A inflação mundial está arrefecendo com a normalização das cadeias de produção, a estabilização da demanda por bens industrializados e a queda do preço de commodities. A redução das pressões inflacionárias permite que alguns bancos centrais encerrem os ciclos de aperto monetário em breve e, em outros casos, iniciem um ciclo de redução da taxa de juros.
Nos EUA, a inflação ao consumidor acumulada em doze meses passou de 9,1% em junho do ano passado para 3,0% em junho desse ano. O núcleo da inflação anual passou de 5,9% para 4,8% no mesmo período, incluindo o início da dissipação das pressões em serviços. Assim, acreditamos que o Fed manterá o atual patamar restritivo da taxa básica de juros entre 5,25%- 5,50%a.a. nos próximos trimestres.
A estabilização da demanda por bens tem prejudicado as encomendas e a produção de produtos manufaturados em diversos países. Na Alemanha, a confiança dos empresários voltou a cair nos últimos meses e atingiu patamar compatível com retração da atividade. Indicadores do setor de serviços mostraram arrefecimento recentemente, o que sugere que a atividade europeia deverá estabilizar em breve. Por outro lado, o núcleo de inflação tem apresentado maior resiliência na região, o que poderá levar o BCE a realizar mais uma alta de juros nesse ano.
No Brasil, a atividade apresentou desempenho modesto no segundo trimestre, com a dissipação dos efeitos positivos da enorme safra de soja e uma expansão moderada da demanda doméstica. A redução do preço das commodities em moeda local permitiu a forte deflação no atacado desde o terceiro trimestre do ano passado. Além disso, o ritmo de aumento do salário nominal também desacelerou nos últimos trimestres e retornou para o padrão anterior da pandemia.
Assim, a combinação de estabilidade da absorção doméstica e contenção dos custos de produção tem reduzido a inflação brasileira. O IPCA-15 de julho apresentou deflação de 0,07% e acumula alta de 3,2% em doze meses, apresentando processo de desinflação disseminado, com redução dos núcleos para patamar semelhante ao verificado antes da pandemia na média trimestral com ajuste sazonal.
Os indicadores de difusão, que medem o percentual de componentes com aumento de preços, também diminuíram sensivelmente, o que corrobora a amplitude do movimento desinflacionário. Enfim, a dinâmica da inflação ao consumidor apresenta melhora inequívoca e corrobora a nossa projeção de IPCA em 3,3% em 2024, em torno do centro da meta.
O saldo comercial deverá apresentar superávit de USD 75 bilhões nesse ano, o maior resultado da série histórica. As exportações estão sendo impulsionadas pela expansão da safra de grãos e pelo crescimento da extração de petróleo, contrabalanceando a queda do preço das commodities no mercado internacional. Enquanto isso, as importações estão recuando com o modesto desempenho do volume e queda dos preços dos insumos importados. O elevado saldo tem beneficiado a taxa de câmbio e, consequentemente, a inflação.
O orçamento fiscal do próximo ano deverá ser enviado ao Congresso até o final de agosto. O arcabouço fiscal estipulou meta de resultado primário zero em 2024, o que traz o desafio de serem aprovadas medidas arrecadatórias.
Estimamos que as mesmas permitirão melhora do resultado fiscal para-0,5%do PIB em 2024(ante-0,9%do PIB previsto para esse ano). Portanto, o Banco Central do Brasil possui as condições necessárias para começar o processo de normalização da taxa de juros em agosto. Acreditamos que a taxa Selic encerrará esse ano em 11,75%a.a. e em 8,75%a.a.em 2024.