Ibovespa recua 1,8% na semana e dólar fecha em alta cotado a R$ 4,69
Após anúncio de reajuste para funcionalismo federal, índice acelera queda na quinta-feira. Moeda americana sobe 0,16% no último dia útil para o mercado
14/04/2022O dólar apresentou leve alta de 0,16% na quinta-feira, 14, com a indicação de que a Europa pode ir na contramão do mundo em termos de aperto monetário para conter a escalada inflacionária global. Na semana, a moeda americana caiu 0,27%, e fechou cotada a R$ 4,69.
Nesta quinta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) informou que irá adotar outras medidas para conter a inflação no bloco. Segundo comunicado do BCE, a taxa de refinanciamento permanece em 0%, a de depósitos continua em -0,50% e a de empréstimo segue em 0,25%.
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O BCE reiterou que as compras de ativos por meio do programa conhecido como APP irão diminuir de 40 bilhões de euros em abril para 30 bilhões de euros em maio e para 20 bilhões de euros em junho.
O Banco Central Europeu disse também que planeja concluir o APP no terceiro trimestre. Neste período, os volumes de compras dependerão de futuros dados econômicos da zona do euro.
Durante entrevista coletiva, a presidente do banco central, Christine Lagarde, disse que o cronograma exato para o fim do programa de compra de ativos será decidido em junho.
Além disso, destacou o aumento recente na inflação, com o choque nos preços de energia, e informou que a alta de juros pode vir em “semanas ou meses” após o fim das compras de ativos.
Para Rodrigo Simões, professor de finanças da Faculdade de Comércio de São Paulo (FAC-SP), a inflação na zona do euro em 12 meses chegou a 8%, bem acima da meta estabelecida para o ano de 2%. “Como sinalizou o BCE, a alta dos juros deve ocorrer até o meio do ano, antes da compra de dívida”, disse Simões.
Ibovespa tem semana negativa
O Ibovespa também iniciou trajetória de queda nesta semana. O principal índice da Bolsa brasileira caiu 1,81%, a 116.181 pontos. No dia, o recuo foi de 0,51%.
Segundo Silvio Campos, economista da Tendências Consultoria, as preocupações em torno do aperto monetário mais forte nos Estados Unidos têm afetado os índices americanos e, consequentemente, o Ibovespa.
“Mais um dirigente do Fed (Federal Reserve) reforçou a aposta de alta de 50 pontos bases (bps) na próxima reunião”, disse Campos. “Este clima pesa sobre ativos de países emergentes, como o Brasil.”
Atualmente, o intervalo para os juros americanos é de 0,25% a 0,50%. Caso o Fed eleve a taxa em 50 bps, o patamar será de 0,75% a 1%.
Os investidores repercutiram, também, a publicação de dados do desemprego e do varejo americano mais fracos do esperado.
O número de novos pedidos de seguro-desemprego ficou em 185 mil, maior do que os 171 mil do consenso, e o varejo subiu 0,5% na base mensal, ante 0,6% esperado. O Dow Jones recuou 0,33%, Nasdaq caiu 2,14% e S&P outros 1,21% nesta quinta-feira.
Ibovespa também foi pressionado pelo reajuste de servidores federais
Outro fator que pesou sobre o Ibovespa nesta sessão foi o risco fiscal no Brasil com o anúncio de reajuste de 5% aos servidores federais, segundo Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.
O governo Bolsonaro, pressionado pelo recrudescimento de greves e paralisações que ameaçam a atividade de diversos órgãos do governo, aprovou esse aumento para todos os servidores públicos federais a partir de julho.
O custo para oferecer esse aumento para todo o funcionalismo será de R$ 6,3 bilhões em 2022 – ano em que o presidente tenta a reeleição.
“O mercado já precifica esse reajuste o que significa um risco fiscal maior”, disse Carvalho. “Além disso, temos a inflação em aceleração o que indica que os juros devem permanecer mais altos no Brasil por mais tempo.”
A taxa básica de juros no Brasil está em 11,75% ao ano e a expectativa do BC é de que ocorra um aumento de até 1 ponto percentual na Selic até o final do ano.