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Ilton Caldeira

O paraquedas da economia americana

A economia dos Estados Unidos está desafiando as previsões de que a inflação não cairia sem uma destruição significativa de empregos

Emprego nos Estados Unidos

A geração de emprego ficou abaixo de 200 mil por dois meses consecutivos pela primeira vez desde o início da pandemia | Foto: Getty Images

O paraquedas é um dispositivo utilizado para retardar a queda livre, proporcionando as condições para um pouso seguro e controlado. Na fotografia mais atual da economia americana, podemos fazer uma analogia com o paraquedas para afirmar que o mercado de trabalho nos Estados Unidos tem sido, até aqui, o responsável por ter evitado uma recessão.

Se no início de 2023 as projeções, de maneira geral, apontavam para uma recessão praticamente certa, os indicadores recentes têm mostrado que a economia está desafiando as previsões de que a inflação não cairia sem uma destruição significativa de empregos.

O crescimento da geração de emprego ficou abaixo de 200 mil por dois meses consecutivos pela primeira vez desde o início da pandemia. Mas a taxa de desemprego, por sua vez, caiu para 3,5%. No entanto, a escassez de trabalhadores, principalmente a falta de mão de obra qualificada, mantém a pressão de alta sobre os salários.

A remuneração em geral teve alta de 0,4% em julho. O ganho acumulado nos últimos 12 meses está em 4,4%. O crescimento salarial acima da inflação, está revertendo a tendência anterior e dando às famílias americanas mais poder de compra.

Esses desenvolvimentos, juntamente com uma recuperação imobiliária e um boom nos gastos com infraestrutura apontam que o Fed (Banco Central dos EUA) poderá finalmente domar a inflação sem desencadear uma recessão, o que no jargão do mercado financeiro é chamado de “pouso suave”.

Os ganhos na capacidade de consumo das famílias refletiram no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que cresceu ao ritmo anualizado de 2,4% no segundo trimestre de 2023. O resultado ficou acima da mediana de expectativas de analistas, que estimava uma alta de 1,8% no período.

Um impulso federal para fortalecer a produção doméstica está levantando novas questões sobre a prontidão da força de trabalho da América. Grandes incentivos fiscais levaram a um forte impulso na construção de fábricas, mas há uma escassez de profissionais especializados para preencher os novos empregos.

A estratégia para competir com a China na fabricação de carros elétricos e semicondutores, por exemplo, requer muito mais trabalhadores qualificados. Para ilustrar apenas uma parte desse desafio, com quase 700 mil vagas de emprego em segurança cibernética, os Estados Unidos não têm especialistas suficientes para proteger a infraestrutura crítica e as redes federais do país contra ameaças, de acordo com membros do Congresso em uma audiência pública em junho.

A escassez de mão de obra nos EUA é o novo normal. No curto prazo, esse quadro poderá ser amenizado com a atração de mão de obra qualificada vinda do exterior. Mas para que isso se torne mais efetivo é necessário uma abordagem mais direcionada por parte das autoridades americanas de imigração, reduzindo burocracias, sem renunciar aos princípios de segurança nacional, permitindo o ingresso de talentos em quantidade suficiente para manter o crescimento sustentável da economia.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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