Há algum tempo atrás li na excelente The Economist um artigo na parte que trata da divulgação de assuntos de interesse científico. Infelizmente, não me recordo o número. Mas, como sempre, o relato muito bem escrito trouxe ao conhecimento um experimento conduzido em 2008 pelo economista italiano Alessandro Piazza.
Ele recrutou 20 maestros para conduzir uma orquestra, todos regendo a mesma peça clássica. Um júri de especialistas, composto por músicos profissionais e críticos musicais, avaliou na forma de blind review a qualidade da execução em termos de expressividade, precisão e interpretação.
Para realizar o experimento dispositivos eletrônicos foram instalados nos instrumentos e nas batutas dos vinte maestros. O principal objetivo era avaliar em quais execuções os músicos seguiram o maestro com mais precisão. Ou seja, procurava-se saber como diferentes estilos de regência afetam o desempenho dos músicos da orquestra.
O resultado foi surpreendente. Apesar de todos os maestros regerem a mesma peça com a mesma partitura, houve uma ampla variação na
qualidade da execução, com alguns desempenhos sendo muito mais bem avaliadas do que outros.
Isso sugeriu que, mesmo diante das mesmas instruções e materiais, a habilidade do maestro em comunicar sua visão e interpretação da música teve um grande impacto no resultado final.
Dois aspectos emergem da análise dos achados. Primeiro, fatores subjetivos, como a interpretação e a comunicação, influenciam significativamente o desempenho.
Segundo, magistralmente evidenciado, é ressaltada a importância da liderança. Ou seja, a habilidade do maestro em transmitir sua visão aos músicos os conecta, o que se traduz em uma execução de mais alta qualidade.
O experimento de Piazza e seus resultados são inspiradores. Vivemos tempos de aceleração crescente na geração e incorporação de novas e modernas tecnologias. Tempos que nos permitem estabelecer e manter relações humanas distantes uns dos outros. Tempos em que os algoritmos analisam e interpretam nossas vontades.
É exatamente nesses tempos, motivados por essas condições, que se assiste como espectadores perplexos o acirramento exponencial da competição.
Nesse ambiente como produzir a diferenciação? A resposta não é mais tecnologia. Isso ocorrerá naturalmente. Por paradoxal que pareça a
subjetividade é a resposta.
Como afirma David Besanko em seu livro Economics of Strategy: tudo que pode ser copiado rapidamente não se constitui em fator de vantagem competitiva sustentável. É a comunicação, nela incorporada todos os atributos virtuosos, e a batuta do maestro que farão uma determinada organização seguir adiante de um batalhão indistinto de entes assemelhados.