A atividade mundial está desacelerando com os efeitos defasados do ciclo de aumento de juros realizado pelos principais bancos centrais, especialmente nos setores mais sensíveis ao crédito. Nos EUA, o desaquecimento do consumo de bens industrializados aumentou os estoques no atacado e, consequentemente, as encomendas ao setor manufatureiro estão em retração desde o final do ano passado.
Na zona do Euro, a atividade industrial não tem apresentado desempenho positivo, acumulando retração de 1,4% em doze meses. O arrefecimento da demanda por bens manufaturados pelo Ocidente tem reduzido o volume exportado pelas empresas chinesas, o que, por sua vez, tem contribuído para o desempenho da atividade abaixo do esperado após o fim das restrições de mobilidade.
Assim, a combinação de normalização das cadeias de produção e o arrefecimento da demanda por bens manufaturados têm acarretado queda dos preços das commodities no período recente. Nos últimos doze meses, o preço do petróleo recuou cerca de 40%, o cobre em torno de 15% e as commodities agrícolas caíram 10,5%.
Esse movimento contribui para a redução da pressão inflacionária ao redor do mundo e suporta nossa projeção de que a inflação cheia ao consumidor americano diminuirá de 6,4% no ano passado para 2,7% nesse ano.
No Brasil, o arrefecimento dos custos de produção está colaborando para a queda da inflação. O preço das commodities em moeda local recuou cerca de 18% nos últimos doze meses, o que propiciou uma forte deflação no atacado. O IPA-M apresentou deflação de 7,5% no acumulado em doze meses, incluindo a queda de 11,3% nos agropecuários e de 6,1% nos industrializados, o que representa uma importante redução no preço dos insumos básicos de produção.
Além disso, o ritmo de aumento do rendimento médio nominal tem desacelerado e favorecido o arrefecimento dos custos das empresas.
Dessa forma, reduzimos nossa projeção para o IPCA desse ano de 5,8% para 5,5% nesse mês. A redução da inflação beneficia o poder de compra. Assim, elevamos nossa estimativa para o consumo das famílias e, consequentemente, aumentamos a projeção de PIB real desse ano para 1,4%.
A combinação de menor inflação e melhor desempenho da atividade econômica favorece os indicadores de confiança dos consumidores e empresários, além do ingresso de investimento estrangeiro.
Dessa forma, as contas externas continuam equilibradas e o fluxo cambial deverá apresentar superávit nesse ano em torno de US$ 10 bilhões. Assim, esperamos que a taxa de câmbio permaneça ao redor do atual patamar nos próximos meses, o que também contribui para o processo desinflacionário.
Na seara das contas públicas, o arcabouço fiscal foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda apreciação pelo Senado. A proposta é capaz de reduzir o gasto do governo em relação ao PIB no médio prazo e melhorar o resultado fiscal gradualmente ao longo dos próximos anos, mantendo a sustentabilidade da dívida pública. Estimamos déficit primário de 1,1% do PIB nesse ano.
Portanto, a normalização da capacidade de produção e o desaquecimento da demanda por bens manufaturados têm contribuído para a queda do preço das commodities no mercado internacional, favorecendo um processo de desinflação no Brasil. A redução da inflação, especialmente de alimentos, beneficia poder de compra e a atividade local.