O fim da disputa pelas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal marcará o início da corrida sucessória pelo Palácio do Planalto, quando, então, o governo e as oposições definirão seus passos a partir de suas respectivas prioridades.
Seria fácil entender esse processo se as forças políticas se abrigassem em poucos blocos. Mas não é assim. Além da existência da conhecida fragmentação partidária, os maiores partidos são fragmentados em si mesmos, por conta, por exemplo, de interesses regionais. Daí ser grande a confusão.
Hoje temos um quadro de aglutinação política em torno do presidente Jair Bolsonaro, que, apoiado por sua popularidade e pelo controle da máquina pública, surge como potencial favorito nas eleições presidenciais de 2022. Nas oposições, temos diversos nomes, mas nenhum candidato real.
O centro político aguarda uma decisão do apresentador de TV Luciano Huck quanto a sair ou não candidato, decisão que ele está demorando a tomar.
João Doria, governador de São Paulo, parece ser o candidato mais bem posicionado pelo centro. Especialmente após seu bom desempenho inicial na questão das vacinas contra a covid-19. Seu nome, porém, aparece com pouca preferência nas pesquisas e não é unanimidade entre seus pares.
Nas esquerdas, o quadro é ainda mais confuso. Com o PT enfraquecido, os demais partidos almejam liderar uma frente contra Bolsonaro e vários nomes são cogitados.
O mais bem posicionado é Ciro Gomes (PDT), que, por outro lado, não é bem visto nas demais forças. O PSOL almeja repetir a trajetória do PT, insistindo em Guilherme Boulos para, quem sabe, um dia – após muita persistência –, ganhar as eleições.
Mesmo com o desempenho errático da economia, a ausência de narrativas claras em torno da saída da atual crise econômica decorrente da pandemia e a inconsistente política de vacinação adotada pelo governo, Bolsonaro larga na frente.
Mas não será um passeio no parque. Bolsonaro tem, dentro de si, o seu mais duro adversário. Sobretudo por demorar a perceber a dinâmica das mudanças na cena política e econômica e dar preferência ao seu voluntarismo. Parece faltar-lhe aconselhamento realista e pragmático.
A menos de dois anos das eleições, o tempo para consolidar candidaturas é curto. No entanto, pelo fato de o cenário econômico e político estar bastante instável devido à pandemia, surpresas podem ocorrer. Como dizia Machado de Assis, por meio do personagem Conselheiro Aires, o acaso sempre tem um voto decisivo na assembleia dos acontecimentos.