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Presidente do Banco Central defende disciplina fiscal

Campos Neto afirma que muitas vezes os países tentam fazer mais na área social, mas acabam fazendo menos, pelo custo da incerteza fiscal

Campos Neto

O discurso de Campos Neto acalmou o mercado e a Bolsa de Valores voltou a subir | Foto: Estadão Conteúdo

Após críticas do presidente eleito da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à reação na Bolsa das declarações sobre responsabilidade fiscal, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o mercado não é um monstro, mas sim uma máquina que aloca os recursos da economia.

Durante participação em evento na agência de notícias Bloomberg, ele voltou a dizer que a disciplina fiscal e a preocupação social devem caminhar juntas, e é preciso mostrar a investidores essa convergência. “Se acreditarmos que convergência não acontecerá por fiscal, vamos reagir”, afirmou. Ele observou que a população pobre é a mais prejudicada quando as condições são adversas.

“É importante ter disciplina fiscal e olhar para o social”, reforçou Campos Neto. “O Brasil tem o desafio de comunicar que tem disciplina fiscal”, acrescentou, destacando que a incerteza, além de restringir o espaço para gastos, exerce papel relevante na nossa ação da autoridade monetária.

O presidente do Banco Central afirmou que subsídios ao crédito, como os que marcaram a gestão da ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT), afetam o arcabouço fiscal, com implicações na política monetária. Campos Neto observou que o crédito subsidiado tem impacto no juro neutro. “Se voltarmos a ambiente em que bancos públicos fazem muito crédito subsidiado, mudaria nosso arcabouço”, comentou o presidente do BC.

Ao destacar diversas vezes o ambiente de elevadas incertezas, o presidente do BC declarou que, diante das notícias sobre a vontade do governo de gastar mais do que o esperado, é preciso aguardar o que será aprovado.

“Será importante não apenas o arcabouço fiscal, mas também as expectativas do mercado sobre esse novo arcabouço. Temos que aguardar”, afirmou Campos Neto.

Efeito da alta dos juros vai persistir em 2023, afirma o presidente do BC

O presidente do Banco Central disse que parte dos efeitos do aperto monetário vai acontecer no ano que vem, levando a uma desaceleração da atividade econômica. “Achamos que o crescimento do Brasil vai desacelerar em 2023”, projetou. Embora existam alguns sinais positivos na inflação de serviços subjacentes, Campos Neto reforçou a necessidade de o BC persistir no combate à inflação. O discurso acalmou o mercado e a Bolsa de Valores voltou a subir.

Ao participar de evento da Bloomberg, Campos Neto avaliou que a melhora da força de trabalho foi beneficiada por efeitos da reforma trabalhista, mas está se aproximando de um ponto de inflexão. Por outro lado, ele apontou um impacto positivo na produção vindo das reformas feitas no País.

Campos Neto pediu diversas vezes que a disciplina fiscal caminhe junto com a responsabilidade social. Ele disse que muitas vezes os países que tentam fazer mais em programas sociais acabam “fazendo menos”, dado o impacto das incertezas fiscais nos preços.

“Você acaba tendo uma desorganização nos mercados e, no fim, afeta mais aqueles que desejava ajudar”, declarou o presidente do BC. “É um desafio, não só no Brasil, mas também em outros países, ser responsável fiscalmente e endereçar o problema social”, acrescentou.

‘Autoridade monetária vai garantir estabilidade dos preços’

Campos Neto considerou ser prematuro falar sobre dominância fiscal no Brasil, e assegurou que a autarquia vi fazer o que for necessário para cumprir seu mandato de estabilidade de preços.

Ao destacar diversas vezes o ambiente de elevadas incertezas, o presidente do BC declarou que, diante das notícias sobre a vontade do governo de gastar mais do que o esperado, é preciso aguardar o que será aprovado.

“Será importante não apenas o arcabouço fiscal, mas também as expectativas do mercado sobre esse novo arcabouço. Temos que aguardar”, afirmou Campos Neto.

O presidente do BC fez comentários sobre impactos de juros subsidiados sobre a eficiência da política monetária. “Queremos ter mais crédito livre e menos crédito direcionado”, declarou.

O presidente do Banco Central iniciou sua apresentação apontado as origens da inflação mais persistente no mundo. Segundo Campos Neto, embora o Brasil tenha investido em reformas nos últimos três anos, outros grandes países perderam apetite em realizar reformas estruturais, ao mesmo tempo em que as políticas monetárias e fiscais passaram a ser mais acionadas para sustentar as economias.

Ele pontuou que os economistas tiveram dificuldade em antecipar os efeitos da injeção de US$ 3 trilhões no mundo para resgatar a economia do impacto da pandemia, levando a uma migração da demanda para bens de consumo, com consequências na demanda por energia.

O presidente do BC sustentou que, ao mesmo tempo em que a inflação ainda merece atenção, os arcabouços fiscais deveriam ter limites para garantir a estabilidade, já que os países precisam agora pagar a conta da crise sanitária e suas consequências nas dívidas dos países. Os mercados, observou Campos Neto, estão agora interessados em saber qual o plano dos países para a convergência da dívida.

Precificação de Selic mais alta

Campos Neto disse que a precificação de uma Selic mais alta pelo mercado se deve a incertezas fiscais. “É muito difícil para os mercados entender qual será o arcabouço fiscal à frente”, comentou, acrescentando que o ano deve fechar com números melhores do que o esperado nas contas públicas. “A fotografia do fiscal é boa, mas o problema é que grande parte dos programas está se tornando permanente.”

Sugerindo que seria importante uma coordenação de política monetária e fiscal neste estágio do ciclo, Campos Neto ponderou que o cenário do BC pode mudar a depender do que for decidido em relação ao arcabouço fiscal.

Depois de o Brasil ter sido “muito rápido” na alta dos juros, Campos Neto afirmou que parte dos efeitos do aperto monetário vai acontecer no ano que vem. O presidente do BC comentou que a maior parte do alívio da inflação se deve à desonerações, e mesmo com alguma melhora qualitativa da inflação no Brasil não há razão para celebrar neste momento. (AE)

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