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Claudio L. Lottenberg

Open Health será consequência inevitável do avanço digital

Elaborar regulamentações e reforçar segurança precisam ganhar velocidade, porque a chegada da integração virá

Open Health

O avanço da inteligência artificial, o Big Data e dispositivos cada vez mais potentes e portáteis caminham rumo à integração das informações de saúde | Foto: Getty Images

Open Health pode soar como mais um daqueles neologismos originados na informática que invadem o nosso discurso diário. Alguns termos acabam se incorporando de tal forma às conversas, ao noticiário, mesmo à música popular e outros produtos culturais que os assimilamos quase sem perceber. Só quando paramos para pensar neles é que descobrimos que os conhecemos muito pouco (às vezes, nem isso). Mas trata-se de um conceito que vai acelerar a evolução dos serviços de saúde – e melhorar a experiência do paciente. Então é bom que nos detenhamos para considerá-lo mais um pouco.

Já circulam outras “aberturas”, em setores diferentes, como no setor bancário, no de seguros e até o muito salutar Open-Access – ou, já em versão em português, Acesso Aberto. Este último, embora semelhante no nome, tem natureza diferente dos dois primeiros, mas merece a menção: seu objetivo é tornar acessíveis publicações científicas, para disseminar o conhecimento o mais possível. O Open Health tem a ver principalmente com os dados do paciente. Trata-se de fazer a integração dos dados de saúde de alguém em uma plataforma a que os diferentes atores do ecossistema de serviços de saúde – operadoras de assistência médica, hospitais, centros clínicos, laboratórios, entre outros – terão acesso.

A falta de um prontuário unificado pode levar a retrabalho – como pedir ao paciente informações que ele já terá prestado em outras ocasiões. Isso, por sua vez, abre espaço para erros e demoras. Cada serviço de saúde com que a pessoa entra em contato é uma “estreia”, por assim dizer: tudo está sempre começando de novo. Em um cenário que cada vez mais coloca a jornada do paciente no centro, tentando proporcionar a ele a melhor experiência possível, isso é bem pouco atrativo. Com acesso ao histórico do paciente, tratamentos a que se submeteu e prescrições anteriores, a margem para erros vai sem dúvida ficar muito menor.

O Open Health dará até ao próprio paciente acesso a suas informações sem necessariamente ter que ir a um hospital, ou que pedir a um médico. Mal comparando, seria algo como o aplicativo de seu banco, no qual o cliente pode conferir diversas informações financeiras. Tudo em tempo real, estarão ao seu alcance registros médicos eletrônicos, diagnósticos, resultados de exames, prescrições e diversos outros dados de saúde. Não é uma prática com que as pessoas estejam acostumadas.

Sendo dessa forma abertos, os dados poderão ser compartilhados com muito mais facilidade. Quando estiver em consulta com um médico diferente do habitual, não serão necessárias entrevistas longas, sujeitas inclusive a eventuais falhas de memória do paciente. Coordenar trabalhos ganhará imensamente em eficiência com isso: todos os profissionais envolvidos estarão “na mesma página”, por assim dizer.

E um dos aspectos que talvez possa ter maior apelo tanto para o paciente como para o profissional de saúde será a personalização do tratamento: cada paciente terá indicações mais bem adequadas para si.

Há ainda um caminho a ser percorrido quanto a regulamentações e reforços de segurança de dados. Um efeito colateral negativo de tanta digitalização da vida é o ainda haver brechas que podem ser exploradas para violar a privacidade dos dados. Os sistemas hoje existentes já são bastante seguros – tanto que entram em operação e deles fazemos uso no dia a dia. Mas à medida em que a tecnologia avança, a necessidade de se garantir que o ambiente digital é seguro vai crescer.

O Open Health, de todo modo, é a bem dizer uma inevitabilidade. O avanço da IA (inteligência artificial), a relevância cada vez maior do Big Data para decisões estratégicas e de investimento seja no setor público, seja na iniciativa privada, dispositivos cada vez mais potentes e portáteis e outros avanços levarão à integração das informações de saúde. Para nem lembrar de como isso reduzirá custos para empresas de saúde e para os cofres públicos. Assim como hoje pode ser difícil imaginar o que era a vida antes da eletricidade, no futuro talvez a dúvida venha a ser como podíamos viver no passado sem o Open Health.

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Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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