A Covid-19 marcou 2020 com quase 200 mil mortes e uma súbita contração do PIB. Mas o ano também será lembrado pela velocidade da recuperação econômica na esteira do extraordinário impulso fiscal e monetário que houve. Assim, apesar do PIB do ano cair 4,1% em relação a 2019, alguns setores, especialmente na indústria, já terão operado no último trimestre em níveis mais altos do que antes da Covid-19.
No atual estágio da recuperação econômica, o PIB de 2021 será 3,6% maior do que o de 2020, mesmo que a atividade fique no mesmo nível ao longo do ano. Mas é provável que, depois de superar a retração fiscal do começo do ano, a atividade acelere, levando o PIB a crescer 4,2%, superando no agregado o nível de 2019.
Parte do crescimento em 2021 deverá vir do setor de serviços, o que menos se recuperou até agora. Estimamos que ele se expanda 3,8% esse ano, já que em novembro passado ele ainda estava 4,8% abaixo do nível do final de 2019, com grande dispersão entre segmentos.
O segmento de serviços prestados às famílias—que inclui alimentação fora de casa—estava, por exemplo, 26,2% abaixo de 2019, apesar de crescer 8,2% no mês. Por outro lado, os serviços de informação e comunicação já tinham ultrapassado 2019.
Acompanhar o setor de serviços é importante porque é nele que está boa parte da ocupação informal, inclusive de trabalhadores por conta própria. Comparando com a época pré-covid, há alguns milhões de trabalhadores informais que ainda não voltaram a ter uma ocupação, apesar de 2020 ter fechado quase sem perda líquida na parte de carteira assinada. Muitas pessoas vulneráveis economicamente dependem de ocupações informais, e há dificuldade para o governo proporcionar um auxílio para elas em 2021. Será necessário a economia crescer.
O desafio do crescimento em 2021 é como o daquela bola de plástico que, solta no fundo da piscina, começa a subir cada vez mais rápido até chegar à superfície. Nesse momento, o empuxo acaba e a bola começa a desacelerar até cair de volta na água e ficar apenas flutuando se não houver novo impulso. Então, se reformas não derem novo fôlego à economia brasileira, ela vai ficar só “andando de lado”, mesmo com os preços das matérias primas continuando em níveis tão altos como os atuais.
Andar de lado não é uma boa proposta para o Brasil. Temos uma juventude mais preparada do que em gerações anteriores, mais integrada com o mundo, e com muitos sonhos. Temos então que ter certa ambição, até porque várias economias emergentes devem ter um 2021 bem melhor do que 2019 (tabela abaixo) e não queremos ficar para trás.
A Ásia, onde o impacto da pandemia foi menor do que na América Latina, vai ter genuíno crescimento em 2021, com a maioria dos países acabando esse ano com a suas economias alguns pontos acima de 2019. Um bom exemplo é a Indonésia, um país 30% mais populoso que o Brasil, em um território muito menor e fragmentado em centenas de ilhas. Eles iniciaram a vacinação’’ em janeiro (começando pelo Presidente Widodo) e devem crescer 5% em 2021, apesar de só terem contraído 2% em 2020. Parte desse crescimento vai ser alavancado por um conjunto de reformas aprovadas durante a pandemia visando permitir o país continuar se beneficiando do dinamismo daquela região do globo.
Uma boa notícia para o esforço do Brasil acompanhar o crescimento de outros países emergentes é que os juros baixos estão ajudando nossos investimentos.
Apesar da pandemia, houve expansão das vendas no setor imobiliário (24,6% até outubro), o qual deve crescer 8% em 2021 com auxílio do crédito. Dentro da indústria, o setor de bens de capital já estava em novembro passado 28% acima de dezembro de 2019, refletindo uma expansão bem espalhada na produção de máquinas e equipamentos, aparelhos elétricos e de informática, além de tratores e caminhões.
Esse ano deve trazer mais 6,3% de crescimento ao setor. Além disso, a infraestrutura começa a se beneficiar dos avanços no setor de saneamento.
Agora a prioridade deve ser fazer como alguns países asiáticos e avançar nas reformas que se identificam como mais urgentes para aproveitar a retomada da economia global, enquanto os juros curtos não sobem no resto do mundo.