XP fatura R$ 32 bilhões no trimestre e supera estimativas
Safra tem classificação neutra para a XP destacando a perspectiva de retornos baixos do mercado de ações, desvalorização da moeda e "curvas de rendimento íngremes"
13/08/2024A XP apresentou números 4% acima das estimativas do banco safra, em grande parte explicada pelo rigoroso controle dos custos operacionais. As novas entradas líquidas atingiram R$ 32 bilhões no trimestre, com os fluxos líquidos de varejo praticamente dobrando vs. o primeiro trimestre, impulsionados por fortes volumes de emissões de dívidas, conforme relatado pela Anbima e evidenciado pelo aumento das receitas dos serviços do emissor.
As ações da XP caíram -28% desde o início do ano, e o Safra espera que os resultados do segundo trimestre apoiem uma sessão de negociação positiva. O Safra reitera a recomendação neutra, dado nosso ceticismo sobre as surpresas relevantes de resultados em meio ao atual ambiente macroeconômico.
Resultados do 2T24: A XP registrou um lucro líquido recorrente de R$ 1,118 bilhão no 2T24, +14% ano a ano e 4% acima da nossa estimativa, principalmente devido à menor CMV e maior eficiência nas despesas operacionais. No lado da receita, a receita líquida do XP atingiu R$ 4,503 bilhões no 2T24, um aumento de +21% no t/t, em linha com nossa estimativa, devido principalmente ao bom desempenho do segmento varejista:
- (i), como a receita bruta varejista aumentou em +14% t/t (para R$ 3,294 bilhões), na volta dos rendimentos estáveis (de 1,29% vs. 1,30% no 2T23) e
- (ii) receita de serviços corporativos e emissores, que subiu 2,2x em relação ao mesmo período do ano (R$629 milhões), refletindo um negócio atacadista bem diversificado que também se beneficia da boa dinâmica das emissões de dívidas.
Como resultado, o rendimento de receita cresceu 6bps t/t para 1,56% (+5bps t/t no varejo para 1,29%). As comissões e outros gastos (CMV) caíram -3% no trimestre, apesar do crescimento de 5% das receitas do varejo no t/t, impulsionando a linha de lucro bruto (4% batido; 22% no a/a e 7% no t/t).
O volume de negócios do core foi positivo, com aumento de 6,6% no ano (os números da Modal foram incorporados a partir do 3T23) e queda de -5,6% t/t, que é um valor positivo, refletindo despesas com pessoal menores do que o esperado e também um impacto específico em “outros” por receitas não-core mais altas provenientes de “incentivos do Tesouro Direto, B3 e outros.”
Sobre este último, o Safra calcula um efeito positivo de R$ 70 milhões no lucro antes de impostos. Excluindo este efeito, a EBT ainda nos teria superado em 11%, o que o Safra considera “impressionante”.
A entrada líquida no trimestre subiu para R$ 32 bilhões, em comparação com R$ 15 bilhões no 1T24 (praticamente dobrando para R$ 24 bilhões no varejo), e foi mais forte que a estimativa do Safra de R$ 20 bilhões.
Os clientes ativos atingiram 4,626 milhões, com quase 40 mil de adições líquidas. Nos novos verticais, o TPV do cartão de crédito atingiu R$ 11,5bilhões, um aumento de 2% no t/t; a pensão cresceu para R$ 75 bilhões no 2T24, um aumento de 3% no t/t; no ramo de seguros, o GWP da XP aumentou 34% no t/t, atingindo R$ 307 milhões; e a carteira de créditos da XP caiu 14% no t/t, para R$ 19,3 bilhões.
Crescimento da XP levou os investimentos no varejo para outro nível
Ao longo da última década, a XP desempenhou um papel fundamental na evolução e desenvolvimento do setor de investimento no varejo no Brasil, desfrutando de um crescimento robusto, apoiado por uma distribuição baseada em agentes autônomos e arquitetura aberta, destaca análise do Banco Safra.
No período, o Brasil passou de “verão para um inverno pesado”: os clientes estavam interessados na plataforma e nos produtos mais sofisticados da empresa em comparação com os bancos, especialmente em meio a uma política monetária dovish (*) de 2017 a 2021.
Mas agora, a perspectiva é marcada por retornos baixos do mercado de ações, desvalorização da moeda e curvas de rendimento íngremes, temperando o otimismo de curto prazo.
Está difícil lá fora, mas há mais em jogo?
O Banco Safra reconhece que o ambiente atual joga contra produtos sofisticados, retornando atratividade para opções tradicionais. No entanto, acredita que a proposta de valor da XP não conseguiu sustentar a lacuna criada por seu sucesso passado.
Naturalmente, o negócio continua dependente de pessoas qualificadas e fortes relações com os clientes, mas a fórmula para o sucesso no passado pode não ser a mesma para o futuro.
XP tem classificação neutra
“A robustez do XP deve evitar um enfraquecimento ainda maior; iniciando com Neutro’.
O Safra mostra-se cético sobre uma forte surpresa de lucros em um cenário de taxa de juros de dois dígitos. Ainda assim, descarta outro conjunto de revisões negativas significativas às previsões, dada a plataforma robusta da XP e a opcionalidade do crescimento além dos investimentos.
O Safra estima para 2024 e 2025 um lucro líquido de R$ 4,384 bilhões e R$ 4,988 bilhões, respectivamente, -2% abaixo do consenso.
Em comparação com o guidance de 2026, a estimativa do safra está aquém das metas da XP, pois o cenário inspira uma postura conservadora, destaca o banco.
Preço alvo de 21 dólares
O Safra chegou a um Preço Alvo de US$ 21 por ação (baseado em um modelo de dividendos), +16% de valorização potencial, avaliando a empresa em 13,2x Preço Alvo/Lucro, vs. níveis atuais de 12,4x 2024E P/L e 10,9x 2025E, o que não implica nenhuma reclassificação de múltiplos significativa de um nível médio de 2 anos de 12,0x P/L (após o de-rating).
O Safra considera um ROE de longo prazo de 25%, assumindo que a empresa tem um excesso de capital de cerca de R$ 4 bilhões atualmente, um Ke de 15,3% e uma taxa de crescimento terminal (g) de 6,5%.
A preferência do Banco Safra nos mercados de capitais continua sendo BTG Pactual, já que as condições atuais ainda não revelaram uma perspectiva mais otimista.
O BTG se destaca como um jogo mais “ancorado” e menos dependente de retornos macroeconômicos. O Safra vê a XP mais correlacionada com fatores locais e política monetária, enquanto a B3 também pode refletir efeitos globais.
Como tal, um cenário de ciclo global de corte de taxas que contrasta com a postura cautelosa do Brasil também ajuda a justificar a classificação neutra, segundo o Safra.
Um vislumbre do segundo trimestre
O Safra estima R$ 1,079 bilhão de lucro líquido, apoiado pela forte atividade de DCM (Debt Capital Markets) evidenciada pelos dados do setor (Anbima), que deve impulsionar a receita de serviços de emissores e renda fixa.
O Safra também espera que isso seja favorável aos fluxos líquidos, previstos em R$ 20 bilhões.
Riscos para a tese:
- piora das perspectivas macroeconômicas impactando ações e outros produtos de “risco”;
- maior concorrência com os bancos existentes;
- atrito com escritórios de agentes autônomos, afetando a renovação de contratos de exclusividade; e
- mudanças regulatórias significativas.
(*) Dovish refere-se a uma postura de política monetária que dá prioridade ao crescimento económico e ao emprego em detrimento do controlo da inflação, muitas vezes através de taxas de juro mais baixas.