Nos anos 1990, o conceito de edifício sustentável estava associado à utilização de produtos fabricados com insumos reciclados. Com a evolução da visão da sustentabilidade, as decisões de escolha de produtos tornaram-se mais abrangentes pois levam em conta todo o ciclo de vida dos elementos construtivos, contemplando aspectos relativos à durabilidade, distância entre o local de produção e de utilização, potencial de reciclagem, além de outros ligados aos processos no âmbito global, desde a extração de matéria prima, produção, montagem, instalação, uso, demolição, até o descarte de resíduos.
No entanto, em relação à seleção de produtos para a construção dos edifícios, ainda faltam aos projetistas e empreendedores ferramentas que tragam parâmetros objetivos para auxiliar na escolha.
Sobretudo porque essa escolha deve levar em conta as questões de durabilidade, manutenibilidade e desempenho, quesitos importantes para garantir a qualidade da edificação ao longo de toda sua vida útil.
As dimensões ambientais dos materiais, componentes e sistemas de construção podem ser integradas e combinadas por simulações que permitem estimar os efeitos do uso de diferentes produtos em diferentes condições. Essas simulações devem permitir a avaliação do impacto ambiental do edifício durante todo o seu ciclo de vida.
Só a partir dessas análises é possível melhor compreensão para se tomar decisões de especificação entre as escolhas associadas a custo, ao uso de energias renováveis, entre outras.
As Declarações Ambientais de Produtos (DAP) são documentos que agrupam informações dos impactos ambientais de um produto ou de sistema obtidos graças à realização de uma Análise do Ciclo de Vida (ACV). O termo utilizado em inglês é Environmental Product Declaration (sigla EPD).
Com a intenção inicial de colocar à disposição dos agentes informações para avaliar os impactos ambientais de um edifício, as declarações são frequentemente utilizadas para comparar produtos. No entanto, elas são dificilmente comparáveis, uma vez que a unidade funcional (UF) representa a função do produto na obra e pode variar segundo o produto de construção.
A única comparação rigorosa deve se efetuar levando-se em conta a edificação completa. Ainda é possível, mas com uma série de precauções, comparar certos produtos em relação a suas bases de dados.
De maneira geral, os fabricantes reconhecem controlar a parte do ciclo de vida dos produtos da qual eles são diretamente responsáveis (a produção, a aplicação etc). Porém, não controlam perfeitamente o restante do ciclo de vida, que é essencial para a realização da análise do ciclo de vida do edifício.
A concepção do edifício baseada no ciclo de vida e na sustentabilidade requer informação detalhada sobre aspectos técnicos e de desempenho dos produtos, no entanto, os dados existentes não estão em um formato coerente e automaticamente utilizável. É necessário se iniciar um entendimento comum da estrutura do conteúdo e do formato da informação de produto.
Desempenho ambiental terá métricas mais objetivas com nova plataforma
No Brasil, está em andamento uma iniciativa para a montagem de uma plataforma de dados sobre produtos da construção.
Essa plataforma se chama SIDAC – Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção e permitirá a obtenção de dados sobre itens associados à fabricação dos produtos de construção como o consumo de energia e a emissão de dióxido de carbono, entre outros.
O SIDAC, por meio de uma interface web, possibilitará que fabricantes de materiais de construção cadastrem seus produtos e calculem seus indicadores de desempenho ambiental. Paralelamente, a plataforma possibilitará aos especificadores como projetistas, arquitetos, e construtores calcular os indicadores de consumo de energia e emissão de dióxido de carbono embutidos em seus projetos.
A plataforma pretende assim colaborar para a escolha de produtos e sistemas em função de seus impactos ambientais e ser acessível a empresas fabricantes de todos os portes.
O SIDAC é financiado pelo programa SPIPA – Strategic Partnerships for the Implementation of the Paris Agreement. A coordenação é compartilhada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), pela Agência Alemã para Cooperação Internacional (GIZ), e peloConselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS).
O SIDAC conta ainda com um comitê consultivo formado por representantes de diversos setores de materiais de construção e por representantes dos agentes da construção. Conta também com um comitê científico formados por universidades brasileiras e institutos de pesquisa. Um avanço importante, portanto, na parametrização da sustentabilidade na construção no País.