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Eduardo Yuki

Panorama macroeconômico: taxa Selic fecha 2024 em 10,25%

Banco Safra altera expectativa para apenas mais um corte da Selic em 2024, na ausência de mudanças nas expectativas do Focus ou sinalização do BC

porto de santos

No Brasil, o superávit comercial de US$ 100 bilhões em doze meses espelha uma oferta de bens transacionáveis crescente e capaz de acomodar o crescimento do consumo através de mais importações | Foto: Getty Images

A economia mundial apresenta sinais de arrefecimento, conforme esperado pelo fim dos estímulos fiscais e aumento da taxa de juros nos últimos anos. Nos EUA, o consumo das famílias a preços constantes cresceu apenas 0,4% ao longo desse ano, o que representa uma expansão média de apenas 0,1% ao mês. Esse desempenho reflete o modesto aumento da renda disponível para consumo em 0,3% acumulado nos últimos quatro meses e a retração do saldo de crédito bancário.

Assim, as encomendas desaceleraram e a demanda por novos trabalhadores apresentou pequena queda, especialmente com a redução das vagas em aberto. O ajuste gradual do mercado de trabalho tem colaborado para o menor ritmo de crescimento dos salários e, consequentemente, para a redução das pressões inflacionárias. O deflator do consumo, excluindo alimentação e energia, voltou a arrefecer em abril e acumulou alta de 2,8% nos últimos doze meses, ante 4,8% há um ano.

Assim, mantemos a expectativa de que o FED iniciará o ciclo de redução da taxa de juros no segundo semestre.

Na zona do Euro, o fraco desempenho da atividade e a redução da inflação levará o BCE a começar o afrouxamento monetário em junho, conforme antecipado pelos seus membros.

Na China, a retração do mercado imobiliário continua pesando sobre a atividade local. Enquanto as vendas de varejo ficaram praticamente estagnadas no início desse ano, a produção industrial conseguiu avançar com aumento das exportações.

A maior inserção no mercado mundial foi concomitante a uma queda dos preços exportados pelo país, o que tem ajudado a manter a inflação de bens comportada ao redor do mundo.

No Brasil, o elevado superávit comercial em torno de US$ 100 bilhões acumulado nos últimos doze meses permitiu que o déficit de conta corrente diminuísse quase um ponto percentual do PIB no mesmo período, espelhando uma oferta de bens transacionáveis crescente e capaz de acomodar o crescimento do consumo através de mais importações.

O consumo das famílias deverá crescer em torno de 3,0% nesse ano, levando a uma expansão acumulada de 8,5% desde o início da pandemia, equivalente a uma média de 1,6% ao ano durante cinco anos.

Os ganhos de poder de compra gerados pela desinflação, a ampliação do crédito na esteira da redução dos juros a partir de meados de 2023 e um mercado de trabalho que tem se mostrado resiliente ajudaram as vendas de varejo a superar o patamar anterior à pandemia em, apenas, 4,9%, enquanto o volume de serviços prestados às famílias apenas se aproximou do nível que vigorava no início de 2020.

A moderação dos custos de produção, especialmente pela redução dos preços no atacado, ajuda a explicar a redução da inflação ao consumidor em um quadro sem excesso de demanda nos últimos trimestres.

O IPCA acumulado em doze meses atingiu 3,7% em abril, com redução dos núcleos e do índice de difusão. A média móvel trimestral, com ajuste sazonal e anualizada, do índice cheio ficou abaixo do centro da meta, sendo que a média dos núcleos de inflação ficou em 3,0% e a inflação de serviços em apenas 3,2%.

Em contraste com a evolução da inflação recente, as expectativas de inflação do consenso dos economistas divulgadas pelo Relatório Focus subiram nas últimas semanas, refletindo incertezas externas e internas.

Essas expectativas são um importante insumo para as projeções de inflação da autoridade monetária. Na última reunião do Copom, a projeção de inflação do Banco Central do Brasil (BCB) para 2025 subiu para 3,3%, considerando a hipótese de que a taxa Selic encerraria 2024 em 9,63% a.a.. Após esse comitê, ocorreu mais um movimento altista das expectativas dos economistas, o que pode ter elevado mais um pouco a projeção de inflação da autoridade monetária, com reflexo na trajetória de juros de sua preferência, o que restringe o espaço para cortes da Selic nas próximas reuniões do Copom.

Assim, não obstante a Selic estar em terreno restritivo, alteramos nossa expectativa para apenas mais uma redução da taxa Selic nesse ano, na ausência de mudanças nas expectativas do Focus ou sinalização do BCB, deixando-a em 10,25% no final de 2024.

O BCB poderá voltar a cortar a Selic após um período de pausa, possivelmente na esteira do eventual relaxamento da política monetária americana e na ausência de efeitos mais profundos ou persistentes do desastre no Rio Grande do Sul sobre a inflação, mas isso talvez só aconteça no ano que vem.

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Eduardo Yuki é Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra. Atua há mais de vinte anos no mercado financeiro. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP.

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