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Lina Nakata

Uma importante discussão sobre mercado de trabalho e gênero

Mesmo com a escolarização feminina mais elevada que a masculina, ainda há uma disparidade de gênero no mercado de trabalho. Por quê?

Mulheres no trabalho

Políticas de transparência e equiparação salarial têm se tornado uma pauta mais frequente no governo e nas empresas | Foto: Getty Images

Desde 1999, no Brasil, as mulheres são a maioria dos formandos no ensino superior. Mesmo com a escolarização feminina mais elevada que a masculina, ainda há uma disparidade de gênero no mercado de trabalho. Por quê? Haveria vários fatores, que não são excludentes. Mesmo que a escolaridade formal seja superior para as mulheres, há dificuldades de conciliar os inúmeros papéis que são cobrados pelo trabalho do cuidado, que é invisível e não remunerado (cuidado com filhos, pais, familiares em geral), e esse trabalho de tempo parcial, ou mesmo informal, é o que acaba se encaixando na jornada do trabalho feminino. Também há preconceito, por parte de algumas pessoas, de contratar mulheres que possam eventualmente engravidar – nem mesmo se sabe da intenção ou qualquer outra informação! –, assim como o viés inconsciente de não considerar mulheres por falta de competência, que não é um fato.

Por esses e outros motivos, diversas mulheres passam a realizar trabalhos parciais. Pelo fato de as mulheres enxergarem múltiplos papéis a serem cumpridos, como de mãe, esposa, filha e outros, para conseguir colocar tudo na agenda, torna-se necessário, às vezes, reduzir o tempo de trabalho, sacrificando salário e chances de crescimento. Isso já acontece na Europa, em que muitos países permitem o trabalho de tempo parcial, de maneira bem mais ampla, mas elas dificilmente ascendem aos cargos mais altos.

E qual seria a razão de vermos menos mulheres em cargos de gerência? Muitas vezes, quando uma mulher é avaliada para um passo seguinte na carreira, os outros que avaliam costumam pensar “falta mais uma competência ou habilidade, vamos esperar”, e para os homens, esses avaliadores costumam pensar “falta essa competência ou habilidade, mas ele consegue se virar e se adaptar”. Com isso, a ascensão das mulheres é mais lenta. Mulheres CEOs levam muito mais tempo para alcançar esse cargo e os vieses atrapalham também para os cargos de liderança em geral. Quanto mais conhecimentos tivermos sobre esses fenômenos, mais vamos evitar essa falta de mulheres nos cargos de liderança.

Um ponto positivo recente é que políticas de transparência e equiparação salarial têm se tornado uma pauta mais frequente no governo e nas empresas. Essa perspectiva é positiva, pois pode ser uma tendência para a real solução do gap salarial. Nos últimos anos, observamos uma melhoria, pois a diferença salarial entre homens e mulheres era de quase 30% há cerca de 15 anos, foi para 20% em 2019, mas regrediu para 22% em 2021, em plena pandemia. Neste 8 de março de 2024, o IBGE apresentou o novo número de 21%. Isto é no geral, para o Brasil. Quando falamos de cargos de gerência, essa diferença é maior; nos cargos mais elevados, a diferença salarial é de até 50%. As políticas de transparência certamente contribuem para um equilíbrio maior, o que já acontece em alguns países do mundo.

No entanto, apesar de tudo, observa-se a influência na mentalidade da sociedade o fato das mulheres realizarem quase o dobro do trabalho de cuidado que os homens realizam e, muitas vezes, deixam seus empregos quando há crianças na família. O grande impacto é a desproporção que observamos no mercado, até porque a renda da trabalhadora que é mãe se reduz drasticamente, na média. As mudanças ainda serão lentas, pois o trabalho de cuidado faz parte da cultura de algo maior. Ações afirmativas, leis e várias outras práticas são possíveis de serem criadas para melhorar esse cenário. A educação de crianças – meninos e meninas – pode fazer a diferença.

Outro ponto crítico é quanto à questão de preconceito no mercado com mulheres que têm filhos. Há um grande preconceito e discriminação contra mães, por entenderem que podem se ausentar mais ou dar menos foco ao trabalho. São mitos, pois as mulheres com filhos são mais produtivas, quando falamos em eficiência, além de criarem muitas competências da maternidade, como a paciência, a resiliência e a criatividade. E são muito mais fiéis aos seus empregadores!

Finalmente, destaco que sempre há uma perspectiva de melhoria desse cenário. Vejo que várias empresas já têm conscientizado melhor seus funcionários, homens e mulheres, para que trabalhem melhor com seu papel na família e na empresa, para que atuem de forma equilibrada com suas equipes e para que busquem uma liderança balanceada de gênero. Isso gera muitos resultados financeiros para as empresas!

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Professora e pesquisadora da FIA Business School, co-presidente da Professional Women Network (PWN-SP), diretora de marketing da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração e diretora de carreiras da Sempre FEA. Leciona também na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Insper, ESEG e Uneed.

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