close
Marcus Nakagawa

Marcus Nakagawa

A COP-27 e o ESG das empresas

Seja na COP ou na Copa ou todos os dias, temos que divulgar e mobilizar mais pessoas, empresas, ONGs e representantes do governo para debatermos e alcançarmos os nossos objetivos globais

eólicas

A governança global precisa evoluir, incluindo os que não tem vida digna, minimizando as mudanças climáticas, conservando florestas e buscando os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU | Foto: Getty Images

A COP-27 terminou com diversos avanços comparativamente aos últimos anos e algumas metas a serem definidas para os próximos anos. E logo depois, já entramos na Copa do Mundo, o que faz o foco de muita gente e empresas mudarem.

A 27ª Conferência das Partes, a COP-27, ocorreu neste ano em Sharm El-Sheihk no Egito, em novembro de 2022, com o objetivo de reunir lideranças do mundo todo para discutir ações para enfrentar as mudanças climáticas e o aquecimento global. Estes encontros são realizados desde 1995 com a presença de representantes de governo, ONGs, empresas e representantes da sociedade civil. Este evento serve como uma pressão política e da sociedade para que governos e empresas revejam suas políticas, objetivos e processos em prol da diminuição das emissões de gases de efeito estufa, injustiça climática, desmatamento, energia, investimentos verdes, entre outros temas.

Um dos principais pontos desta conferência foi uma resolução para um tipo de financiamento climático para países mais vulneráveis à crise climática. Porém, ainda não está claro de onde vem o dinheiro, para onde e o quanto irá para os países e pessoas que sofrem com todas estas mudanças de clima.

Outro ponto de avanço foi a apresentação formal no documento da menção das Soluções baseadas na Natureza (SbN), que está relacionada às ações e abordagens não somente para proteger um ecossistema específico de florestas ou recifes de corais, mas fazer com que existam programas e ações que gerenciem sustentavelmente estes recursos naturais, o que ajuda na minimização dos efeitos da crise climática. Ou seja, a natureza em pé bem cuidada para ajudar a combater as mudanças no planeta.

Na questão dos combustíveis fósseis, continuaram as expressões “reduzir gradativamente” ou “eliminar gradativamente” nos documentos oficiais, como os termos da COP do ano passado, em Glasgow. Alguns movimentos, como na Comissão Europeia, já estão em discussão sobre o início do fim dos carros a combustão na Europa em 2035. Empresas como Ford, Volkswagen, Audi, Citroen, Fiat, Jeep, Peugeot, entre outras já anunciaram as datas de finalização de seus motores a diesel e gasolina na Europa. Mas o grande problema é a fonte de energia neste continente que continua a base principalmente de combustíveis fósseis, agravado atualmente pela guerra na Ucrânia.

E o famoso limite seguro dos 1,5ºC do Acordo de Paris ainda ficou a risca, uma vez que precisamos, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), reduzir as emissões globais pela metade até 2030 e em 70% até 2050. Precisamos continuar focados para não perder a base científica de meta e prazos para este objetivo comum.

Um dos pontos interessantes é que, enquanto ocorre a COP, muitas pesquisas, empresas e assuntos aparecem na pauta, como o exemplo de uma pesquisa da Gartner, realizada entre junho e julho de 2022 com 221 executivos entrevistados em cargo de diretoria ou superior e divulgada na época da conferência mundial. O material mostrou que 87% destes líderes esperam aumentar seus investimentos na organização em sustentabilidade nos próximos dois anos. E que os clientes são aqueles que estão pressionando essas organizações a investirem mais em questões ligadas ao ESG, sendo 80% das respostas dos executivos. Na sequência vem a pressão dos investidores (60%) e reguladores (55%).

Já no Brasil, durante a COP-27, o Bradesco apresentou que até 2025 tem a sua meta de R$ 250 bilhões para negócios sustentáveis, fomentando negócios de impacto positivo por meio dos seus serviços. E o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou o programa BNDES Créditos de Carbono, o primeiro de compra de carbono regular feito por um banco público no nosso país. Anunciou também durante o evento que dobrará recursos para créditos ESG e a neutralidade em carbono até 2050.

Outra divulgação muito interessante foi a criação da empresa Biomas que será dedicada às atividades de restauração, conservação e preservação de florestas no Brasil. Esta empresa conta com o aporte de R$ 20 milhões de cada uma das empresas sócias, formadas pelo Itaú, Marfrig, Santander, Suzano, Vale e Rabobank.

Mas será que o brasileiro já ouviu falar da COP? A pesquisa divulgada pela Kantar neste ano de 2022 durante o período das discussões globais sobre o clima, mostrou que 44% dos entrevistados afirmam entender a conferência, 33% dizem ter ouvido falar, mas não sabem do que se trata. Comparativamente a outros países, o Brasil é o 4º, país que mais está familiarizado com o evento, atrás da China (54%), Reino Unido (51%) e Índia (45%), mostrando que os veículos de comunicação, as empresas e ONGs no país estão fazendo um bom trabalho, mas podemos avançar.

Seja na COP ou na Copa ou todos os dias, temos que divulgar e mobilizar mais pessoas, empresas, ONGs e representantes do governo para debatermos e alcançarmos os nossos objetivos globais. Temos que entender que agora já somos 8 bilhões de pessoas no mundo. E que esta governança global precisa evoluir cada vez mais, incluindo aqueles que não tem uma vida digna, minimizando os efeitos das mudanças climáticas, conservando as nossas florestas e buscando todos os outros Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, nosso sonho como seres neste planeta. A próxima COP-28 está programada para Dubai nos Emirados Árabes, busquemos cada vez mais, melhores resultados até lá.

Abra sua conta


Marcus Nakagawa é professor da ESPM e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra