Uruguai vacina pessoas de 50 anos na fronteira
Presidente Lacalle Pou se reúne com seus ministros hoje para decidir sobre medidas restritivas diante do avanço da covid-19 na fronteira
16/03/2021O Uruguai iniciou a vacinação de pessoas de 50 a 70 anos, em regiões do Uruguai que fazem fronteira com o Brasil, diante da preocupação com a situação da pandemia do lado brasileiro.
O governo uruguaio destinou parte das doses que sobraram de outras regiões para reforçar a vacinação na fronteira e tentar blindar o país da ameaça de novas variantes, como a P1, de Manaus.
A vacina mudou a rotina das pessoas que moram do lado brasileiro, já que as duas cidades – Sant’Ana do Livramento e Rivera – são bem próximas, sem controle migratório.
As autoridades dos dois municípios têm adotado protocolos diferentes no enfrentamento da pandemia. No lado brasileiro, Livramento sofreu com o fechamento do comércio e atualmente está sob o impacto da bandeira preta no mapa de distanciamento controlado do Rio Grande do Sul, o que indica risco altíssimo de contágio.
Já Rivera vem ocupando, desde o ano passado, o título de cidade uruguaia com maior número de casos no interior. Ainda assim, o governo local mantém restrições bem mais flexíveis do que as adotadas no lado brasileiro, inclusive com o comércio funcionando normalmente.
Uruguai teme importação de casos do Brasil
O governo do presidente Luis Lacalle Pou tem pressa, porque teme o aumento de casos importados do Brasil. No domingo, o Uruguai registrou três recordes negativos: maior número de contágios em um dia (1.587), segundo maior número de mortes (14) e maior número de internados em UTI (124).
O ministro da Saúde uruguaio, Daniel Salinas, afirmou que o momento é um dos mais complexos da pandemia e é preciso “reavaliar” a abordagem da covid.
Lacalle Pou se reúne com seus ministros hoje para decidir se adotará medidas restritivas.
O Departamento de Rivera é o primeiro a estar perto do colapso no sistema hospitalar. A região viu a ocupação das unidades de terapia intensiva chegar a níveis de saturação, de acordo com informações da Sociedade Uruguaia de Medicina Intensiva (Sumi).
Há 23 leitos em Rivera e foi organizado um plano de complementação regional para que os pacientes possam ser deslocados para outras regiões.
Medo do descontrole no lado brasileiro
Autoridades uruguaias vêm expressando preocupação com o que ocorre no Brasil, onde a pandemia saiu de controle, como no caso do Rio Grande do Sul, onde hospitais estão lotados, principalmente em Porto Alegre.
“Estamos ameaçados pela situação epidemiológica brasileira. A rapidez com a qual nos vacinamos vai ser fundamental para que o vírus deixe de sofrer mutações no nosso país. Enquanto o vírus estiver circulando, pode sofrer mutação”, afirmou o ministro uruguaio, na semana passada.
Julio Pontet, presidente da Sumi, afirmou que o Uruguai atravessa “seu pior momento” na pandemia e destacou que a entidade está produzindo um plano de contingência para minimizar todos os problemas decorrentes da saturação dos hospitais.
A cidade de Rivera, que tem uma população de cerca de 60 mil pessoas, tem 828 casos ativos de covid-19 e acumulou nos últimos sete dias uma média de 79 contágios para cada 100 mil pessoas, o mais alto do país. “Hoje, nosso maior problema, sem dúvida, é o que está acontecendo no Brasil”, afirmou José Mazzoni, vice-governador do departamento.
Vacinação com Coronavac
Em fevereiro, o Uruguai recebeu 192 mil doses da Coronavac e iniciou a campanha de imunização há poucos dias. No Departamento de Rivera, ao menos 15 mil pessoas já foram vacinadas com as primeiras doses, de acordo com o intendente do departamento, Richard Sander. Uma nova carga de 1,5 milhão de doses deve chegar ainda nesta semana para impulsionar a campanha.
O Uruguai, que pretende vacinar o mais rapidamente possível seus 3,5 milhões de habitantes, também espera uma carga de 450 mil vacinas da Pfizer até o fim de abril. Desde o início da pandemia, o país registrou 71.691 casos e 712 mortes. Apesar dos números baixos, em comparação com os vizinhos, o Uruguai foi um dos últimos países da região a começar a vacinação.