca ajudar milhões de pessoas que necessitam de transplantes de órgãos.

A TissueLabs, fundada pelo médico Gabriel Liguori e pelo engenheiro Emerson Moretto, desenvolve insumos e materiais para a criação de órgãos humanos em laboratório.

Com apenas dois anos, a TissueLabs já é reconhecida mundo afora. A empresa, que tem 13 colaboradores, atende pesquisadores de Estados Unidos, México, Portugal e Suíça, além do Brasil.

A startup funciona dentro do Centro Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, no campus Cidade Universitária da USP, em São Paulo. 

No final de 2020, a TissueLabs recebeu seu primeiro aporte de R$ 1,5 milhão. Um dos investidores é o reconhecido economista Eduardo Zylberstajn, que também se tornou estrategista da empresa.

Panorama

A startup criada pelo médico do Instituto do Coração (Incor) e pelo engenheiro Escola Politécnica (Poli) tem a missão de, no médio e longo prazo, ajudar a diminuir a fila de espera de transplante de órgãos no Brasil e no mundo.

Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, o país tinha em julho de 2020 mais de 46 mil pessoas no aguardo por um transplante de órgão.

Esse número aumentou 30% em relação a 2019, quando 35,5 mil pessoas já esperavam por um transplante.

No mundo, Liguori estima que mais de 500 pessoas morram todos os dias pela falta de uma cirurgia.

Insumos para órgãos humanos artificiais

A TissueLabs foca seu trabalho no desenvolvimento de soluções para a produção de órgãos humanos por meio de bioimpressões 3D. Todos os insumos e equipamentos foram criados e patenteados pela startup.

Hoje, os produtos permitem a fabricação de tecidos simples como válvulas cardíacas e vasos sanguíneos.

Um caso que exemplifica bem esse trabalho é o primeiro passo dado para a impressão do primeiro coração artificial do mundo.

Para alcançar essa meta, a equipe de Liguori e Moretto desenvolveu um hidrogel específico para a bioimpressão. Esse insumo é constituído de uma mistura de células-tronco do próprio paciente com as células do órgão que se busca reproduzir.

“Se você quer imprimir um coração, consegue produzir os hidrogéis a partir de corações suínos. Se você quer imprimir um fígado, consegue a partir do fígado suíno, e por aí vai”, explicou Liguori, diretor executivo da TissueLabs.

Os produtos ainda não podem ser utilizados em humanos, mas a expectativa é que “daqui a dez anos a gente consiga colocar esses órgãos para testes clínicos”, disse Liguori.

TissueLabs: reconhecimento internacional

A ideia, que foi concebida por Gabriel Liguori (31 anos), o colocou na lista dos 35 jovens mais inovadores, com menos de 35 anos de idade da América Latina, da Innovators Under 35 LATAM I 2020.

A publicação é edição em espanhol da revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (IMT). O resultado saiu em dezembro.

“Eu diria que é um reconhecimento precoce em relação ao que temos feito, mas que com certeza nos incentiva a continuar. Ser reconhecido pelo MIT mostra que você está no caminho certo”.

Mais do que o reconhecimento como empreendedor, Liguori e sente feliz por abrir um caminho para resolver problemas pelos quais ele mesmo passou.

Com poucos dias de vida, sua família descobriu que ele tinha atresia pulmonar, uma cardiopatia congênita, que impedia a circulação correta do sangue entre o coração e o pulmão.

Essa condição fez com que ele fosse operado com dois anos de idade, com idas recorrentes ao Incor, onde trabalha atualmente.

“Desde que era um menino, sabia que gostaria de ser médico para ajudar outras crianças que nasceram como eu”, afirmou Liguori.