Fala-se muito sobre a força do consumo nos EUA, mas vale a pena olhar o está acontecendo com o investimento. O serviço de estatística americano (BEA) tem informações detalhadas e atualizadas que mostram que o total de investimento não residencial nos EUA no quarto trimestre de 2023 (anualizado) somou $ 3.7 trilhões (160% do PIB brasileiro em 2023), com destaque para o investimento em propriedade intelectual ou “IP” ($ 1.5 tri).
Como o meu colega no Safra Eduardo Yuki também tem destacado, esse investimento em IP, que inclui software ($ 0.8 tri), outro R&D ($ 0.6 tri) e produtos culturais, como cinema e música ($ 0.1 tri) cresceu em termos reais 28% nos últimos 4 anos, com software (incluindo inteligência artificial) crescendo 52%.
Apesar da grande demanda, o preço (deflator) de software tem subido pouco desde a covid-19 (5% de 2019q4 a 2023q4), em contraste com o deflator de estruturas (34%) ou do PIB americano (23%).
A grande novidade do investimento nos EUA em 2023 foi nas estruturas para o setor manufatureiro, especialmente as fábricas de chips e as associadas às novas energias. Esse investimento ($140bi) dobrou em 2023 em relacao à média histórica, estimulado pelos programas de governo; o investimento em petróleo está parecido com o nível em 2019, mas 45% menor do que em 2014 a preços constantes.
Em suma, a politica monetária tem moderado o investimento tradicional (residencial, escritórios, equipamentos, etc) e a demanda por trabalho, mas a necessidade de aumentar a produtividade do trabalho dado o descompasso entre oferta e demanda nesse mercado que ainda persiste e os estímulos do governo para a transição energética e independência tecnológica têm impulsionado o investimento em software e fábricas nos EUA.