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Ilton Caldeira

Espuma na pista para o pouso

A agenda de junho foi tão intensa que passou na velocidade de um avião supersônico, com direito a zonas de turbulência

Avião

O time de pista segue em ação, calculando o quanto de espuma será necessário para trazer o avião em segurança para o solo | Foto: Getty Images

O mês de junho de 2023 foi tudo, menos calmo quando se trata de temas econômicos de grande relevância. A agenda foi tão intensa que passou na velocidade de um avião supersônico, com direito a zonas de turbulência.

Em 3 de junho, o presidente Joe Biden assinou o projeto de lei do teto da dívida, evitando o que poderia ter sido uma inadimplência sem precedentes na História americana em 5 de junho, quando o Departamento do Tesouro já havia indicado que o governo ficaria sem dinheiro. Um calote generalizado teria causado ondas de choque nas principais economias mundo afora.

O projeto, conhecido como Lei de Responsabilidade Fiscal, suspende o teto da dívida de US$ 31,4 trilhões do país até janeiro de 2025, após a próxima eleição presidencial, e reduz os gastos federais.

Passada a tempestade da dívida, o foco do mercado financeiro ficou com a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em Inglês) que interrompeu a série de elevações nas taxas de juros. Após 15 meses, as taxas foram mantidas nas faixas entre 5% e 5,25%.

Apesar da pausa, as autoridades do Fed, o Banco Central Americano estimaram que as taxas devem subir até o fim do ano, com possivelmente mais dois aumentos adicionais de 0,25 ponto percentual após a inflação ainda persistente e a força demonstrada pelo mercado de trabalho nos EUA.

O próprio Jerome Powell, presidente do Fed argumentou que “a redução da inflação provavelmente exigirá um período de crescimento abaixo da tendência e algum abrandamento das condições do mercado de trabalho.” A inflação cedeu do pico de 9% ao ano em meados do ano passado, para 4% atualmente. Mas ainda acima da meta de 2%.

Muitos participantes do mercado financeiro avaliam: se a autoridade monetária planeja novos aumentos de juros, porque já não o faz em sequência? O próprio Powell indicou em sua fala ao Congresso dos EUA: “Continuaremos a tomar nossas decisões reunião após reunião, com base na totalidade dos dados recebidos e suas implicações nas perspectivas de atividade econômica e inflação, bem como no balanço de riscos.”

A economia tem resistido aos ventos contrários relacionados com condições de crédito mais apertadas para as famílias americanas e empresas. Isso, segundo Powell, provavelmente afetará a atividade econômica, as contratações e o índice de inflação. “A extensão desses efeitos permanece incerta”, disse o presidente do Fed.

Na verdade, a autoridade monetária está agindo com cautela porque sabe que não existe espaço para erros. Quando a inflação já dava claros sinais de que estava em trajetória muito fora dos padrões percebidos nas últimas quatro décadas, o Fed foi acusado de ter sido leniente e de ter demorado para iniciar ações para controlar a forte escalada dos preços.

Durante a reunião do Fomc, houve também uma atualização das projeções econômicas indicando a possibilidade de menor inflação ainda em 2023. Isso amplia a percepção do cenário de “soft landing”, ou pouso suave, no qual o Fed conseguiria controlar a inflação sem levar necessariamente a economia americana a uma recessão. O time de pista segue em ação, calculando o quanto de espuma será necessário para trazer o avião em segurança para o solo.

Em tempo: em 23 de agosto o Partido Republicano dará a largada oficialmente na corrida presidencial. O primeiro debate entre os pré-candidatos a presidente pela legenda acontecerá em Milwaukee, Wisconsin. Os temas econômicos e seus efeitos na vida do cidadão comum certamente estarão em pauta.


Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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