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Aranha gigante de Louise Bourgeois vira metáfora da inflação global

Economista-chefe do banco J. Safra Sarasin cita o preço da escultura de bronze vendida por R$ 164 milhões como exemplo da queda da inflação

aranha gigante Louise Bourgeois

“O preço da aranha caiu, assim como a inflação nos EUA, mas R$ 164 milhões ainda é muito dinheiro para uma aranha”, afirma Karsten Junius | Foto: Reprodução

A aranha gigante da artista franco-americana Louise Bourgeois virou metáfora do que está acontecendo com a inflação global. A escultura ficou famosa por passar décadas em exibição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, e foi leiloada em maio deste ano por US$ 32,8 milhões na Sotheby’s de Nova York. O valor equivale a cerca de R$ 164 milhões e ficou abaixo da expectativa do mercado, pois em 2022 outra aranha semelhante da mesma artista foi vendida na Suíça por US$ 40 milhões, o equivalente hoje a R$ 200 milhões.

A queda de preços da escultura mundialmente famosa foi citada por Karsten Junius, economista-chefe do J. Safra Sarasin, em palestra para executivos e investidores na J. Safra Brazil Conference. “Observando essa redução do preço da escultura a gente pode chegar à conclusão de que estamos numa desinflação, mas ao mesmo tempo você pode dizer que ainda é muito dinheiro para uma escultura de uma aranha, e essa é a situação em que nos encontramos com as taxas de inflação global no momento”, comparou. “As taxas de inflação global baixaram de um nível extremamente alto, mas ainda são muito, muito elevadas”.

Aranha gigante símbolo da inflação mundial morou 20 anos no Parque do Ibirapuera, no MAM

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O mercado internacional de arte esperava um preço maior para a aranha leiloada este ano, não apenas pela correção monetária, mas por que a escultura de bronze foi a primeira feita por Louise Bourgeois. Mas, mesmo deflacionada, a venda foi a mais cara de uma obra da artista e também a de valor mais elevado para uma escultura de uma mulher na história da arte.

Boas notícias para a economia global

Segundo o economista-chefe do J. Safra Sarasin, a boa notícia sobre a inflação global é que muitos dos seus efeitos transitórios estão desaparecendo. Ele lembrou o caso do navio cargueiro Ever Given, um dos maiores do mundo, que ficou seis dias encalhado no Canal de Suez em março de 2021, bloqueando o tráfego marítimo através da principal via de comércio global. A indústria mundial também não enfrenta mais os problemas de escassez de componentes que elevaram os preços durante a pandemia.

Outro fator é que os padrões de consumo também estão normalizando, segundo a análise do economista. Durante a pandemia, o consumo de bens ficou acima das tendências de longo prazo, enquanto o consumo de serviços ficou abaixo das tendências. Esse descasamento da oferta e demanda de bens causou inflação, segundo ele, e agora a economia volta aos padrões normais.

Uma terceira tendência foi mais sentida na Europa, onde os preços do petróleo e do gás subiram após a invasão da Ucrânia pela Rússia. “Os preços explodiram a enfrentamos um grave risco durante o inverno europeu, por falta de gás para sistemas de aquecimento”.

O fim dos três fatores levaram a taxas de inflação mais moderadas atualmente, mas ele lembra que o núcleo da inflação ainda preocupa, e a tendência de baixa deve ser lenta. “Esse é o maior problema que os mercados financeiros vão enfrentar nos próximos meses, e o cerne do problema é que o mercado de trabalho nos Estados Unidos e na Europa, que estão muito aquecidos, com taxas de desemprego em níveis mínimos e as empresas enfrentam dificuldades para encontrar mão-de-obra”.

A situação é diferente no Brasil, afirma Karsten Junius, que avaliou a dificuldade das autoridades monetárias no mundo. “É muito difícil para os bancos centrais enfrentar uma situação como essa, pois trata-se de uma inflação de oferta, e não da demanda, que pode ser contida com alta de juros”, diz o economista. “A impressão é de que eles não sabem exatamente a receita para usar nesses casos”.

Segundo ele, é difícil conter a alta de salários nos Estados Unidos no momento. Ele cita a greve de metalúrgicos nos Estados Unidos, onde os sindicatos pedem 40% de reajuste salarial nos próximos 4 anos, com apoio do presidente Joe Biden. Ele lembrou que a meta da inflação nos Estados Unidos é de 2%.

Fatores que pressionam os preços globais

Desglobalizalização, mudanças demográficas e luta contra as mudanças climáticas também foram citados como fatores que pressionam a inflação, e que sempre são citadas pelos que defendem a necessidade de rever a meta de inflação para cima, como forma de evitar mais juros. Sobre a questão climática, ele comenta que o mundo enfrenta uma ‘climaflação”, ou seja, a inflação causada por secas ou fenômenos climáticos extremos que derrubam a produção agrícola.

Segundo o economista, o ‘arrocho’ dos Bancos Centrais deve prosseguir, ou seja, vão reduzir a oferta de títulos, não renovando os papéis no vencimento, o que deve elevar os juros. Ele cita o aperto no crédito nos Estados Unidos, que reduz os investimentos e ajuda a desacelerar a economia.

Na Zona do euro, ele diz que as melhores expectativas de crescimento são os países que estavam em pior situação antes da pandemia, como a Grécia, Itália e Alemanha. “Teremos um trimestre difícil de estagflação na Zona do Euro, mas por isso temos yelds (rendimentos) muito elevados, o que é uma ótima oportunidade de investimentos”, afirma. Ele cita também os bons ganhos com títulos no Brasil.

“A luta contra a inflação definitivamente não acabou, vamos precisar de altas de juros nos próximos trimestres. Para investimentos, os rendimentos vão continuar altos, elevando outras classes de ativos como no setor imobiliário, ou seja, temos grandes oportunidades de investimento nesse cenário”.

A aranha de Louise Bourgeois

Com três metros de altura e cinco de comprimento, a escultura da aranha Louise Bourgeois foi adquirida em 1996 pela Fundação Itaú, braço cultural do Itaú Unibanco. Na ocasião, a peça foi um dos grandes destaques da Bienal de São Paulo, o que levou à sua aquisição pelo colecionador e cofundador do banco, Olavo Setúbal.

A peça ficou conhecida por sua exibição no MAM de São Paulo, onde ficou exposta numa redoma do vidro entre 1997 e 2018, no parque Ibirapuera, onde o museu está localizado. Depois, passou a ser exposta em outros locais e esteve no museu Inhotim, em Minas Gerais, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Outras aranhas da mesma série estão hoje em exibição em alguns dos principais museus do mundo, como o Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, e a Tate Modern, em Londres.

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