As últimas semanas foram extremamente agitadas no campo da economia internacional e, em especial, para a diplomacia brasileira. Reuniões bilaterais, o comando temporário do G-20, abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, entre outros temas.
O cenário global está passando por uma transformação significativa na qual os Estados Unidos e a China emergem como protagonistas em uma disputa pelo estabelecimento de suas moedas como padrão internacional de comércio. Essa rivalidade tem implicações profundas para a economia global, e o Brasil, como uma das principais economias em desenvolvimento, desempenha um papel importante nesse contexto.
A ascensão econômica da China nas últimas décadas desencadeou uma disputa acirrada para posicionar o yuan chinês como uma alternativa viável ao dólar dos Estados Unidos como moeda de referência internacional. Essa rivalidade tem implicações profundas para a economia global, o comércio internacional e a estabilidade financeira.
O dólar americano tem sido a moeda dominante nas transações globais desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A hegemonia do dólar se baseia em diversos fatores, como a estabilidade econômica e política dos Estados Unidos, a liquidez do mercado de dólares e a confiança dos investidores. No entanto, a China está determinada a desafiar essa supremacia.
O status do dólar como moeda de reserva internacional oferece vantagens significativas aos EUA, incluindo a capacidade de financiar déficits comerciais e orçamentários a taxas favoráveis. Além disso, a maioria das transações internacionais, incluindo o comércio de commodities, é denominada em dólares. Portanto, os EUA têm um interesse claro em manter sua moeda dominante.
A estratégia chinesa envolve uma série de medidas destinadas a promover o uso do yuan nas transações internacionais. Isso inclui a assinatura de acordos bilaterais e multilaterais que facilitem o comércio em moeda local, bem como a criação de infraestrutura financeira que suporte a liquidação em yuan. Além disso, a China tem impulsionado a internacionalização de sua moeda através de programas de incentivo, como a Iniciativa Cinturão e Rota, que promove o uso do yuan em investimentos e transações comerciais associadas a projetos de infraestrutura em diversos países.
A ascensão das moedas digitais, como o yuan digital da China e a proposta do dólar digital dos Estados Unidos, adiciona outra dimensão à competição. As moedas digitais têm o potencial de revolucionar os sistemas financeiros globais e podem ser usadas para expandir a influência econômica e política dos emissores. A China tem uma vantagem inicial nesse campo, uma vez que lançou com sucesso seu yuan digital em algumas cidades-piloto.
Nesse contexto, o Brasil desempenha um papel estratégico. Como uma das principais economias emergentes do mundo e um grande exportador de commodities, o Brasil mantém relações comerciais substanciais com ambos: Estados Unidos e China. Isso coloca o país em uma posição única para influenciar a evolução da competição entre o dólar e o yuan.
O Brasil já tem experiência na utilização de moedas diferentes do dólar em suas transações comerciais. Com a China como seu maior parceiro comercial, o país tem estabelecido acordos bilaterais que permitem a liquidação em yuan, em vez de dólares. Isso demonstra a disposição brasileira em diversificar suas moedas de liquidação e se alinhar com os interesses chineses.
Por outro lado, os laços econômicos e políticos históricos entre o Brasil e os Estados Unidos não podem ser subestimados. Os Estados Unidos são um importante parceiro comercial e de investimento para o Brasil, e o dólar ainda desempenha um papel significativo nas transações entre os dois países. Qualquer movimento para afastar-se do dólar em direção ao yuan deve ser cuidadosamente ponderado para evitar possíveis repercussões negativas nas relações bilaterais.
Além disso, a decisão do Brasil sobre qual moeda usar em suas transações internacionais deve considerar sua própria estabilidade financeira. O Brasil tem enfrentado desafios econômicos nos últimos anos, incluindo inflação, instabilidade política e problemas fiscais. Qualquer mudança na escolha da moeda padrão internacional de comércio deve ser feita com cautela para garantir que não coloque em risco a estabilidade econômica do país.
Se souber navegar com habilidade nesse ambiente complexo, o Brasil pode não apenas proteger seus próprios interesses, mas também contribuir para moldar o futuro do sistema financeiro internacional.