Vale e bancos seguram Ibovespa, após nova troca de comando na Petrobras

Em dia de cutela com o mercado externo e diante de nova intervenção do governo na Petrobras, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, inverteu a tendência positiva e operou em queda boa parte desta sessão. Ao final do pregão, no entanto, o mercado pegou tração e fechou em leve alta, puxado pela Vale e grandes bancos.

O Ibovespa subiu 0,21%, aos 110.580 pontos, apesar da Petrobras ter apresentado forte queda durante todo o dia, após o anúncio do quarto presidente da estatal na atual gestão. Com o resultado, a Bolsa passou a acumular alta de 2,51% no mês, e ganhos em torno de 5,49% no ano.

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As ações dos grandes bancos e a Vale pesaram no Ibovespa e fizeram com que o índice terminasse o pregão no azul. Vale subiu 1,35%, o Itaú, 1,51%, o Bradesco avançou 2,10% e Santander, 1,42%.

Para Rafael Foscarini, da Belo Investment Research, a Petrobras foi o principal motivo para o Ibovespa operar no terreno negativo durante toda a sessão. A demissão do presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, ontem à noite pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, incomoda os investidores, dada a interferência na empresa. As ações da estatal caíram acima de 2%, a PETR4 recuou 3,06% e a PETR3 2,85%.

No entanto, há dúvidas se de fato a nova diretoria conseguirá alterar a política de preços da estatal, o que pode atenuar eventual queda nas ações da petrolífera.

O indicado para assumir a Petrobras é Caio Paes de Andrade, secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, nome ligado ao ministro Paulo Guedes. Ele é formado em Comunicação Social, tem pós-graduado em administração e gestão pela Harvard University e mestre em administração de empresas pela Duke University.

Vale ressaltar que não tem experiência comprovada no setor de petróleo, como o cargo exige.

“O anúncio da troca de comando da estatal deixa o mercado apreensivo com relação a manutenção da política de preços”, disse Foscarini. “Caio Mario Paes de Andrade é um bom nome, mas estas mudanças causam muito ruído.” 

“A notícia já era esperada”, afirmou Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management. “Porém, o mercado pode ficar um pouco incomodado com a indicação de Andrade, pela falta de experiência.”

O assunto deve dominar a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Petrobras, que acontece amanhã. “Em um primeiro momento, o grande problema é a imagem da empresa”, ressaltou Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. “Depois, temos de ver o que acontecerá, se de fato o governo conseguirá alguma mudança. Isso, se acontecer, deve levar tempo.”

Além dos ruídos em torno da Petrobras, os investidores também avaliaram os dados da inflação divulgados pelo IBGE. A IPCA-15 de maio desacelerou para 0,59% e ficou 1,14 ponto percentual abaixo da taxa de abril (1,73%). Esse índice é o maior do indicador para o mês desde 2016 (0,86%), segundo o IBGE. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,93%. O acumulado dos últimos 12 meses é de 12,20%, acima dos 12,03% registrados em abril.

No exterior, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou nesta terça-feira, 24, que a política monetária na zona do euro está em um “ponto de inflexão”, à medida que a instituição se prepara para abandonar a era de juros negativos, como forma de combater a inflação, que até abril está em 7,5%.

Lagarde defendeu que o processo de aperto monetário ocorra de maneira “gradual” enquanto as expectativas de inflação estiverem ancoradas. “Se estivéssemos numa situação de desancoragem ou um salto na demanda, isso seria uma história diferente”, destacou, negando que esse seja o caso no momento. (Com AE)