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Stephan Kautz

Inflação global deve desacelerar em 2022

Fim de estímulos fiscais, aumentos de juros e acomodação do crescimento diminuem a pressão sobre a inflação na economia mundial

navio cargueiro

Custos de transporte e tempo de translado de bens no comércio global já mostram sinais de normalização | Foto: Getty Images

Apesar da forte aceleração nos últimos meses, a inflação global começa a dar sinais de acomodação. A alta nos preços de commodities, tanto alimentícias quanto industriais, teve impacto relevante nos indicadores de preços. A demanda robusta gerada pelos programas sociais implementados ao longo da pandemia, caracterizados por polítcas de transferência de renda, permitiram um repasse dessas pressões de aumentos de custo para os preços aos consumidores.

Além disso, pela característica da pandemia, com a dificuldade de consumo de serviços, o setor de bens enfrentou uma “tempestade perfeita”, de demanda crescente e dificuldade de oferta.

No entanto, acreditamos que esses dois fatores começam a se normalizar, e devem ajudar a diminuir a inflação ao longo de 2022. O gráfico abaixo mostra uma queda nos preços das commodities agrícolas, enquanto no lado industrial ainda não há sinais de melhora. Além disso, a mudança na composição do consumo já começou a ocorrer, especialmente nos países mais avançados na vacinação, com recuperação gradual do setor de Serviços.  

Os custos de transporte, assim como o tempo de translado de bens, também mostram sinais de normalização. O primeiro gráfico abaixo mostra o custo do frete das principais rotas marítimas, entre a China e a Europa e Estados Unidos. Apesar de ainda não haver uma forte queda, os sinais recentes são de uma estabilização nesses preços. No segundo gráfico, podemos notar que o volume de mercadorias transacionadas nos portos americanos da California tem atingido valores recordes, acima da tendência de longo prazo. Finalmente, as encomendas para as festas de final de ano estão em transporte nesse momento, o que sugere a possibilidade de menor pressão na cadeia de distribuição ao longo dos próximos meses, especialmente na virada para 2022. Menores custos e menos atrasos também devem ajudar na redução dos custos finais dos produtos.

Políticas expansionistas implementadas durante a pandemia já começaram a ser retiradas. Diversos países implementaram amplos programas de transferência de renda e garantia de empregos, especialmente nas economias mais desenvolvidas. Além disso, os bancos centrais cortaram as taxas de juros às mínimos históricas e anunciaram programas de compras de títulos públicos e privados. A injeção de liquidez global ajudou em uma rápida recuperação da atividade, levando diversas economias próximas à tendência de crescimento registrada antes da pandemia. Com as pressões de inflação recentes, os bancos centrais começaram a sinalizar a redução nos estímulos, especialmente entre os países desenvolvidos, enquanto entre as economias emergentes podemos observar os bancos centrais subindo as taxas de juros nominais. Junte-se a isso os menores gastos fiscais ao longo dos próximos meses, e uma acomodação do crescimento será esperada, diminuindo a pressão sobre a inflação.

A inflação deve permanecer alta até o 1Tri22, com posterior desaceleração. Os fatores acima nos levam a concluir que as atuais pressões inflacionárias são mais duradouras do que o inicialmente esperado, porém não representam uma mudança estrutural na perspectiva para os preços em 2022. A desaceleração da China deve levar a preços de commodities mais baixos. O aperto monetário dos países emergentes, com menores estímulos fiscais nos desenvolvidos, devem gerar um crescimento mais próximo ao potencial no ano que vem. A mudança na composição da cesta de consumo das famílias irá gerar uma desaceleração na inflação de bens, enquanto poderemos observar uma inflação de serviços mais alta. Com isso, as cadeias de distribuição globais poderão normalizar os prazos de entrega, com menores custos de transporte. Assim, as mudanças trazidas pela pandemia que podem levar a uma inflação mais alta ao longo dos próximos anos só devem se manifestar, caso ocorram, ao longo do tempo, enquanto a inflação de 2022 devem mostrar tendência de desaceleração em relação ao observado em 2021.


Stephan Kautz é economista no Banco Safra. Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em Economia pela University of Birmingham (UK) e atua no mercado desde 2000.

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