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Sidney Klajner

Sidney Klajner

O setor de saúde precisa de uma overdose de ESG

Por todos os impactos que as questões ambientais, sociais e de governança têm na saúde, é dever de qualquer instituição do setor colocar o ESG em sua estratégia

Einstein Divulgação

Estratégia ESG do Hospital Albert Einstein tem como objetivo genuíno transformar os serviços de saúde no Brasil e avançar no seu propósito de entregar vidas mais saudáveis para um número cada vez maior de seres humanos | Foto: Divulgação

Cresce entre organizações das mais diversas áreas de atividade a preocupação com suas práticas Ambientais, Sociais e de Governança (ASG, ou ESG na sigla do inglês Environment, Social & Governance). No entanto, mais do que qualquer indústria de qualquer setor, ASG tem a ver com saúde. As mudanças climáticas, por exemplo, trazem ameaças que vão desde a fome e desnutrição causadas pela queda na produção de alimentos até a proliferação de doenças infecciosas. Já as desigualdades sociais vêm acompanhadas de condições como a falta de saneamento básico, acesso à água potável e insegurança alimentar, que também impactam a saúde, particularmente nas populações mais vulneráveis. São desafios globais que exigem também as melhores práticas de governança, pautadas por ética, transparência e gestão eficiente dos recursos.  

Se organizações de todos os setores devem estar com a agenda ASG, devem mais ainda as que atuam na área da saúde, inclusive definindo métricas, formas de avaliar, relatar e gerenciar o desempenho sustentável, o que não é tarefa fácil.

No Einstein, ASG tornou-se diretriz estratégica. Temos, inclusive, um comitê estratégico voltado para o tema. O Plano de Sustentabilidade, criado em 2011, passa por revisões periódicas, e a versão 2023-2025 está em linha com os critérios ASG, com metas a serem atingidas até 2030 para 11 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

Como uma organização sem fins lucrativos, o Einstein não tem compromisso com o lucro ou remuneração de investidores. Por isso, a estratégia ASG tem como objetivo genuíno transformar os serviços de saúde no Brasil e avançar no seu propósito de entregar vidas mais saudáveis para um número cada vez maior de seres humanos. 

Nessa jornada, temos não apenas ampliado nossas iniciativas, mas também buscado mensurar de maneira objetiva as múltiplas dimensões de nosso desempenho em ASG. Será que estamos no caminho certo? Onde estão as oportunidades para evoluir mais?

Foi em busca de respostas a essas questões e de parâmetros de comparação que buscamos a S&P Global Rating para avaliar a adoção de critérios Ambientais, Sociais e de Governança nas nossas atividades. O Einstein alcançou 76/100, pontuação que, na comparação com outras análises públicas da S&P, coloca nossa instituição como uma das três melhores do mundo na cadeia de saúde (hospitais, empresas de equipamentos e insumos e laboratórios farmacêuticos) e como a mais bem posicionada na América Latina entre empresas dos mais diversos setores.

Um trecho do relatório da S&P destaca que as atividades do Einstein são direcionadas pela missão de prover “benefícios sociais por meio da excelência em qualidade, segurança e inovação em saúde, além de expandir o acesso a indivíduos e comunidades vulneráveis.” Isso resume claramente a nossa crença: não existe saúde sem equidade. Por isso, atuamos para reduzir as desigualdades, ampliando o acesso a uma assistência de qualidade com as nossas parcerias com o setor público, desenvolvendo projetos importantes para o aprimoramento do sistema público de saúde no contexto do SUS e compartilhando conhecimentos por meio de pesquisa e capacitação profissional.

Também contribuímos para a equidade com a inovação, as tecnologias digitais e a excelência de serviços que visam promover a inclusão de todos nos cuidados de saúde. A título de exemplo, vale citar que os protocolos assistenciais e os indicadores de qualidade e segurança são os mesmos nas unidades próprias do Einstein e nas mais de três dezenas que administramos no setor público. Da mesma forma, nosso sólido modelo de governança é espelhado a todas as nossas unidades no setor público.

O rating da S&P também apontou um desempenho do Einstein acima da média nas métricas ambientais. Um dos destaques é a gestão de resíduos, com um índice de reciclagem de cerca de 30% do total gerado, patamar acima do divulgado pelo setor globalmente. Mantas usadas para revestir caixas de materiais cirúrgicos, por exemplo, transformam-se em peças plásticas e resíduos têxteis tornam-se matéria-prima para a produção de sacolas e bolsas por moradores da comunidade de Paraisópolis. Em relação aos resíduos orgânicos, 100% são usados para compostagem. 

Outra constatação da S&P é que o Einstein, que aderiu há dois anos à campanha Race to Zero da ONU, comprometeu-se em reduzir suas emissões totais de gases de efeito estufa (GEE) em 50% até 2030 (tendo como base 2020), um nível mais ambicioso que os dos pares globais. A meta é zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. 

No amplo leque de iniciativas, uma interessante diz respeito ao óxido nitroso, um gás usado em procedimentos anestésicos. Trata-se de uma das fontes de geração de GEE que mais contribui individualmente para a pegada de carbono dos hospitais. Desde 2013, o Einstein reduziu em 40% o consumo anual desse gás com adequação mais precisa do fluxo para cada tipo de cirurgia, calibragem e melhoria dos equipamentos e conscientização da equipe de anestesistas. Como inadequações no fluxo, na manipulação da válvula e na calibragem dos equipamentos são ocorrências comuns nos hospitais, imagine quanto GEE deixaria de ser emitido se mais organizações adotassem iniciativas desse tipo. 

O fato é que por todos os impactos que as questões ambientais, sociais e de governança têm na saúde, é dever de qualquer instituição do setor colocar o ASG em sua estratégia, com metas, métricas, formas de avaliar e reportar os dados de forma transparente. Públicas ou privadas, filantrópicas ou não, organizações de saúde têm, antes de tudo, que louvar o motivo principal de sua existência: a entrega da saúde.

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Sidney Klajner é Cirurgião do Aparelho Digestivo e Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Possui graduação, residência e mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de ser fellow of American College of Surgeons. É coordenador da pós-graduação em Coloproctologia e professor do MBA Executivo em Gestão de Saúde no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Einstein.

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