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Ilton Caldeira

Impacto global da alta dos títulos do Tesouro dos EUA

Melhora no retorno dos títulos do Tesouro dos EUA pode agravar fuga de capitais, depreciação do real e pressões inflacionárias

Treasuries

Tensões geopolíticas, inflação em níveis ainda elevados e indicadores econômicos influenciam preços dos títulos do Tesouro dos EUA | Foto: Getty Images

No mundo financeiro, temos acompanhando grandes oscilações nos retornos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Desenvolver uma compreensão de como isso afeta os preços dos ativos em todo o mundo, inclusive no Brasil, requer uma análise um pouco mais detalhada.

Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos sempre foram considerados investimentos muito seguros, porque levam o selo de confiança de quem os emite: o governo Americano. Por isso, são utilizados como referência em carteiras de baixo risco e têm um papel importante nos mercados financeiros globais.

No entanto, alguns acontecimentos recentes têm mexido com a precificação desses títulos. Algumas decisões do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, como elevações nas taxas de juros e programas de compra de ativos, têm afetado bastante os retornos desses papéis. Além disso, tensões geopolíticas, inflação em níveis ainda elevados, e outros indicadores econômicos também influenciam nos preços.

Durante a pandemia da COVID-19, os bancos centrais, incluindo o Fed, adotaram políticas monetárias que reduziram as taxas de juros para níveis historicamente baixos. Mas conforme as economias começaram a dar sinais de recuperação, ampliando as preocupações inflacionárias, as taxas de juros e os retornos dos títulos do Tesouro começaram a subir, especialmente nos prazos mais longos.

Essa alta na remuneração teve um grande impacto nos preços dos ativos em todo o mundo. As ações, especialmente de empresas ligadas ao crescimento econômico e ao consumo, sofreram pressão de baixa, já que os títulos do Tesouro se tornaram, comparativamente, mais atrativos.

Além disso, com um cenário assim, países emergentes como o Brasil podem ver com mais frequência movimentos de saída de capital, conforme os investidores tracionam portfólios para títulos do Tesouro dos EUA.

Essa relação entre o retorno oferecido pelos títulos do Tesouro e os preços dos ativos vai além do mercado de ações. O setor imobiliário também sofre os efeitos. Taxas de hipoteca aumentam junto com a remuneração dos títulos do Tesouro, o que pode reduzir a demanda por imóveis, especialmente os com financiamento em prazos mais longos. Outros ativos, como o ouro, por exemplo, com grande demanda como proteção em tempos de crise, também podem sentir fortes oscilações de preços no curto prazo enquanto os investidores reavaliam suas carteiras.

As mudanças no prêmio oferecido pelos títulos do Tesouro também afetam o mercado de câmbio e as cotações de moedas estrangeiras. Um dólar americano mais forte, muitas vezes acompanhado de maiores retornos nos títulos do Tesouro, pode pressionar as moedas de países emergentes, incluindo o real brasileiro. Isso pode gerar impactos na corrente de comércio internacional do país e na inflação.

Melhor retorno dos títulos do Tesouro dos EUA afeta o Brasil

O Brasil está conectado aos mercados financeiros globais, e os preços dos seus ativos, as taxas de câmbio e as taxas de juros locais também são influenciados pelos títulos do Tesouro dos EUA e pelas estratégias e tendências econômicas globais.

Uma melhora no retorno dos títulos do Tesouro dos EUA, por exemplo, pode piorar os problemas existentes para o Brasil, como fuga de capitais, depreciação do real e pressões inflacionárias, principalmente de produtos e insumos importados e com cotação em dólar. Além disso, custos mais altos de empréstimos, devido a maiores taxas de juros globais, podem limitar a capacidade do Brasil de se financiar e de estimular o crescimento econômico.

Assim como os Estados Unidos e muitos outros países no mundo, o Brasil também emite seus próprios títulos do Tesouro. Portanto, mudanças nas cotações globais e no apetite dos investidores por papéis da dívida podem afetar os preços e a demanda por esses títulos, o que impacta os custos de empréstimos e a liquidez geral do mercado interno brasileiro.

A ata do Fed, divulgada no dia 21 de fevereiro, mostra um tom de preocupação dos formuladores de política econômica americana em relação à incerteza associada a quanto tempo uma postura restritiva da política monetária precisaria ser mantida para retornar a inflação à meta de 2%.

A taxa de juro de referência segue no intervalo entre 5,25% e 5,50% nos EUA. O presidente do Fed, Jerome Powell, na sua conferência de imprensa em 31 de janeiro, já havia descartado, antecipadamente, a possibilidade de corte nas taxas de juros na reunião do comitê em 19 e 20 de março.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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